1/15 Que tal um 🧶 fio sobre #COVID19, etnia e Paradoxo de Simpson para enaltecer nosso final de semana? Vamos? 😄
Temos sido todos bombardeados com dados, gráficos e conclusões durante essa pandemia. É possível que você tenha visto notícias de que negros tem morrido mais q
2/15 brancos, o contrário, gráficos mostrando um dos dois casos, e é + q natural q tudo isso só tenha complicado nossas cabeças. Afinal, se tem um gráfico mostrando q morrem mais brancos, é porque pessoas brancas tem maior risco de morte por COVID19, né? Não? É? An?
3/15 Observe a figura abaixo. Ela diz q 35.3% dos casos de #COVID19 foram em brancos não hispânicos (em vermelho), enquanto que 49.5% dos óbitos foram neste grupo (em azul). Em outras palavras, essas imagens nos levam a crer que brancos ñ hispânicos acometidos por COVID19 tem
4/15 40% maior risco de morrer do q outros grupos étnicos. Será mesmo? É natural que pulemos em direção a conclusões assim que vemos uma evidência de algo, mas é importante manter a calma e refletir sobre o problema. Estamos falando de indivíduos cuja única diferença é a étnica?
5/15 Esses dados são do CDC americano e também é possível acessar os dados relativos à idade dos indivíduos acometidos por COVID19. Quando observamos por faixas etárias, em quase que todas elas temos uma menor taxa de letalidade entre brancos. PERA LÁ MARCEL!
6/15 Você deve estar pensado algo como: “Você está me dizendo que brancos não hispânicos morrem mais que os demais, mas se você olhar por faixa etária, brancos morrem menos que os demais?” Hm... Sim. Esse fenômeno é chamado Paradoxo de Simpson, em homenagem a Edward Simpson, quem
7/15 primeiro descreveu esse fenômeno em um paper na década de 50. Em poucas palavras, o paradoxo ocorre quando observamos uma tendência ao observar um dado por faixas/grupos, mas essa tendência desaparece ou é invertida quando combinamos os grupos. A menor taxa de letalidade por
8/15 faixa etária, a maior taxa de letalidade combinando as faixas etárias. Consegue ver o paradoxo? Mas e aí, é p/ estratificar por faixa etária ou ñ? Brancos ñ hispânicos tem maior ou menor risco q as demais etnias? Que tal refletir sobre a interação entre essas variáveis? 😊
9/15 É sabido q (1) a idade é um dos maiores fatores de risco associado à COVID19. As diferenças de taxa de letalidade entre as faixas etárias é gritante, então é razoável imaginar uma relação de causa e efeito entre a idade e a doença. Também sabemos que a expectativa de vida
10/15 varia entre as etnias. (2) Nos Estados Unidos, brancos vivem + tempo que pretos, por exemplo. 9% dos brancos tem mais de 75 anos nos EUA, contra apenas 4% dos pretos 3% dos hispânicos. Faz sentido supor que a etnia nos EUA te coloca em um cenário que causam essa diferença.
11/15 E por último, (3) também é possível ver uma diferença de qualidade de vida que, do mesmo modo que impacta a expectativa de vida, também impacta a saúde no geral, o que aumenta o risco de morte por COVID19. Com base nisso, podemos supor um diagrama causal como o da imagem
12/15 abaixo. Os números nas arestas (1,2,3) tem relação com a explicação acima p/ essas relações. Idade no nosso diagrama é um mediador, ou seja, ela media o efeito da etnia. Em casos do paradoxo de Simpson, geralmente nos deparamos com confounding, uma variável q, nesse exemplo
13/15 causaria a etnia e a morte. Portanto, podemos ficar tentados a achar que o correto é não estratificar e dizer que de fato são brancos não hispânicos quem tem maior taxa de letalidade. Aqui aponto a contribuição principal desse fio: COMO fazer a pergunta! Não estratificar
14/15 seria o correto caso nossa pergunta fosse sobre o efeito total de etnia em mortalidade por COVID. Nós queremos saber quem tem maior risco, uma pessoa branca não hispânica ou de outra etnia, o q inclui pessoas parecidas, e.g. em termos socioeconômicos e de saúde, mas que
15/15 diferem apenas etnicamente. Logo, procuramos o efeito DIRETO de etnia, o q nos leva a concluir q o + adequado é estratificar por idade. Fazendo isso, a taxa de letalidade é sim maior entre outras etnias e não a do branco não hispânico.
