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Flamengo e Bahia fizeram um jogo bem diferente da cara que o Campeonato Brasileiro tem assumido até aqui: muitos gols, poucas faltas e uma série de possibilidades. Golaços, falhas, coragem e vontade de jogar futebol.

Um jogo que valeu a pena assistir e vale a pena analisar...
O Flamengo atual ainda é um camaleão. Ainda tenta encontrar seu jogo e se adapta às circunstâncias.

Se o jogo contra o Santos fez muita gente lamentar que “viramos um time de contra-ataque na mão do Catalão”, contra o Bahia vimos a busca pelo domínio desde o primeiro minuto.
O primeiro recado: ainda é cedo para tirar muitas conclusões definitivas.

Muita gente tem feito afirmações categóricas. Coisas como “não abre mão disso”, “não faz mais aquilo”, “só joga assim”... Calma.

Até aqui, vimos muitos Flamengos diferentes, ainda buscando o jogo ideal.
Em seu sétimo jogo no comando, Domenec optou por um 4-2-3-1.

A formação foi bastante usada por JJ no auge de 2019, mas com um detalhe: Everton Ribeiro era quase sempre o meia central, com BH e Arrascaeta se revezando entre o lado direito e o esquerdo — preferido por ambos.
Agora, Dome usou Arrascaeta como meia central e Everton pela direita. Falou sobre isso na coletiva após o jogo: “Acho que Arrascaeta joga melhor atrás do atacante do que pelo lado.”

Pedro Rocha entrou pela esquerda e Pedro foi o centroavante.
No ataque, nada de dois pontas abertos esticando o campo o tempo todo, dando amplitude total (mais uma coisa que disseram que “Dome não abre mão de jeito nenhum”). Vimos muita aproximação e movimentação, buscando forçar o jogo por dentro, acelerar e se impor o tempo todo.
Mas a principal característica dos homens de frente talvez nem tenha sido a movimentação.

A marcação-pressão (tanto na saída de bola quanto a pressão pós-perda), que não vinha encaixando até aqui e foi um pouco deixada de lado na última rodada, voltou e foi determinante.
Não tanto pela intensidade física, que ainda está um pouco abaixo do ideal. Não foi aquela marcação sufocante. O mais importante foi a inteligência em fechar as linhas de passe e a coragem de voltar a jogar com a defesa bem adiantada.
Com isso, mesmo com muito mais posse de bola (57% a 43%), o Flamengo teve 55 recuperações da posse, sendo 22% no campo de ataque. O Bahia conseguiu 43 recuperações, das quais 14% foram no campo de ataque.
Aliás, mesmo com uma marcação-pressão ainda desajustada até aqui, o Flamengo é o segundo time que tem a maior proporção de bolas recuperadas no campo de ataque (24,9%), logo atrás do Atlético-MG (25,3%).
Na quarta, no entanto, o mais importante não foi nem recuperar a bola perto do gol adversário. O mais importante foi quebrar a fluidez do jogo adversário, forçando sempre o chutão.

Somados, o goleiro e os zagueiros do Bahia tentaram 26 passes longos. Os do Fla tentaram apenas 8.
* Detalhe1:

2 desses 8 lançamentos foram jogadas ensaiadas.

Como não há impedimento no tiro de meta, Pedro se mandava para frente. A defesa então recuava, abrindo espaço para o Fla sair jogando, ou se mantinha adiantada e corria o risco do lançamento.

O grande número de chutões da equipe baiana significou que o jogo foi decidido por baixo, mas controlado pelo alto. O Flamengo venceu 61% dos duelos aéreos. A zaga venceu 14 de 17 disputas (82%).

