O Brasileirão vai esquentando e surge uma pergunta inevitável: onde estão os gols?
Algo vem acontecendo no futebol brasileiro — e não é de hoje. Algo grave e profundo. Aquela imagem do futebol alegre e ofensivo se esvai... Precisamos falar sobre isso.
Agora é a hora...
Algo vem acontecendo no futebol brasileiro — e não é de hoje. Algo grave e profundo. Aquela imagem do futebol alegre e ofensivo se esvai... Precisamos falar sobre isso.
Agora é a hora...
A Copa do Mundo de 1990 teve uma média de apenas 2,2 gols por jogo (guarde este número) e ficou famosa como o ápice de um processo que vinha transformando o futebol em um jogo mais cauteloso, estéril, negativo e defensivo. Em resumo, um jogo mais chato.
Com isso, a FIFA bateu o martelo em uma mudança estrutural na regra com o objetivo explícito da mudança era deixar o jogo mais dinâmico e divertido.
A partir de 1992, o goleiro não poderia mais pegar com as mãos uma bola recuada:
A partir de 1992, o goleiro não poderia mais pegar com as mãos uma bola recuada:
A Euro 92, último torneio antes da mudança da regra, foi excepcionalmente negativa: 2,13 por jogo.
Mas o problema não se limitava aos torneios internacionais, tradicionalmente mais conservadores. Todas as grandes ligas nacionais tinham uma média baixa.
Mas o problema não se limitava aos torneios internacionais, tradicionalmente mais conservadores. Todas as grandes ligas nacionais tinham uma média baixa.
Naquele mesmo ano, a Copa da UEFA virou Champions League e o Campeonato Inglês virou Premier League. Dois movimentos que iniciaram grandes mudanças no futebol europeu.
Uma década depois, em 2003, o Brasil também deu uma guinada, adotando um modelo de liga em pontos corridos.
Uma década depois, em 2003, o Brasil também deu uma guinada, adotando um modelo de liga em pontos corridos.
Quando o Brasil adotou o modelo de campeonato, as grandes ligas europeias já tinham uma média de gols por jogo bem maior do que antes. De lá para cá, os números oscilaram, mas vêm crescendo.
Houve uma pequena tendência de queda entre 2004 e 2007, quando Valdano escreveu seu célebre artigo “um pedaço de merda pendurado num graveto” ().
Mas, nas últimas quatro temporadas, as quatro ligas bateram seus recordes de média de gols. Não é coincidência
Mas, nas últimas quatro temporadas, as quatro ligas bateram seus recordes de média de gols. Não é coincidência
Primeiro, podemos imaginar que o surgimento dos superclubes, muito mais ricos que os rivais, aumentou o número de goleadas.
É verdade. Na década de 1990, Real Madrid e Barcelona venciam 20,5% de seus jogos por 3 gols de diferença ou mais. Hoje, vencem inacreditáveis 37,8%!
É verdade. Na década de 1990, Real Madrid e Barcelona venciam 20,5% de seus jogos por 3 gols de diferença ou mais. Hoje, vencem inacreditáveis 37,8%!
Mesmo assim, o impacto dos superclubes não explica tudo. Inclusive, esse efeito é mais proeminente na Espanha, e La Liga até viu um aumento na era Messi-CR7, mas foi o campeonato que teve menor incremento da média de gols por jogo nos últimos 17 campeonatos.
A verdade é que a maneira de jogar mudou muito nas últimas duas décadas. O jogo se tornou, de fato, mais rápido, mais dinâmico e mais ofensivo. Grandes times passaram a ter que jogar com coragem, muita coragem.
Além disso, o futebol se tornou um “produto global”. Percebeu-se que “jogar bonito” e “para frente” não é apenas perfumaria.
Um futebol mais interessante e ofensivo atrai mais olhares, conquista torcedores e abre mercados.
Um futebol mais interessante e ofensivo atrai mais olhares, conquista torcedores e abre mercados.
A própria Champions League, maior competição de clubes no planeta, se reinventou e hoje tem confrontos épicos de mata-mata.
A média de gols por jogo, contando apenas as fases eliminatórias, passou de 2,35 entre 2003/04 e 2007/09 para 3,00 entre 2014/15 e 2018/19. Alucinante!
