Eu tenho minhas dúvidas, mas preciso ler o livro. Por que?
Porque acredito que indústrias culturais massivas são indisputáveis. Televisão, cinema, música, quanto mais se afunilam em marcas e conglomerados, parece que menos margem de manobra para o trabalho criativo surge.
No caso dos games, contudo, tem algo que me chama atenção. Os desenvolvedores por vezes se chamam (ou são chamados, não sei) de artistas. E isso é a defesa de um trabalho artesanal, no seu sentido pré-capitalista.
Esse trabalho artesanal é, ou deveria ser, uma bandeira dos socialistas. De que o trabalho possa ter seu tempo de realização e que ele valha justamente pelo tempo do artesão. Retomar algo que está em sociedades ancestrais, que o tempo do trabalho é o tempo do esmero, da busca...
...por um ideal de sublime, isso sim, é um fator crucial de uma sociedade que pense suas noções de tempo de forma diferenciada, conectada não com as demandas sociais de um "eu-consumidor", mas sim de um "eu-artista".
Sei que tem muita coisa independente nos games...
(assim como no cinema, na música, nas artes no geral) que pode ser enquadrado nisso. Eu gosto dessa discussão, acho que é por aí mesmo o caminho.
Mas talvez, para poder transformar o campo dos jogos eletrônicos em espaço para o socialismo se reelaborar, temos que pensar em...
...implodir a ideia de indústria cultural pelo que ela tem de mais capitalista, que é a sua tendência monopolista.
É tipo: "hate the media? become the midia", saca? Mas para os jogos eletrônicos mesmo.
Pode dar certo. A ver.
PS: O nerd que habita em mim, que jogou viciadamente Chrono Trigger nos anos 1990 e é fãzaço de Suikoden até hoje, considera que sim, tem artista bom demais nessa indústria. Quem dera eles tivessem liberdade criativa e recursos para ir mais além. :)
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Dormi mal ontem por causa do horror do que houve ontem em Gaza, do massacre de civis que buscavam alimentos.
Parece que segundo os monopolizadores da memória do holocausto, não se pode fazer comparações com o nazismo.
Beleza. Vou lembrar do que houve na Índia, em 1919.
Nesse ano, os ingleses praticamente sepultaram todas as conversas com os líderes indianos para um plano de independência. E, tão logo a 1ª GM acabou, os ingleses promulgaram o Rowlatt Act, uma lei que permitia que o governo colonial britânico prendesse qualquer pessoa...
...suspeita de participar de qualquer atividade contrária ao governo colonial. E mais: elas sequer teriam acesso aos processos. Kafka é fichinha.
Na região do Punjab, ao longo dos meses de março e abril, uma série de protestos contra a lei deixaram os governadores e chefes...
É preciso que se diga uma coisa sobre negacionismo do holocausto.
Um dos maiores nomes críticos a esse negacionismo foi um historiador francês e judeu chamado Pierre Vidal-Naqet.
Vidal-Naqet escreveu, em 1987, um livro chamado "Os assassinos da memória", onde desfere duras críticas a acadêmicos e a imprensa por darem palco aos chamados intelectuais negacionistas.
Baseada numa falsa ideia de "arena pública", muita gente acabou abrindo espaço para negacionistas preferirem as maiores mentiras sobre a Shoah. E, em alguns casos, com o aval de intelectuais renomados (como Noam Chomsky, p. ex.).
Por ocasião do conflito, tenho tentado retomar leituras sobre movimentos israelenses e palestinos que lutaram contra o sionismo ao longo do século XX.
Um dos mais interessantes foi o Matzpen:
Durante a Guerra dos Seis Dias, o Matzpen se aliou com grupos palestinos para denunciar a guerra e exigir a "des-sionização" de Israel. A defesa era da criação de um Estado único e secular para árabes e israelenses.
Na verdade, nos anos 1960 e 1970, uma parcela significativa da esquerda israelense era anti-sionista. A Guerra dos Seis Dias foi determinante nesse sentido, mas os "rachas" entre a esquerda (inclusive os comunistas) era anterior.
Em 1967, as cortes israelenses criaram dois sistemas jurídicos distintos. A jurisprudência dos territórios ocupados é coordenada por tribunais militares.
Ontem eu postei um mapa que o Irgun divulgava sobre o projeto de Erez Israel, na década de 1930 - e que manteve-se fiel a ele em 1940.
Fui acusado de antissemitismo por isso. Mas antes de dar processo a rodo, vou dar aula de história.
A história do Irgun remete ao sionismo revisionista de Ze'ev Jabotinsky. Na formação do sionismo político israelense após 1917, Jabotisnky liderou um grupo de sionistas que contestava o pragmatismo de líderes como Ben Gurion.
Para eles, a Palestina deveria ser conquistada...
...militarmente. E isso implicava (nos anos 1930, ao menos) num governo militarista e autoritário. Jabotinsky era um grande admirador do fascismo italiano e de Benito Mussolini.
Mas para além da conquista da Palestina, Jabotinsky defendia a criação da "Grande Israel".
7 livros que fundamentaram as minhas concepções sobre a questão Palestina:
1) "A questão da Palestina", de Edward Said. Um livro inescapável. A partir da história da colonização israelense na Palestina durante os anos do mandato britânico, o autor mostra como a identidade palestina se construiu num "não-direito" à terra.
2) "The Palestine Nakba", de Nur Masalha. Infelizmente, sem tradução, mas um livro poderoso que retoma a importância de entender um projeto de História decolonial por meio da memória dos palestinos sobre a Nakba, a "catástrofe", ocorrida em 1948.