Repare também como o Bahia era frágil protegendo os contra-ataques gerados dessas disputas. O Flamengo ganhava pelo alto e tinha condições de acelerar com os quatro homens da frente atacando diretamente a defesa adversária.
*Detalhe 2:

O Flamengo é o DISPARADO o time que mais vence duelos aéreos nesse campeonato. Tem incríveis 66,4% de aproveitamento pelo alto, muito à frente do Palmeiras, segundo colocado, que tem 56,8%.
Enfim… O que importa é que, dessa forma, o jogo tinha um ciclo definido. Um ciclo muito conhecido por todos que acompanharam de perto o segundo semestre de 2019.
É preciso também fazer um elogio à arbitragem. Sávio Pereira Sampaio também foi importante para a fluidez do jogo, já que não fazia questão de picotar o jogo com infinitas faltinhas e não colocava o apito na boca quando a bola passa da altura da cintura.
Assim, o Flamengo tinha muito volume, encontrava espaços para progredir rápido e atacava a área com muita gente. O jogo tinha uma “seta”, fluía sempre em um sentido.

Só faltava os homens da frente estarem inspirados.

E estavam.
Pedro guardou logo os dois primeiros.

Arrascaeta liderou os movimentos ofensivos, infernizou a defesa, fez de tudo um pouco e ainda marcou dois gols.

Everton Ribeiro fez jogadas de pura magia e marcou um golaço para ficar na memória. Coisa de gênio.
Tudo isso também sabendo controlar o ritmo, algo que vinha faltando há algum tempo. Dessa vez, o Flamengo teve 26 posses de bola maiores que 30 segundos, sendo que 12 (46%) aconteceram nos últimos 30 minutos, com o time ganhando confortavelmente, controlando as rédeas da partida.
Para se ter uma ideia, foram apenas 8 posses de mais de 30 segundos em todo o jogo contra o Santos, sendo apenas 2 nos 30 minutos finais, mesmo com um emaranhado de meio-campistas rodando a bola na frente.
Claro que essa comparação precisa levar em consideração a arbitragem de Wilton Pereira Sampaio, que ao contrário de Sávio, não consegue ficar 30 segundos sem parar o jogo.

Mesmo assim, dá para perceber que o nível de controle e consciência foi muito maior contra o Bahia.
De maneira geral, esse ciclo descreve muito bem o jogo: o Flamengo controlando as ações e agredindo o Bahia à sua maneira.

O problema é que, quando o ciclo era quebrado, o time sofria um pouco. Os movimentos coletivos, especialmente na defesa, ainda precisam de mais coordenação.
Em alguns momentos, aquele bloco compacto e adiantado que garantia marcação-pressão e soberania aérea começou foi ficando mais espaçado. Foi aparecendo o “efeito mola” ()

Rodriguinho foi destaque justamente porque sabe usar muito bem esses espaços.
Quando o cansaço bateu, o time parecia jogar com duas unidades completamente separadas: os quatro da frente e os seis de trás. Esse é o tipo de ajuste que faz diferença.

Também se viu esse tipo de problema quando o Bahia conseguiu quebrar o ciclo por méritos próprios: jogando por baixo ultrapassando a primeira onda de pressão ou vencendo a disputa aérea.
Os gols da equipe de Roger Machado vão muito além de falhas individuais do Flamengo.

O segundo gol, inclusive, teve problemas graves até o erro de Gabriel Batista. Foi a primeira vez que Gilberto ganhou pelo alto. Se tivesse vencido outras...
O Flamengo de Jorge Jesus ficou famoso pelo seu ataque voraz, mas talvez a grande mudança tenha sido na forma de defender. A solidez, coragem, precisão e segurança da defesa permitiam que o time jogasse como jogava.
Mas não adianta comparar esse time com aquele. Pelo menos não agora. Simplesmente porque o time não está no auge técnico, tático, físico e mental. Não tem comparação.

O importante no momento é melhorar jogo a jogo — e pontuar ao longo do caminho.
O Flamengo foi mais consistente. Mais importante que isso, foi consistente por mais tempo. Em vez de um primeiro tempo bom e um segundo tempo morto, vimos quase 90 minutos de um futebol fluido e interessante.

Ainda há muito a melhorar, mas existe um caminho.
Se é para traçar algum paralelo com 2019, vamos relembrar aquela incrível coincidência: os adversários parecem ter noites de muito azar contra o Flamengo. Treinadores caem, ninguém entende...

Será que em 2020 será assim também? Parece que já começou.

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