A média de gols por jogo, contando apenas as fases eliminatórias, passou de 2,35 entre 2003/04 e 2007/09 para 3,00 entre 2014/15 e 2018/19. Alucinante!
E o Brasil? Como entra nessa história?
Em 2003, quando mudamos o modelo, nosso campeonato teve 2,89 gols por jogo, só abaixo da Bundesliga, que tinha 2,97.
Porém, a partir de 2006, algo mudou na nossa forma de jogar…
Em 2003, quando mudamos o modelo, nosso campeonato teve 2,89 gols por jogo, só abaixo da Bundesliga, que tinha 2,97.
Porém, a partir de 2006, algo mudou na nossa forma de jogar…
Pode ser que tenhamos aprendido as lições erradas com o São Paulo, tricampeão com Muricy. Pode ser que o oba-oba da Copa de 2006 e a "linha dura" posterior com Dunga tenham influenciado. Pode ser que a pressão por resultados tenha ficado maior que nunca por aqui...
Precisamos debater com profundidade os motivos.
Mas o fato é que, de lá para cá, a média despencou. Se as ligas europeias bateram recordes positivos nas últimas quatro temporadas, o Brasileirão teve, nas últimas 6 temporadas, seus 6 resultados mais fracos.
Mas o fato é que, de lá para cá, a média despencou. Se as ligas europeias bateram recordes positivos nas últimas quatro temporadas, o Brasileirão teve, nas últimas 6 temporadas, seus 6 resultados mais fracos.
Em 2018, o Campeonato Brasileiro produziu uma média de apenas 2,18 gols por jogos!
ABAIXO do resultado catastrófico da Copa de 90 que fez a FIFA transformar todo o esporte!!!
Estamos vendo um futebol cada vez mais cauteloso, estéril, negativo e defensivo.
ABAIXO do resultado catastrófico da Copa de 90 que fez a FIFA transformar todo o esporte!!!
Estamos vendo um futebol cada vez mais cauteloso, estéril, negativo e defensivo.
“O medo de perder tira a vontade de ganhar” parece ser a definição do próprio futebol brasileiro atual.
Treinadores, jogadores e dirigentes sabem que cada derrota pode lhes custar a imagem, o emprego ou a saúde mental. O Brasil virou uma máquina de triturar o futebol.
Treinadores, jogadores e dirigentes sabem que cada derrota pode lhes custar a imagem, o emprego ou a saúde mental. O Brasil virou uma máquina de triturar o futebol.
Quem perde somos nós.
O Brasileirão 2020 ainda está começando. Em paralelo às cinco mudanças de treinador em seis rodadas, temos uma média até aqui de apenas 2,16 gols por jogo. A menor desde 2003.
Ainda é cedo para cravar qualquer coisa sobre esse ano, mas a tendência está aí.
O Brasileirão 2020 ainda está começando. Em paralelo às cinco mudanças de treinador em seis rodadas, temos uma média até aqui de apenas 2,16 gols por jogo. A menor desde 2003.
Ainda é cedo para cravar qualquer coisa sobre esse ano, mas a tendência está aí.
Passamos os últimos dias escutando que “o VAR está matando o grande momento do futebol, que é o gol”
É verdade. O gol é o ápice desse jogo maravilhoso. E, de fato, está agonizando no futebol brasileiro. Mas o problema não é o VAR.
É verdade. O gol é o ápice desse jogo maravilhoso. E, de fato, está agonizando no futebol brasileiro. Mas o problema não é o VAR.
Precisamos falar sobre o que realmente importa. Onde foram parar os gols? Como fazemos para recuperá-los?
E o mais importante de tudo: que tipo de futebol queremos ver por aqui?
E o mais importante de tudo: que tipo de futebol queremos ver por aqui?
*2007/08
Um pequeno erro de digitação aqui
Um pequeno erro de digitação aqui
*"Com isso, a FIFA bateu o martelo em uma mudança estrutural na regra que tinha o objetivo explícito de deixar o jogo mais dinâmico e divertido."
Pequeno problema de edição de última hora hehehe
Pequeno problema de edição de última hora hehehe
