Nessa discussão sobre a suspensão do ano letivo (ou o seu cancelamento), aparece um argumento-mito que o diploma é importante para pobres conseguirem emprego. É preciso ter clareza sobre este vínculo entre educação e mercado de trabalho. Segue um mini-fio
1) Enquanto no mundo a taxa de desemprego de mestres e doutores é de 2%, aqui no Brasil é de 25%. Por quê? Porque somos produtores de commodities que exige baixa qualificação profissional correiobraziliense.com.br/app/noticia/br…
2) Já postei agora há pouco, mas vale a pena repetir: por ano, 900 mil pessoas se formam na faculdade. Em 2016, o volume de empregos encolheu 1,9 milhão de vagas. O DIEESE, este ano, já divulgou que 70 milhões de brasileiros perderam o emprego e/ou renda.
3) Então, por qual motivo se insiste nesta relação entre educação (não treinamento ou instrução) e emprego? Por qual motivo nos jogamos nesta insistência em criar tal promessa?
4) A questão é importante porque percebam que esta linha de argumentação é a principal para refutar a suspensão deste ano letivo ou seu cancelamento. Alguns dizem que será uma perda irreparável. De onde tiram tal conclusão? Qual experiência histórica corrobora tal ilação?
5) Educação é formação para a autonomia, para a socialização no mundo construído pela humanidade. Precisamos ter acesso ao que outros humanos escreveram ou registraram na música, na poesia, nos filmes, na dança, nos livros.... E... sermos estimulados a resolver dilemas
6) Lawrence Kohlberg pesquisou sobre os dilemas morais que incitam a todos a desenvolver o senso de justiça (para citar um exemplo). Pois bem: fizemos isto neste ano de pandemia? Para que a pressa em concluir um ano letivo feito aos trancos e barrancos?
7) Alguns, revelando dificuldades em pensar educação como projeto societal, afirmam que aqueles que tiveram aulas estarão prejudicados. Prejudicados no quê? Estudar prejudica? Só vale estudar se tiver certificação? É isso que ensinamos às crianças e adolescentes?
8) Então, vale o pé no freio. Vale estudar como retornar às aulas. Tantas crianças e adolescentes afirmam que estão abaladas, que suas famílias perderam renda, emprego ou entes queridos. Vamos pular esta parte da vida e partir para o que vai cair no ENEM? É isso?
9) Não. Educação é muito mais que certificação. E não estudamos para sermos premiados. Estudamos para aprender com o outro, para nos inserir num projeto humano, para dialogar com diferentes, pensar nos desafios coletivos e sair da bolha
10) Termino este brevíssimo fio para pedir mais responsabilidade e profundidade quando pensamos um projeto nacional de educação. Que bebamos na sabedoria de Paulo Freire e Anísio Teixeira. E esqueçamos os manuais e protocolos de vida curta. (FIM)
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Bom dia. Ontem apresentei 5 slides na live das 20h comentando o desastre que foi a ditadura militar para o Brasil. Vou socializar os slides num breve fio. Vamos lá:
1) Primeiro, o mais conhecido: a ditadura matou, exilou e torturou brasileiros usando o aparelho do Estado e o dinheiro público que vinha de impostos pagos pelos cidadãos. Usar o Estado para perseguir e eliminar opositores a um governo é crime em qualquer lugar do mundo
2) Segundo, a ditadura matou 8 mil indígenas brasileiros e torturou vários. Recentemente, os Krenak mineiros ganharam um desagravo por terem sido linchados pela ditadura e suas populações presas no Reformatório Krenak em Carmenésia (MG)
Bom dia. A última pesquisa Datafolha reforçou a certeza de que a extrema-direita oscila ao redor de 30% dos brasileiros. Nem todos são bolsonaristas, mas professam valores racistas, machistas e até fascistas. A questão é: quem são os outros 70%? Este é o fio de hoje.
1) 31% declaram que admiram o PT. Então, sobram 39% sem identidade ideológica. Mas, vale a pena uma parada para entendermos o que são esses 31%.
2) Há pesquisas que indicam que nem todos brasileiros que se autodefinem ideologicamente são coerentes com esta escolha. Pedro Henrique Marques, em seu ensaio "Dimensão e Determinantes do Pensamento Ideológico entre os Brasileiros" observa que apenas 22% são coerentes
Bom dia. Hoje, fui provocado por uma postagem do grande Célio Turino. A postagem contava a história de um primo dele que saiu do apoio à Erundina para virar bolsonarista. Célio perguntava: o que aconteceu com meu primo? O fio a seguir é um conjunto de hipóteses que me atormenta.
1) O resumo da história do primo: há 10 anos, durante a criação do partido-movimento RAIZ, ao lado de Erundina, este primo enviou uma mensagem em que dizia: "Primo, sua persistência na luta por um Brasil melhor é admirável". Continuava....
2) ... ", ainda mais ao lado dessa mulher que foi a melhor prefeita de SP. Isso me dá esperança! Conte comigo."
Um ano depois ele estava gritando pelo impeachment da Dilma e logo depois virou bolsonarista radical. Célio pergunta: "o que houve com meu primo?"
Boa tarde. A despeito da enquete que fiz aqui sobre os temas que desejariam que eu fizesse um fio tenha indicado Anistia/militares, Educação e Evangélicos, farei, agora, um breve fio sobre a pesquisa Quaest que está provocando tiro para todo lado. Lá vai:
1) A excitação nas redes sociais se deu em função de um imaginado "sinal vermelho" ás pretensões da reeleição de Lula em 2026. Típico de quem desconhece o que é um processo eleitoral. Mas, vamos lá.
2) Nenhum sinal vermelho ou amarelo acendeu em função do índice de avaliação positiva revelado na pesquisa Quaest.
Bom dia. Farei um pequeno fio para apresentar uma hipótese a respeito do impacto da fala de Lula sobre a militância petista (ou lulista). Algo a ser analisado porque tem relação com a história recente do PT. Lá vai:
1) Comecemos com a pertinência da fala de Lula. Alguns dirão que é sorte. Porém, em política, o que mais conta é discernimento. Maquiavel dizia que o bom governante soma Fortuna com Virtú. Vejam como a imagem de Israel despencou no Brasil após a fala de Lula.
2) Sejamos corretos: o governo de Israel acelerou a escalada de horrores de guerras após a fala de Lula. Assim, houve uma sincronia entre o conteúdo da fala do presidente brasileiro com o assassinato de civis em busca de alimento. Uma centena de civis famintos mortos é genocídio
Bom dia. Ontem, fizemos uma live especial, às 20h, procurando analisar as possibilidades de leitura do presidente Lula que o levaram a atacar duramente o governo de Israel. Postarei os slides que apresentamos no início da live. Lá vai:
1) Comecemos sobre o peso de Israel para o comércio e a política brasileira. O comércio é insignificante: 52º lugar no ranking das exportações e 34º nas importações. Por aí, o conflito não traria problemas para o Brasil.
2) Outro indicador é o peso da população brasileira que se define como judeu. Os dados oficiais indicam apenas 120 mil pessoas no Brasil. Para se ter uma ideia, a população palestina (menor que a árabe de maneira geral) é o dobro em nosso país.