Ao visitar o Brasil, entre 1817 e 1822, o botânico austríaco Johann Emanuel Pohl relatou um fato surpreendente na cidade de Goiás. Segundo ele, muitas mulheres brancas eram mais pobres que as negras e tinham vergonha disso.(+)
“Para estes [brancos] é rezada uma missa às 5h da manhã. Nela aparecem as brancas empobrecidas, envoltas num manto de má qualidade, para não se exporem aos olhares desdenhosos das negras que aparecem mais tarde e entram altivamente ornadas de correntes de ouro e rendas", disse.
Pouca gente levou a sério o que ele disse – acharam que o gringo entendeu errado o que lhe relataram. Mas análises recentes de testamentos e cartas de alforrias revelaram centenas, milhares de ex-escravas mais ricas que a média da população da Bahia, MG e RJ.
A historiadora Sheila do Castro Faria concluiu que as negras libertas eram o segundo grupo social mais rico de algumas cidades mineiras. Perdiam somente para os homens brancos. Se isso valia para MG, talvez também fosse verdade para a Goiás que Pohl visitou.
Uma análise de 600 testamentos mostrou que homens livres eram os mais ricos na vila mineira de Rio das Velhas. Em segundo lugar, ficavam as mulheres libertas. Na lista da arrecadação de impostos de Vila Rica, ex-escravas ficavam em segundo lugar entre os maiores contribuintes.
Muitas negras se encaixam na descrição do austríaco. Ana Trindade foi levada à Bahia no final do século 18 e logo começou a trabalhar como escrava de ganho – pagava um valor diário ou semanal a seu senhor para poder trabalhar por conta própria.
Em 1807, já livre e dona de 3 escravas, vendia comida de porta em porta. Emprestava dinheiro para comerciantes (entre eles, comerciantes de escravos). Ao morrer, tinha 9 escravos, joias de ouro, uma casa de 3 andares com janelas de vidro (luxo na época) e uma loja no térreo.
As libertas eram em média mais ricas que os libertos. Como Fortunata Maria da Conceição, que em 1848 pediu divórcio de seu marido. Disse nos autos que “não só cumpria todos os deveres de mulher casada, mas também..."
"... ganhava para manter a si e ao réu seu marido, sem dar motivo algum a este para a maltratar”. Já o marido, segundo ela, “não tinha ocupação honesta, não trabalhava e nem cuidava de ganhar a vida, e só tratava de destruir e esbanjar o que a Autoria adquiria por seus suores”.
Lívia Maria da Purificação, do RJ, tinha doze escravos, joias e uma boa poupança. Em 1857, comprou a alforria de Amaro José de Mesquita e casou com ele. Três meses depois, pediu o divórcio da Justiça Eclesiástica: provavelmente ele só queria se aproveitar do dinheiro dela.
Essas e outras histórias deliciosas estão no meu último livro, "Escravos: a vida e o cotidiano de brasileiros esquecidos pela história":
Fontes: Johann Pohl, "Viagem ao Interior do Brasil". Sheila do Castro Faria, “Cotidiano dos Negros no Brasil Escravista”, Vilmara Lucia Rodrigues, "Negras Senhoras: o universo material das mulheres africanas forras", e "Mulheres negras no Brasil escravista e do pós-emancipação".
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27 reasons why governments, colleges, companies and courts should back free speech if they want to make democracy stronger and fight fake news and hate speech.
- by @lnarloch and @ggmaultasch
1. The Autonomy Argument
First of all, the moral principle. Free speech is an end in itself. If our thoughts are part of who we are, and expression helps develop our thoughts, free speech is necessary for our identity and self-fulfillment. It is a fundamental individual right.
2. Risk of Abuse
Those in positions of power often misuse their authority. Any regulation of speech can be applied arbitrarily and selectively to stifle dissenting views and silence political opponents. That’s why speech regulations should be minimal and highly precise.
O debate sobre a exploração de petróleo na foz do Amazonas se dividiu entre "defensores do meio ambiente" contra "defensores do desenvolvimento".
Essa oposição é falsa: a exploração do petróleo (e a mineração em geral) podem ajudar a preservar a floresta. Segue o raciocínio.+
Um problema da Amazônia é o baixo custo de oportunidade do desmatamento. Mais de 40% da população é miserável, muitos não têm emprego ou desistiram de encontrar um. Se você não tem nada pra fazer, pode achar vantajoso botar fogo numa área enorme só para ganhar alguns trocados. +
Mas se você tem uma boa profissão (como técnico de uma plataforma de petróleo ou professor na escolinha dos filhos dos técnicos da plataforma) vai deixar de ganhar um bom dinheiro se decidir passar a semana botando fogo na mata.
Turma, há muitos motivos para criticarmos o ex-presidiário, não precisamos inventar novos. É falso que o hotel do Lula em Londres custa R$ 95 mil a diária.
Mas essa história traz três bons ensinamentos sobre fake news: +
1. O jornalismo profissional e a mídia tradicional também desinformam.
O boato da diária de R$ 95 mil saiu primeiro na BandNews. O repórter ouviu esse número e o transmitiu ao vivo. Vários outros sites e jornais publicaram o dado sem checar. +
2. Desinformação se combate com informação, não com censura.
Eis a principal lição das redes para a comunicação política. A fake news dos R$ 95 mil seria facilmente neutralizada se a Presidência fosse transparente e detalhasse gastos. Mas os ocultou, dando margem a boatos. +
O economista Cameron Harwick diz que hoje poucas pessoas se interessam em saber ou dizer a verdade: preferem participar de um "torneio de lealdade" a valores abstratos como "igualdade". Isso é visível nos debates sobre desigualdade de gênero de todo 8 de março. Segue o fio.
Canais de TV e políticos repetiram a fake news de que "mulheres ganham 22% menos que os homens para desempenhar o mesmo trabalho". Gente: se as empresas pudessem pagar 22% menos para o mesmo trabalho, só contratariam mulheres. Na verdade... +
... o dado do IBGE se refere à média de remuneração dos homens e mulheres do país. Não conta que os homens ficam em média mais horas por semana (42,7) em trabalhos remunerados que as mulheres (37,9), têm maior idade e experiência média. +
A garrafa d'água a R$ 90 revela a ganância do mercado? Claro que sim. Revela que Adam Smith estava errado ao defender a mão invisível do mercado? Pelo contrário - comprova que ele estava certo. Segue o fio. +
Em condições normais, daríamos risada se alguém cobrasse tanto por uma garrafa d'água. O vendedor só consegue manter esse preço porque, com as inundações, estradas bloqueadas e problemas na rede de agua encanada, não havia oferta e sobrava demanda por água mineral. +
Para evitar esses casos de ganância e manter os preços baixos, é preciso aumentar a circulação de bens e garantir a livre concorrência entre os vendedores de bens ou serviços. Pois é justamente o que os liberais, desde Adam Smith, defendem.+
Imagine um médico que decide matar um paciente em convulsão para conseguir aplicar-lhe um remédio. Estranho, não? Pois é isso que acontece quando se avança contra a liberdade de expressão "para proteger a democracia". +
A democracia não é um fim em si mesmo - é um meio para garantir liberdades civis. É a melhor (menos pior) forma de reduzir a concentração de poder, garantir transições pacíficas e evitar que o Estado use o monopólio da força contra os cidadãos.+
Como sempre há tentação de homens do sistema de inventar motivos nobres para calar opositores, é preciso haver uma eterna vigilância da sociedade para garantir o livre questionamento dos políticos, de juízes, do sistema eleitoral etc.+