Tiago dos Santos Rodrigues Profile picture
Sep 28, 2020 8 tweets 2 min read Read on X
Terminei essa leitura e digo sem medo de errar:

Esse livro é.... uma delícia! Super recomendo, gente amiga. O último capítulo, "A última viagem do Mouro", eu já havia lido na versão em artigo que há, e me emocionei de novo.

Só teria duas pequenas observações. +
1. A primeira diz respeito a uma crítica pontual que o Musto faz a Enrique Dussel quando inclui este entre os que, sem razão suficiente, defendem "um rompimento drástico de Max em relação a suas convicções anteriores [a respeito das comunas rurais russas]". pp. 76-77.
Bom, Dussel não pode ser incluído entre estes, pois, de fato, não tem essa posição, e isso se averigua na própria referência que Musto traz de Dussel. Creio que o trecho é claro o bastante, não necessitando de maiores comentários.

El último Marx. Siglo XXI. p. 260.
2. No prefácio à edição inglesa de "O Capital", de 1886, Engels diz que a obra é reconhecida na Europa como "a Bíblia da classe trabalhadora" [p. 103 da edição da Boitempo] - Musto, erroneamente, atribui a expressão a Engels, no entanto, ele só reproduziu um fato.
Mas a questão é que Musto diz que, talvez, Marx não teria apreciado a expressão por ter sido "sempre contrário a textos sagrados" [p. 96].
Eu penso que, de fato, Marx não teria apreciado a expressão, mas não por que ele fosse "contrário a textos sagrados", mas porque ela soa muito arrogantemente presunçosa.
De outra parte, Marx, apesar de ateu e tal, usa de várias metáforas bíblicas ao longo de sua obra, assim que realmente não entendi o que exatamente Musto quis dizer com ele ter sido sempre "contrário" a textos sagrados, já que ele não refere nada que apoie a afirmação.
Mas é só isso, coisa pouca, de resto o livro é muito bom e traz uma ótima descrição das questões que ocuparam Marx em seus dois últimos anos de vida, e mostra como ele era o que todos nós somos: um pobre ser humano tendo que lidar com as vicissitudes, dores e ocaso da vida.

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Tiago dos Santos Rodrigues

Tiago dos Santos Rodrigues Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @tiagodussel

Jan 30, 2022
Passou aqui um meme sobre como o acadêmico anglo só sabe inglês e o latino-americano se vira (tem que se virar) com até duas ou mais línguas estrangeiras.

Eu acharia graça se não fosse de dar raiva.

Isso não mostra como somos melhores, mostra como somos dependentes.
O sujeito que é do mundo anglófono tem vantagem só nisso - de ser de língua inglesa. Porque mesmo não anglófonos, em muitas áreas, publicam boa parte de sua produção (quando não exclusivamente) só em inglês.
Se tu escreves qualquer merda em inglês as chances de ser lido e elogiado são muito maiores se escreves em língua "periférica", assim como qualquer bosta em inglês soa "refinada", quando uma boa análise em português ou espanhol soa "exótica".
Read 10 tweets
Jan 28, 2022
Todos nós conhecemos ao menos de três a cinco (muitos ainda mais) pessoas que MORRERAM de covid. O risco da covid é real E explícito, não é conjectura.
+
Dada as MILHÕES de pessoas EM TODO O MUNDO que já foram vacinadas, SE as vacinas apresentassem risco, esse risco já seria real E explícito para, então, se julgar com razão e razoabilidade que “o risco supera o benefício”.
+
SE o risco das vacinas superasse o benefício, ENTÃO, cada um de nós deveria conhecer ao menos de três a cinco pessoas nas quais a vacinação significou algo tão ou mais pior que a infecção por covid, real E explicitamente, mostrou que significa.
+
Read 8 tweets
Jan 27, 2022
Eu tenho percebido dois problemas nos trabalhos sobre "a falácia" ad hominem:

i. conceituação deveras abrangente - em geral, estendem o conceito a qualquer "menção" ao interlocutor, e quando percebem que a menção faz sentido, abrem a exceção, "esse é um uso legítimo".
Ocorre que não é o caso de ser um "uso legítimo do ad hominem", simplesmente não é o ad hominem; daí alguns autores diferem (considero válido) entre a falácia e a "argumentação" ad hominem.
ii. e, mais ou menos ligado ao anterior, os lógicos demonstram pouca ambientação em "política". Quase todos os textos trazem algum exemplo em política (é tema que fomenta a discussão), mas, até agora, todos que o fizeram trouxeram exemplos fracos em que a falácia não se aplica.
Read 7 tweets
Jul 26, 2021
Devemos saber fazer uma diferenciação entre "valores" e "práticas".

Genocídio indígena não era um valor no séc. XVII, era uma prática fundada em valores que estabeleciam também "não-valores". O valor era o que era ou provinha do branco, do europeu, do português. +
Tinha valor legítimo pera esse sujeito o que promovia e aumentava a sua vida (a despeito de vidas alheias).

Era uma axiologia exclusivamente etnocêntrica (digo "exclusivamente" porque toda valoração é, em alguma medida, etnocêntrica).
Bem, esse quadro de valores estabelecia também os não-valores, ou seja, tudo o que não provinha ou não aumentava a vida de dito sujeito e/ou que "ficasse no caminho" do aumento de sua vida, da expansão dela.
Read 11 tweets
Jul 26, 2021
Gostaria de contribuir aqui fazendo referência que essa tese já é heideggeriana. No §65 de "SuZ", Heidegger trabalha justamente isso, a precedência do futuro ante o passado e o presente, afirmando, por fim:

"O fenômeno primário da temporalidade originária e própria é o futuro".
Aliás, essa semana mesmo eu li essa entrevista do Álvaro Garcia Linera para a Jacobin Brasil que me fez recordar desse parágrafo de "Ser e tempo" ( a entrevista toda é excelente, super recomendo).

jacobin.com.br/2021/07/como-o…
Aqui a entrevista completa.
Read 6 tweets
Sep 27, 2020
Pequena amostra de como traduções ruins podem nos levar a cometer equívocos significativos.

Deparei-me com esse artigo do Mauro Iasi outro dia, não entrarei aqui na questão principal do texto, mas um trecho me chamou a atenção. +

pcb.org.br/portal2/23326/…
Do que conheço de Hegel, achei bem estranho que o sujeito que uma vez disse que o cristianismo realiza a unidade do Espírito na história pela unidade da Igreja com o Estado [visão distorcida do cristianismo, diga-se de passagem], diga que a religião seja opositora da verdade.
Eu não achei essa edição da Hemus que o Mauro Iasi faz referência, mas achei essa tradução da Edições 70 em que não se fala de "religião" ou "religiosidade", mas do pietismo.
Read 10 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Don't want to be a Premium member but still want to support us?

Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal

Or Donate anonymously using crypto!

Ethereum

0xfe58350B80634f60Fa6Dc149a72b4DFbc17D341E copy

Bitcoin

3ATGMxNzCUFzxpMCHL5sWSt4DVtS8UqXpi copy

Thank you for your support!

Follow Us!

:(