Thread by @oswaldtoshiro

Os problemas de se levar a sério Darcy Ribeiro, Paulo Freire e outros:

- O Estado precisaria investir muito mais em escolas - muitas de turno integral -, em educação de qualidade, em bons salários para professores, em qualificação - cursos universitários - etc.

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- Para isso acontecer o Estado deve ter dinheiro. Esse dinheiro viria dos impostos, e seria cobrado de forma progressiva. Ricos pagariam mais impostos do que os pobres. Ricos teriam que saber que estão pagando mais impostos para bancar educação pública.

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- Aqui começam os conflitos. Rico pode pagar educação privada, particular. Não tem interesse em cooperar com educação pública. Seus filhos estudarão nas melhores escolas e, provavelmente, viverão no exterior em poucos anos.

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- O rico também é dono das escolas privadas. Ele tem todo o interesse de manter o sistema desigual para poder justificar o diferencial de qualidade entre o ensino público e o particular. No momento em que não houver mais diferença entre eles, o propósito do privado se desfaz.

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- Além disso, o rico que é rico vive em condomínios fechados, em grandes apartamentos de edifícios enormes, cercados por muros altos e segurança máxima. A violência causada pela falta de investimento em educação de base não o afeta.

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- O rico e a classe média também precisam que a desigualdade permaneça do jeito que está. Precisam do pobre para jardinar os enormes quintais de suas casas, precisa da mulher pobre para lavar suas roupas, precisa do pobre para entregar sua comida, etc.

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- Portanto, a ideia de educação de qualidade e gratuita para todos desde cedo torna-se um grande problema para o estilo de vida das camadas privilegiadas, por mais paradoxal que possa parecer.

É a desigualdade social que justifica toda uma cadeia de mercado e de vida.

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- O próprio setor de justiça é favorecido financeiramente pela desigualdade, pela pobreza e pela criminalidade. O que seria do setor prisional, dos advogados e de todo o setor de terceiros envolvidos monetariamente no jogo da criminalidade, inclusive o da segurança privada?

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- Não à toa os grandes defensores da austeridade fiscal, das privatizações, do estado mínimo e historicamente críticos ferrenhos dos 'gastos estatais' são políticos associados ao setor privado, como a meninada fiscalista do Novo e semelhantes.

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- O setor financeiro, espelho do conceito privatista e gerenciador das desigualdades, é também quem tem mais poder no país, seja em termos políticos ou econômicos. Defender os interesses das classes privilegiadas é seu lema, e isso significa manter tudo como sempre foi.

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- Volto então a Darcy Ribeiro e Paulo Freire. Fica fácil compreender porque suas ideias de libertação pela educação, de crítica social e de investimento máximo em educação pública são tão criticadas ou esvaziadas pelo poder financeiro que manipula a subjetividade coletiva.

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- Deixar com que a população entenda a real importância da educação pública - assim como de outros serviços - e, além disso, que saiba por que os ricos e as camadas dominantes mantêm o sistema funcionando para seus interesses, prejudicaria o funcionamento do mecanismo.

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- Por isso, historicamente é necessário calar quem avança e ameaça a manutenção do status quo financeirista/capitalista que mantém uma minoria sob o conforto do privilégio social e econômico e uma maioria explorada, pobre, que sobrevive como dá.

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- Daí vem a demonização de Paulo Freire e de todos que buscaram reduzir as desigualdades sociais. Daí também vem a própria ideia do 'comunismo universal', que faz com que tudo aquilo que questione o sistema capitalista atual e aponte alternativas seja considerado 'comunismo'.

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- Chega-se ao ponto da campanha de Trump acusar Joe Biden de ser comunista. Chega-se ao ponto de considerarem Ciro Gomes comunista.

O conceito de 'comunismo' passa a evocar os piores sentimentos humanos possíveis, também por conta de décadas de demonização.

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- Por isso até hoje há movimentos que servem ao sistema financeiro e às camadas privilegiadas que têm como função associar o conceito de comunismo e, por consequência, da própria esquerda, com pedofilia e satanismo, duas das ideias mais terríveis para a sociedade padrão.

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- Ao fazer isso, todos aqueles associados com a esquerda e com projetos sociais passam automaticamente a ser vistos como pessoas não respeitáveis, que possuem planos obscuros e que não pretendem o bem comum. No Brasil, o conceito de corrupção também foi carimbado na esquerda.

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- Ao longo das décadas o discurso dominante do capitalismo financeiro foi sendo absorvido pela mentalidade coletiva, o que permite que privatistas e grandes grupos financeiros possam operar de modo a ter a opinião pública ao seu lado.

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- E operam com tanta tranquilidade que conseguem fazer o pobre da favela apoiar o candidato que serve aos ricos ou aos bancos e fazê-lo crer que, se eleito, melhorará sua vida.

Enquanto isso, ideias como escola de qualidade de turno integral foram enterradas com apoio popular.