1/n) A propósito da live promovida ontem pelo colega @andreroncaglia tratando de moeda, juros etc., senti a importância de esclarecer para o público aquilo que os meninos tanto falavam sobre "elasticidades de produção e substituição" da moeda porque isso não é obvio. Segue:
2/n) Esses conceitos referem-se ao que os pós-keynesianos criticam sob o nome de "axioma da substituição bruta", segundo o qual, o mecanismo de preços conduziria a economia ao pleno-emprego, através da substituição entre quaisquer bens e também ENTRE BENS E MOEDA.
3/n) Ocorre que numa Economia Monetária de Produção esse axioma não vigoraria, justamente porque a moeda possui essas tais elasticidades "diferentes" quando comparada com outros "bens", como descritas a seguir.
(tenha em mente que Keynes trabalha com o conceito de moeda exógena)
4/n) Elasticidade de produção da moeda é nula, no sentido de que um aumento exógeno da oferta (produção) de moeda, mesmo que reduza a taxa de juros e aumente a quantidade demandada de moeda, não gera correspondente elevação do emprego na “produção” de moeda.
5/n) Elasticidade de substituição da moeda por bens chega a ser nula em situação de grande preferência pela liquidez (e baixa em geral para ativos líquidos), ou seja, nessa situação, uma queda no preço de determinado bem NÃO gera substituição de (menos) moeda por (mais) desse bem
6/n) Sendo essas elasticidades da moeda "não convencionais", não tem porque ocorrer a condução do sistema real para o pleno-emprego dos fatores, podendo a economia ficar paralisada com subemprego indefinidamente, a depender da extensão da preferência por liquidez, mencionada.
7/n) Trocando em miúdos, a ideia é que, numa economia com moeda, esta, ao participar das trocas, não é "trocada" como seria qualquer outro bem. O que quer dizer que o sistema de preços não regula a oferta e a demanda por moeda como regulararia "normalmente".
8/n) Logo, não há o market-clearing esperado no longo prazo para os mercados de bens finais e também de fatores de produção. Como (supostamente) Keynes queria demonstrar!
9/n) É através deste argumento, principalmente, que os pós-keynesianos trabalham sua crítica ao mainstream. Associado aos conceitos de tempo, incerteza, não-ergodicidade para fundamentar a parte psicológica e comportamental de seus argumentos.
10/10) Referência para este esclarecimento: Paul Davidson: "Colocando as evidências em ordem" (Ensaios FEE, Porto Alegre).
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(1 de 4) Vamos combinar uma coisa (depois de uns 10 anos de discussão canseira): há variáveis que mudam mais rápido e outras que mudam mais lentamente. A essas últimas chamaremos variáveis de estrutura e, às primeiras, variáveis de conjuntura.
(2 de 4) São as variáveis de estrutura que determinam as posições normais ou naturais da economia no longo prazo. As de conjuntura alteram as situações de curto prazo e determinam as posições de mercado.
(3 de 4) Entendam: 1- variáveis normais ou naturais não anulam a existência nem o impacto das variáveis de conjuntura. 2- as variáveis de estrutura também não são imutáveis para todo sempre.