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Sep 27, 2020 17 tweets 3 min read Read on X
1. Sobre reforma administrativa atual, é importante lembrarmos dos benefícios que os militares de alta patente conquistaram na reestruturação de carreira que tiveram no ano passado, apesar das anomalias fiscais no setor. Eles estão fora da reforma atual. Vamos aos fatos.
2. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), em 2016, 88% dos militares foram para a inatividade entre 45 e 54 anos. Mais da metade dos militares foram para a reserva com menos de 49 anos de idade.
3. Os militares representam hoje metade dos gastos da Previdência entre o funcionalismo público, embora representem apenas 31% do quadro.
4. São gastos R$ 43,9 bilhões com pensões e aposentadorias para cerca de 300 mil militares e pensionistas, enquanto a União despende R$ 46,5 bilhões para 680 mil servidores do regime civil.
5. Dados da PNAD de 2017 mostram que os militares correspondem a 0,9% dos trabalhadores e 0,4% da população. Contudo, respondem por mais de 14% do “déficit” do sistema previdenciário como um todo e 44% do “déficit” dos Regimes Próprios de Previdência.
6. Segundo dados do Tesouro Nacional, o déficit per capita (por beneficiário) do regime militar chega a ser 85 vezes mais deficitário do que o apresentado pelo regime geral urbano.
7. A remuneração média dos militares reservistas é de R$ 11.621, bem acima da esmagadora maioria dos servidores do Brasil. Metade dos servidores ganha menos de R$ 2,7 mil por mês – antes dos descontos.
8. Na Previdência atual dos servidores federais o teto é de R$ 6.101,06. Já o militar que vai para a reserva não possui um limite para os valores recebidos. Em tese, ele está sujeito ao teto constitucional, reajustado recentemente para R$ 39,3 mil.
9. O efetivo das forças armadas se concentra em militares de baixa hierarquia, principalmente cabos e soldados, que são, na maioria dos casos, temporários e não obterão os benefícios que da generosa reestruturação, focada no topo da hierarquia militar, como veremos abaixo.
10. A reestruturação da carreira militar ocorreu por intermédio do Projeto de Lei 1645/2019, atual Lei 13.954 de 2019. Vários ganhos foram obtidos pelos militares em um momento de suposta crise fiscal e ataque aos demais servidores. Vejamos.
11. Adicional de habilitação. Trata-se de um benefício que foi ampliado com a reestruturação recente. O percentual extra mensal que variava de 12% a 30% passou para o intervalo de 12% a 73%. É importante observar que os militares da base da carreira não tiveram reajuste.
12. Gratificação de representação a GENERAL. Foi ampliada também a gratificação de representação a generais. O adicional de 10% sobre o soldo (o salário dos militares) poderá ser levado para a reserva. Hoje, o ganho extra só vale para quem está na ativa.
13. Adicional de disponibilidade. Trata-se de um adicional que não existia e, basicamente, é o equivalente a um reajuste no valor dos soldos que pode chegar a 32% para os militares de alta patente. Crise fiscal só existe para quem não é amigo do presidente.
14. O adicional de disponibilidade criado na reforma dos militares em 2019 é regressivo:

Coronel e subtenente (32%)
Tenente-coronel (26%)
Major e Primeiro Sargento (20%)
Capitão e Segundo Sargento (12%)
Primeiro tenente e Terceiro Sargento (6%)
Demais militares (5%)
15. Ajuda de custo no momento da transferência

Antes da reforma de 2019, quando o militar se aposentava ou transferia, recebia uma ajuda de 4 vezes o valor do soldo. Com a reforma atual o valor dobrou para 8 vezes o valor do soldo.
16. Com isso, os generais tiveram aumentos de rendimentos que podem passar dos 50%, apesar de todas as anomalias fiscais apontadas aqui, da crise fiscal e do ataque a todos os outros servidores públicos. Dito isso, quem precisa de reforma administrativa?
17. O custo da reestruturação da carreira dos militares passou dos R$ 100 bilhões de reais em 10 anos. Isso significa 3 anos de bolsa família que atende 45 milhões de pessoas muito pobres em todo o Brasil.

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Mar 3, 2023
Taxar dividendos já!

