Thread by @luizacaires3

Há 80 milhões de anos onde hoje fica SP, um dino vive mais um dia comum do Cretáceo. De repente, ouve um rugido sinistro e tromba numa criatura gigante de passo manco e movimento irregular, cheia de feridas e exalando carne podre

Seria o apocalipse DINO-ZUMBI começando? Siga🧵

Calma aí dinossauro, não precisa arrancar suas penas. Você só está diante de uma pobre criatura muito doente🥺

Pois é, dinossauros também sofriam com doenças, parasitas e velhice, se tivessem sorte de chegar até lá. E a cena descrita aqui não é tão tirada da imaginação assim...

Uma pesquisa de @TitoAureliano, @alinemghilardi e colegas que acaba de ser publicada traz informações sobre uma dessas misteriosas doenças do passado.

Há mais de 15 anos a Aline trabalha com uma coleção de fósseis de dinossauros encontrados no Noroeste Paulista...

Entre eles, estão restos de dinossauros carnívoros e herbívoros que habitaram o atual Estado de SP durante o Cretáceo. Em 2017, quando a Aline analisava de novo estes fósseis, encontrou algo que chamou sua atenção

Um osso da perna de um pequeno dinossauro saurópode, da família dos titanossauros, tinha uma peculiaridade: vários caroços esponjosos que se projetavam de sua superfície, como lesões. Seria algum tipo de câncer ósseo? Aline ficou intrigada...

O cientistas ainda sabem poucos detalhes sobre doenças pré-históricas. Um dos motivos é que a maioria das pesquisas do tipo foca em descrever amostras a olho nu ou apenas com ajuda de raio-X simples, sem investigar dentro dos ossos

Aline viu aí uma boa oportunidade para avançar nesse conhecimento e avisou o Tito, que queria estudar o assunto. Eles fizeram uma tomografia computadorizada do fóssil na Faculdade de Medicina da USP. Os resultados permitiram chegar a um diagnóstico do que afligia o pobre bicho:

Osteomielite aguda, uma infecção óssea que pode causar deformações nos ossos e atinge ainda hoje humanos e outros animais. Com o modelo 3D do fóssil, gerado a partir da tomografia, deu para observar que a lesão se estendia da parte mais interna do osso até a superfície...

...onde formava as tais protuberâncias esponjosas observadas. “Devia ser extremamente doloroso para o animal”, diz Aline. Essa foi a primeira vez que foi gerado um modelo assim para fósseis com este tipo de doença.

Considerando como a doença age em organismos atuais, o dinossauro deve ter sofrido muito 💔🦕até atingir o estado grave observado, com aqueles caroços e feridas abertas expelindo pus pelo corpo, pernas e braços...

Mas a pesquisa não parou por aí! O Tito, que é especialista em tecidos fossilizados, decidiu que investigaria essas patologias no nível microscópico e preparou lâminas bem finas do tecido para estudar em detalhes a infecção

Além de revelar que o dino era idoso, a análise esclareceu como a inflamação óssea evoluiu até a formação dos caroços. Foi possível identificar até mesmo o momento em que a ferida se abriu, no passado, e foi colonizada por bactérias

Estes dados todos serão muito importantes também para o avanço no conhecimento da doença, que ainda hoje não é bem compreendida, e para seu tratamento em humanos

Mas os pesquisadores continuaram buscando explicações para a doença. Não havia sinais de fraturas ou mordidas que poderiam ter iniciado a infecção. Até que veio a surpresa...

Enquanto estudava as amostras, a paleontóloga Fresia Branco detectou a presença de um microfóssil dentro dos canais do osso do dinossauro. Observando cautelosamente, Tito encontrou mais de dez microorganismos fossilizados 😱

A paleoparasitóloga Carolina Nascimento foi convidada a analisar detalhadamente a amostra e conseguiu detectar mais de 70 microorganismos similares preservados dentro do osso do titanossauro!

Esta foi a primeira vez que foram achados parasitas preservados dentro dos ossos de dinossauros! Antes, só dentro de insetos preservados em âmbares, ou em fezes fossilizadas!

Não deu para saber se os parasitas foram responsáveis pelas lesões nos ossos, ou se as lesões facilitaram a colonização por parte dos parasitas. Mas Aline e Carolina seguem realizando mais análises, e os resultados devem ser apresentados em breve! #ansiosa

Fio: Luiza Caires, baseado em press release dos pesquisadores
Revisão: Aline Ghilardi
Imagens: @hugocafasso/ @Gabrielluislio / Artigo/Arquivo pessoal
Artigo científico: sciencedirect.com/science/articl…

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Esqueci de dizer do grande orgulho que tenho por divulgar uma pesquisa brasileira assim, pioneira, trabalho de anos, colaborações de várias universidades públicas @UFSCar @unicampoficial e até @usponline lá no começo, com a tomografia feita com o Paulo Saldiva na @FMUSPoficial ❤

Agora em vídeo! Conheça o canal @Colecionadores2 de Ossos