Farei um fio comentando o que sinto como uma superficialidade cada vez maior no modo como discutimos ou nos chegam informações. O mote é um artigo de Antônio Prata. Segue o meio fiohttp://aldeianago.com.br/artigos/6-comportamento/24950-vamo-acorda-amizade-por-antonio-prata
1) Prata faz uma salada de frutas com pertences de feijoada e tempera com caldo de cana e molho shoyu. Compara Trump com Biden, justamente quando o último debate deu vitória para o democrata. Mas, no artigo de Prata, Biden é um bebê enfrentando um leão. Não fica por aí
2) Ao se perguntar sobre quem seria o maior líder da oposição no Brasil, cita.... Rodrigo Maia !!!!!!! Lasca Freixo e se esquece (?) de Lula ou Boulos, para citar dois nomes evidentes. Elogia Tabata Amaral, a liberal que adulterou a carteirinha da esquerda.
3) Esta bagunça de Prata é sintomática. Na minha avaliação, tem a ver com o perfil da Folha. A linha editorial da Folha é do perfil "gente boa" que fala de tudo, mas não se aprofunda em nada.
4) Quando leio a Folha, tenho a mesma impressão quando entro numa megalivraria, ao estilo Livraria Cultura. A livraria Cultura cresce para os lados, mas não aprofunda. É de uma superficialidade que dá a impressão de enciclopedismo, além de ser um ambiente muito agradável
5) Mas, se você deseja se aprofundar mais em histórica, filosófica, política, econômica e até mesmo literatura, melhor andar um pouco mais e visitar a livraria Martins Fontes.
6) A Folha dá a impressão enciclopédica, mas é superficial em quase tudo. O Datafolha socorre com dado fresco e certo ar de seriedade na informação. Mas, está errando feio em tempos de pandemia. É aí que entra Antônio Prata, filho do Mário.
7) Antônio entra nesta lista de herdeiros do qual faz parte Francisco Bosco, filho de João. A mesma linha histórica das identitárias, frente às feministas antirracistas clássicas: você percebe logo a falta de estofo, que tentam superar com uma forma agressiva intimidadora
8) As identitárias são agressivas na forma. Já no conteúdo, são dóceis. Não desejam a transformação, mas a inclusão, o sucesso. Algo próximo da teologia da prosperidade.
9) O caso do Wesley, que divulguei ontem e comentamos um pouco por aqui, também indica esta superficialidade "liberal" (no sentido norte-americano, de liberal nos costumes, mas preocupado com políticas sociais, com voluntariado, ações solidárias e intervenção leve do Estado)
10) Prata e Folha sugerem este período de muita informação e pouca formação. Prateleiras cheias de caixinhas, lugares vistosos e atraentes, mas que pouco nos instiga. Entramos nessas "megalivrarias" e saímos do mesmo jeito. Fica aquele sorriso amarelo de quem comeu isopor. (FIM)
Bom dia. Por mais paradoxal que possa parecer, acho que Hugo Motta ajudou Lula a sair de uma arapuca. Explico a afirmação no fio que começa agora:
1) Até então, o Lula3 estava amarrado ao Centrão, praticamente paralisado. O medo que tomou conta de Lula tinha como fonte a capacidade de mobilização do bolsonarismo que poderia desmoralizar a sua história de líder de massas.
2) Eis que, de repente, o bolsonarismo coloca 12 mil pessoas na avenida Paulista e Hugo Motta resolve peitar o projeto de Haddad sobre o IOF. O IOF era a tábua de salvação para dar sobrevida às contas governamentais.
Boa tarde. O fio de hoje é sobre o calcanhar de Aquiles dos Bolsonaro: agitam, mas não organizam. Lá vai:
1) Max Weber nos ensinou que há um tipo de líder que arrebata as massas pela paixão. Raramente se relaciona com as tradições e é ainda mais raro respeitar regras e normas. Trata-se do líder carismático.
2) Carisma significa “toque de Deus”. Por algum motivo, alguém é escolhido para se sacrificar ou para se distinguir dos outros humanos. Ele parece igual aos outros, mas algo o diferencia da multidão.
Bom dia. O fio de hoje é sobre a frase de Chico de Oliveira que postei ontem por aqui. Dizia que os anos 1990 retiraram a musculatura do Estado brasileiro e o século 21 retirou a musculatura da sociedade civil. Lá vai:
1) O Estado foi criado como garantidor da estabilidade social cujo objetivo era sustentar que as expectativas individuais (e coletivas) fossem passíveis de serem realizadas.
2) Se no século 19 surgiu a ideia de proteção social via intervenção estatal – vindo do improvável projeto de Bismark -, no século 20 se projetou, via socialdemocracia, a lógica da promoção social via amplas políticas de Estado.
Bom dia. Postarei um fio sobre o Centrão. Minha leitura é que ele é uma ponta de lança do fisiologismo e da direita brasileira que necessita se aliar com governos progressistas. Explico:
1) O que não parece ter um encaixe equilibrado é a necessidade do Centrão se aliar à liderança de um polo progressista. Foi assim com FHC, puxado por ACM. O faz agora com Lula.
Fico pensando no que o move para este lugar.
2) Uma possibilidade é o fisiologismo que o marca, focado nos espaços miúdos e na fragmentação territorial. Por aí, o Centrão teria muita dificuldade para esboçar um projeto nacional.
Boa tarde. O fio de hoje é uma tentativa de leitura do que me parece um sistema político federal criado após o início do Lula3. Sei que qualquer leitura mais crítica ao governo Lula atrai uma enxurrada de ataques e desesperos, mas sinto que chegou o momento de abrirmos discussão
1) É conhecida a tese de Chico de Oliveira em sua “Crítica à razão dualista”: existiria um todo sistêmico que gerava uma especificidade da economia e sociedade brasileiras e que era interpretado por parte da intelectualidade brasileira como subdesenvolvimento.
2) A dualidade evitava compreender a lógica integrada entre atraso e pujança como um todo devido ao que sugeria ser proveniente de certo moralismo intelectual.
Bom dia. Farei um brevíssimo fio sobre um dos melhores livros da área da sociologia (estaria mais para o campo das teorias do pensamento social) dos últimos anos, o livro "Lugar Periférico, Ideias Modernas". Lá vai:
1) Este livro faz uma cartografia da sociologia brasileira, principalmente paulista, desde o famoso Seminário Marx, iniciado em 1958 e que envolveu Giannotti, FHC, Weffort, Fernando Novaes, Roberto Schwarz, dentre outros.
2) O livro, além de muito bem escrito e rigoroso, se diferencia no panorama recente de empobrecimento intelectual. O diagnóstico do país é hegemonizado pela raquítica leitura da microeconomia. As redações da grande imprensa aceleram este processo pragmático e reducionista