1. A PETROBRAS pagará R$ 215,7 bilhões em dividendos aos acionistas em 2022, o dobro d 2021. R$ 77,4 bi vai p/ o governo e 137,6 p/ os demais. O dinheiro sai do bolso do povo direto p/ os ricos acionistas sem nem pagar Imposto de Renda! Anomalia brasileira
2. Os altos dividendos para acionistas decorrem da política de precificação do gás de cozinha, diesel e gasolina. Cobram o mais caro possível do povo para maximizar o lucro dos acionistas. Transferência regressiva de renda. Na distribuição da grana, nem imposto de renda é cobrado
3. Desde 1995 esse tipo de rendimento dos super ricos não é taxado no Brasil. É uma espécie de salário de rico que tem renda sem trabalhar. Enquanto isso você paga até 27,5% de IR! Só no Brasil e Estônia dividendos não são taxados. Se fossem, sabe quanto o governo arrecadaria?
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Jan 23, 2023
Sobre a moeda comum.

1. Já existe, desde 2008, o Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML), que dispensa o dólar em transações entre Argentina, Uruguai e o Paraguai. O sistema pode ser aperfeiçoado e expandido, mas já funciona, e sem moeda comum.
2. Portanto, quando Galípolo afirma que "O ponto principal é a dificuldade que existe de aceitar pesos no comércio internacional. O problema hoje no comércio entre Brasil e Argentina é depender de moeda de um terceiro país", não é algo completamente correto.
3. Com o já existente SML não há necessidade de usar uma terceira moeda – normalmente o dólar– para realizar as transações. Portanto, se esse for o principal objetivo da moeda comum, não há pressa.
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Dec 8, 2022
1. Haddad, segundo o Estadão, pediu ao relator da PEC, um Senador de centro, que retirasse trechos da justificativa que o mercado não quer que o povo leia. Os trechos se referem ao que Lula defende hj, mas que Haddad parece discordar - ou talvez seja um mero gesto de subordinação
2. Trata-se de uma das justificativas mais avançados da história do Congresso. Os trechos que Haddad trabalhou para alterar são uma verdadeira aula de macroeconomia. Ferramentas fundamentais para o povo disputar o orçamento. Por isso o mercado não gostou nada. Trechos abaixo:
3. "Uma dúvida que naturalmente surge em
propostas como a desta PEC é sobre seus impactos macroeconômicos. Uma parte dos economistas tende a ver com grande preocupação flexibilizações no teto de gastos
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Dec 7, 2022
Balanço do texto da PEC de transição aprovada na CCJ do Senado: avanços e retrocessos.

1. A CCJ do Senado aprovou a PEC da Transição, que libera espaço no Orçamento de 2023 para o Bolsa Família, gastos sociais e o aumento real do salário mínimo. Segue para votação em Plenário
2. O principal avanço foi a previsão de um novo arcabouço fiscal para substituir o teto de gastos a ser encaminhado pelo próximo governo no prazo de seis meses da posse. Trata-se de um dispositivo defendido pelo PSOL durante a tramitação da PEC.
3. A primeira versão da PEC de transição mantinha o teto de gastos por todo o governo Lula, com a importante exceção dos gastos com o Bolsa Família.
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Dec 4, 2022
O MALIGNO CICLO DA AUSTERIDADE

1. O Brasil entrou em um círculo destrutivo de austeridade fiscal, imoralidade orçamentária e ineficiência fiscal. Círculo iniciado em 2015 com a austeridade, aprofundado com o golpe e teto de gastos e levado ao extremo com Bolsonaro, Lira e Guedes
2. A austeridade visava destruir o que é público para garantir privatizações e avanço do mercado para esferas que em 1988 optamos por serem públicas, universais e gratuitas. Um ataque ao nosso pacto social para recompor as taxas de lucro do capitalismo periférico.
3. A austeridade iniciou em 2015, com Levy. Erro crasso do PT na época que minou a classe trabalhadora justamente no momento de ofensiva golpista da lava-jato, que combinava efeitos políticos e econômicos adversos. A austeridade e desemprego minou qualquer resistência.
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1. Qual a diferença de sofisticação dos economistas liberais atuais p/ David Hume no século 18? Hume alegava exatamente o mesmo q eles sobre o papel do Estado, dívida pública e inflação. Que estranha convergência, não? O motivo é simples: ambos defendem o mesmo projeto de classe
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