A fuga de cérebros é um problema gigantesco para o Brasil e todos os países dependentes. É um problema gravíssimo desde uma perspectiva econômica, política, tecnológica e de soberania nacional. Vamos falar do problema em si primeiro.
Os centros do imperialismo, como Estados Unidos e União Europeia, por sua posição de destaque na produção tecnológica mundial, são em si polos de atração de cientistas e pesquisadores do mundo todo (melhores salários, estrutura, condições de vida, maior prestígio etc.)
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Esses países, com destaque para os EUA, têm estratégias múltiplas de captação de talentos no mundo todo. É quase impossível um pesquisador brasileiro, por exemplo, realizar uma pesquisa de potencial valor patenteável e não receber um convite para trabalhar nos EUA.
Até onde estou informado, o escrito mais sistemático que Marielle Franco deixou com suas ideias é a sua dissertação de mestrado. Na pesquisa, Marielle faz um debate sobre NEOLIBERALISMO, Estado penal e as UPPs. Na reflexão de Marielle, fica claro que no fundamento de toda
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política de segurança pública temos um projeto de sociedade e de economia política. A dissertação de Marielle, muito bem fundamentada, mostra como não resolvemos o problema da segurança - e construímos outro paradigma de política no setor - sem um projeto político-econômico.
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Um projeto político-econômico alternativo ao neoliberalismo, baseado no interesse e na organização das classes trabalhadoras. Tudo isso está lá, escrito; ideias de Marielle. Me incomoda muito como alguns tratam sua figura como um símbolo sem lembrar das suas ideias.
O holocausto foi um dos genocídios no século XX. Teve massacre no Congo, na China, no Vietnã, na Argélia, no Quênia, na Armênia, na Europa Oriental etc. Para termos a dimensão da barbárie que foi o holocausto não é necessário reduzir a um evento único. Fazer isso é uma operação
que impede de entender plenamente o que foi o nazismo. Hitler, por exemplo, repetidas vezes comparava a sua "solução final" com o extermínio dos "peles vermelhas" nos EUA e com os massacres britânicos na Índia e China.
Outros quadros do nazismo, como Heinrich Himmler, comparavam a colonização da Europa Oriental e da Rússia (e o extermínio dos judeus na região) com o colonialismo clássico europeu na África.
Isso aqui é um falso debate. Colocar em termos abstratos ser oposição à esquerda ou não ao Governo Lula só oculta a questão central e concreta. E qual é a questão? Como enfrentar a extrema-direita. Aqui aparecem duas linhas: uma majoritária, outra minoritária.
A linha majoritária é só focar na crítica à extrema-direita, ignorando o neoliberalismo, os ataques ao povo trabalhador e normalizando tudo que vem do Governo - inclusive comemorando elogio de bancos, alta na Bolsa de Valores e boas avaliações do FMI, Banco Mundial etc.
A linha, totalmente minoritária, é a compreensão de que a melhor forma de combater a extrema-direita é fazer um combate conjugado ao neoliberalismo e ao fascismo, compreendendo os dois como duas cabeças do mesmo projeto, sabendo que não é possível defender democracia em abstrato.
Aproveitando a história do bombado traficando de crack, bora pensar uma questão. O Brasil é o segundo maior consumidor do mundo de cocaína, só perdendo para os Estados Unidos.
O que isso significa? Significa uma logística gigantesca.
Se liga.
O Brasil não produz cocaína. Isso significa que portos, aeroportos, transporte rodoviário e sobre trilhos são mobilizados para coordenar a importação de toneladas de drogas.
É o traficante da favela que comanda isso? Não.
Essa robusta rede logística, necessariamente, tem que operar subornos e burla de fiscalização e instituições múltiplas. Um comércio desse tamanho não funciona sem uma ampla rede de corrupção e subornos.
No festival Afropunk tinha uns letreiros políticos. Era uma série de bandeiras. Quais bandeiras? As bandeiras do "não". Não ao racismo, sexismo, machismo, homofobia, lesbofobia, capacitismo etc. Todas bandeiras válidas e indispensáveis. Mas vamos além.
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A propaganda escolhida pelo festival é um ótimo sintoma de uma tendência das esquerdas na América Latina, Europa Ocidental, EUA e Canadá. Não sabemos dizer o que queremos, seduzir, conquistar, encantar as pessoas. Apresentar um horizonte de felicidade e prazer.
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A tendência predominante é dizer o que não fazer. E veja, não tem problema em si nisso. É preciso na disputa política combater várias práticas atuais e apontar para comportamentos, práticas e noções naturalizadas que devem ser destruídas. Toda construção tem destruição também.