Eu sempre me pego pensando em como os protestantes acolheram como "escolhidos" líderes que parecem não representar nenhum dos valores que se aprendia em escola dominical. Da óbvia vulgaridade, passando pela apologia explícita da violência, além da promiscuidade assumida.
A explicação mais simples: tudo o que se prega não interessa quando a questão é poder político. Ok, mas isso explica a adesão dos líderes e não exatamente a adesão dos fiéis. Para a maioria dos fiéis o valor está na experiência religiosa e na comunidade da igreja.
Líderes como Trump e Bolsonaro não representam nenhuma "retidão moral" ou "grandeza" - entendam bem as aspas. No caso brasileiro o bolsonarismo não é uma reedição do malufismo mas uma degeneração deste. A hipótese é que tudo se finda na política do inimigo.
Diante do aspecto claramente contraditório desses líderes, resta aí um aspecto que veio primeiro de círculos pentecostais e depois se espalhou para o resto do protestantismo nas Américas: a mentira. ehvarzea.wordpress.com/2019/02/25/o-e…
Quanto piores os líderes protestantes e seus aliados se tornam, mais as mentiras são necessárias para que o "inimigo" seja identificado com o próprio diabo - que aliás, é chamado dessa forma nos púlpitos. E se a oposição aos líderes é O MAL, qualquer coisa coisa é permitida.
Eu passei os últimos meses encucado em como pastores e figuras políticas da direita podem cometer qualquer coisa criminosa, ilícita ou especialmente imoral aos olhos do protestantismo. Para os fiéis, isso não desqualifica os evangélicos e não desqualifica a direita.
Ao mesmo tempo, os supostos "inimigos" que pastores e políticos elegem são desqualificados segundo critérios que, quando não são desonestos, são absolutamente ficcionais, delirantes, baseados em lixo conspiracionista.
Talvez o ponto de sinergia entre essa reformulação do fascismo e o vácuo pós teologia da prosperidade seja isso: a mentira. Mentir com impunidade é uma forma de poder, especialmente quando se tem a capacidade de reverberar e repetir as mentiras ad infinitum.
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Vou pegar esse fio da meada aqui pra comentar essa sensação do nerdola de que "a lacração destruiu/piorou/arruinou a vida dele". Essa é uma reclamação absurdamente comum nesse universo masculino dos caras que estão hoje na faixa dos 30-40 anos.
Esse tipo de opinião é um combustível incrível para uma "indústria do ultraje" que alimenta canais nas redes sociais e gera muito dinheiro pra gente que se presume a comentar cultura pop - e frequentemente estão ligados ao universo mais amplo das direitas na internet.
A primeira parte que me chama atenção em postagens como essas é a posição em que o interlocutor se coloca: ele é uma vítima, algo foi tirado dele, uma mistura de nostalgia e de uma bizarra "perda da inocência". Agora os caras não conseguem mais simplesmente GOSTAR de nada.
Resumo: o cara que atirou no Trump era um jovem, de classe média, tímido, filiado ao partido republicano, descrito pelos colegas como conservador e obcecado por armas e que foi expulso do clube de tiro do colégio (pois é) por ser ruim - e também por colocar os colegas em risco.
É o perfil do maluco que volta e meia entra armado na escola e assassina crianças e adolescentes a sangue frio. E cada vez que alguém aponta que isso é um problema de saúde e segurança pública vem alguém choramingar sobre "liberdades".
A liberdade é viver num país com tanta arma por pessoa que só se vê o equivalente na história em países que estão em guerra civil. A liberdade é um otário qualquer pegar uma arma comprada legalmente num hipermercado e sair pra atirar em quem ele quiser.
O médico do time abusou sexualmente de mais de 100 alunos durante vinte anos e vários funcionários do time de esportes da universidade, inclusive o conservador Jim Jordan são acusados de encobrir os abusos e proteger o médico. abcnews.go.com/US/rep-jim-jor…
Esse é o cara de quem a extrema-direita brasileira foi bater à porta. E justamente porque ele foi um dos grandes articuladores da impunidade a Donald Trump pela tentativa de golpe de estado no 6 de janeiro.
Eu devo parecer disco quebrado mas vamos lá: existe uma gramática na grande imprensa que continua diluindo o que a extrema-direita faz. A extrema-direita não está conjecturando sobre os limites da democracia liberal, ou sobre as ações do judiciário ou coisa que o valha.
Os caras estão AVISANDO, para quem quiser ouvir, que VÃO DAR UM GOLPE DE ESTADO. E quem não quiser ouvir pode ASSISTIR ÀS AÇÕES deles em diversos momentos. Só não conseguiram porque não houve adesão massiva da caserna e embarque dos EUA.
É inacreditável que haja quem queira comparar essas coisas com algum "debate marxista" em rede social ou coisa do tipo. Qualquer comparação que se ancore em supostos "princípios" para esquecer as condições reais e materiais em que se vive é feita de má fé.
Uma das coisas mais incríveis na normalização da extrema-direita é como a imprensa hegemonica frequentemente relativza o literal, o óbvio e o explícito. Bolsonaro fala em "dar golpe" desde a década de 1990. Bananinha falou que ia fechar o STF em 2018 num ambiente público.
As ações da claque bolsonarista para que um regime de exceção seja implantado no Brasil foram públicas notórias. As faixas, as falas e as manifestações mostaram isso. A reação às políticas sanitárias durante a pandemia foi clara, cristalina e com consequencias nefastas.
Nós observamos toda a sorte de crimes da extrema direita noticiados como "controvérsias", "tentativas", "exageros". A relação da família Bolsonaro com a elite do crime organizado do RJ é pública e notória... e isso só virou pauta depois que Bolsonaro JÁ ESTAVA na presidencia.