1/17 Prontos p/ mais um fio de #causalidade, #vieses e #guerra? Hoje vou contar p/ vocês a história de John Kragh, um cirurgião do exército americano, q ficou conhecido como “O cara do Torniquete”. P/ quem ñ conhece, o torniquete é um dispositivo qualquer utilizado para conter
2/17 hemorragias. Imagine q você teve um corte fundo no antebraço, e está sangrando muito! Um exemplo de torniquete seria amarrar algo acima do cotovelo para conter o fluxo sanguíneo e impedir q você morra por causa da hemorragia. Como esse tipo de episódio ñ é comum no nosso
3/17 dia a dia, ñ é comum vermos torniquetes sendo utilizados. Uma outra razão é q torniquetes ñ são recomendados, só é p/ utilizar em última instância! P q? Pela facilidade com q outros danos possam ocorrer, como necrose e perda do membro. Outras práticas são preferíveis. Certo
1/10 Já ouviu falar de viés de sobrevivência? Se já ouviu, muito provavelmente conheceu o conceito acompanhado da imagem abaixo. Durante a 2a Guerra Mundial, um estatístico chamado Abraham Wald recomendou reforço nas áreas com menos marcas de tiro nas aeronaves q retornavam do
2/10 combate. Talvez vc teria recomendado diferente. Isto é, reforçar as partes q estavam danificadas por muitos tiros. Qual o pulo do gato aqui? Se nenhuma aeronave retornava com tiros em uma região, é porque tiros naquela região tinham maior chance de abater a aeronave. Observe
3/10 q na imagem ñ há marcas de tiro onde o piloto fica ou nos motores. Adivinha, por ex, o q acontece se você destruir a cabine do piloto?😅 P/ quem gosta de DAGs, esse caso seria apresentado como na figura abaixo. Como apenas as aeronaves q retornavam eram analisadas, é como
1/8 Carl Sagan disse que "Não quero acreditar, quero saber", e estou junto a ele nesse desejo. No entanto, é fácil perceber como esse raciocínio pode passar uma ideia bem diferente para quem ñ tem treinamento científico. A ciência é um exercício de acreditar, seja nos resultados
2/8 dos estudos de outros autores, em pressupostos não verificáveis, ou mesmo na ausência de vieses de nossa parte. Não é uma crença cega, sem fundamento ou movida por emoções, isso sem chance de dúvidas não é (ou ao menos a ciência bem feita não é), mas depende de crença. Quem
3/8 é cientista sabe do que estou falando, mas com certeza para alguns pareceu nebuloso o que disse acima. Portanto, vamos a um exemplo. Imagine que você coletou alguns dados e fez algumas análises de estatística descritiva para checar algumas coisas. Você percebe que esses dados
1/11 Após escrever esse tweet, peguei-me pensando sobre muitas pessoas de fora da academia ñ saberem o q significa crença dentro da ciência. Isso me lembrou inclusive de um episódio do #SciCast (@PortalDeviante) que gravei há alguns meses onde brincávamos q iríamos falar sobre
2/11 crença, e o uso de um teorema matemático q usa crença para validar a hipótese de Jesus ter ressuscitado. Estou falando do Teorema de Bayes. Se quiser saber mais, recomendo ouvir o episódio! Ficou super legal. Se acha q estou brincando sobre a palavra deviante.com.br/podcasts/scica…
3/11 crença, trago aqui um print da página da Wikipédia. E digo mais, vai além disso! Em várias metodologias científicas nós utilizamos de pressupostos. Alguns pressupostos podem ser checados, de modo a identificar violações. Outros, NÃO. Ou seja, vai na base da fé. Por exemplo,
1/4 O cidadão liga para a assistência técnica de seu carro e conta a seguinte história pitoresca: Sempre que vou tomar sorvete de creme na sorveteria, meu carro tem dificuldade de ligar quando vou embora. O curioso é que se eu escolho qualquer outro sabor, o carro funciona normal
2/4 Já tentei vários sabores e o carro funciona normal, mas se eu escolho o bendito creme... Tenho dificuldade em fazer o carro ligar. O carro não gosta de sorvete de creme? 🤣 Quem me segue já está cansado da velha máxima, né? "Correlação não implica em causalidade". Após
3/4 investigação, os técnicos descobriram que havia uma peça superaquecendo. O sorvete de creme é o que mais saía, tinha um fluxo diferente. Imediatamente se recebia o sorvete após pagar, e a peça ainda estava quente. Os outros sabores demoravam mais para sair e era o tempo
É possível que tenhamos hoje o anúncio de uma das maiores evidências já obtidas por cientistas sobre vida em outro planeta. O curioso é que, se de fato for comprovado, esteve pertinho de nós o tempo inteiro. É no planeta que passa mais pertinho de nós, inclusive.