A gente já sabe um bocado sobre como redes sociais, seus algoritmos e política se relacionam.
Os algoritmos gostam de discurso que inflama. Que deixa pessoas exaltadas.
É porque estas emoções as deixam mais atentas, as fazem frequentar mais as redes.
Que vivem de publicidade.
A extrema-direita no Brasil, e em boa parte do mundo, já havia aprendido a manipular esta dinâmica.
A turma da centro-esquerda está ironizando que Stalin esteja voltando ao debate.
A centro-direita também fazia pouco quando a turma da intervenção militar constitucional apareceu
A centro-esquerda acha que o debate é um espantalho construído pela direita.
Não é não.
Stalinismo é a isca lançada pela esquerda radical para ampliar seu alcance e ampliar seu espaço dentro das esferas de influência da própria esquerda.
Como o discurso é radical e mobiliza, o algoritmo cuida do resto.
Aí do Twitter amplia o YouTube, que ajuda a financiar uma nova onda de crescimento, e os espaços vão sendo ocupados.
Isto quer dizer que poderemos ter um presidente stalinista?
Não. É pior.
Isto quer dizer que cada vez o espaço de debate dentro das bolhas de esquerda vai sendo ocupado por gente disposta a questionar a democracia.
Gente dizendo que de fato muita gente morreu sob Stalin, mas que ele também tinha qualidades.
Dez anos atrás seria impensável.
A memória da nossa ditadura, a memória das ditaduras dos outros, vai se perdendo nos livros e nas imagens com pouca definição da TV pré-HD.
Fica abstrata.
Como a centro-direita que achava exagero da esquerda a inquietação com quem pedia intervenção militar, hoje é a centro-esquerda que considera exagero a constatação de que falar ‘das coisas boas do Stálin’ esteja ganhando espaço.
Daqui a pouco vem Pol Pot. Ou os Kim. Ou Mao.
Os problemas são dois.
O primeiro é que os Centros vão sendo esmagados.
Todos eles.
Social-democratas. Liberais. Conservadores.
Os centros são sufocados.
E democracia funciona no diálogo dos Centros, que são os que dialogam.
O segundo problema é da esquerda.
A população brasileira tem valores conservadores.
Quando mais gente na esquerda começa a questionar se democracia é uma boa ideia, a democracia sofre mais.
Na ausência de democracia, o autoritarismo que teremos aqui é conservador.
O Brasil não teve uma única ditadura de esquerda.
Não.
Nem a de Getúlio Vargas.
A Constituição foi escrita por um fascista dedicado — Francisco Campos — e as leis trabalhistas são copia e cola de Mussolini.
O velho Prestes passou a vida tentando organizar essa ditadura de esquerda.
O ponto mais próximo que conseguiu foi na Intentona de 1935.
O levante não completou 48 horas e sua mulher terminou num Campo de Concentração nazista.
Isto aqui, este debate público cujo norte é ditado por algoritmos que incentivam o radicalismo, é a democracia se dissolvendo.
Passei a última semana lendo na tuitosfera que a democracia é uma forma disfarçada de opressão.
Vem de gente que não conhece história.
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Muitos ciristas estão se queixando de meu vídeo sobre o “manifesto à nação”.
Antes de tudo: respeito muito a história de Ciro. Mas ele está iludindo seus eleitores — e sabe disso. Este é meu argumento.
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Uma das queixas que ouvi pelas várias redes é de que Ciro apenas iguala Lula e Bolsonaro no modelo econômico.
Não é verdade. Ele afirma também que Lula e Bolsonaro se igualam no método de fazer política. No que ele chamou de “política de conchavos”.
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Para alguém que a toda hora diz que seu movimento não é personalista, Ciro está afirmando que apenas ele representa uma maneira diferente de fazer política.
Não é verdade.
Nenhum presidente tem como ter este poder no Brasil.