Tenho um palpite, mas é só um palpite, posso estar errado. Acho que várias séries da Netflix tem refletido a erupção na Europa do nacionalismo 👇
isso pode ser visto, de forma mais óbvia, no tratamento quase que obsessivo que as séries fazem do tema da imigração. Há,
No entanto, coisas mais importantes, interessantes e menos explícitas 👇
Por exemplo, a grande presença da floresta em muitas séries. A floresta, como demonstrou @simon_schama , dentre outros, é parte fundamental da construção da identidade nacional, especialmente no norte 👇
É a floresta o repositório dos mistérios que os românticos invocarão contra as certezas iluministas, o lugar no qual está o povo que guarda as tradições não corrompidas pelos estrangeirismo 👇
É na floresta que os germanos derrotam os romanos e o fazem justamente por serem gente da floresta. A série Dark, por exemplo, não deve ser vista em uma chave futurista, mas na complexa interação entre a floresta, a caverna (outra tópica de vários nacionalismo da região)👇
e a ida ao passado. Muitas séries policiais polonesas, suecas, alemãs, finlandesas, tem os seus crimes cometidos na floresta. Ainda não assisti, temo passar raiva, mas a série Bárbaros deve fazer parte deste movimento. Já vi que Armínio, o herói germânico, é figura central
não estou dizendo com isso que a Netflix esteja incentivando a xenofobia ou o nacionalismo. Apenas registrando a hipótese de que suas séries estejam refletindo uma preocupação geral com o tema da nação, tremendamente complexo e muitas vezes objeto de simplificações grosseiras 👇
Os que deram adeus à questão nacional, apostando no seu ocaso, se enganaram em toda a linha. Mais uma das muitas tentativas frustradas de enterrar o mundo que o século XIX criou 👇
A Europa que bebe vinho continua pensando, sentindo e fabulando sobre suas latinidades nacionalizadas. Enquanto isso, a Europa que bebe cerveja continua olhando para suas árvores, pedras e rios místicos.
Algo tão forte não podia ficar de fora da arte de nosso tempo.

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1 Jul
Não voltaremos ao normal, nada será como antes. Mas não por escolha, não porque o velho normal não é desejável. Não há retorno possível porque uma nova realidade nascerá da interação complexa entre várias crises que se combinarão e se potencializarão mutuamente... 👇🏼
1. crise de hegemonia no sistema internacional entre China e EUA, ou entre oriente e ocidente, de acordo com o gosto do freguês; 2. crise econômica estrutural que já vinha de antes da covid; 3. crise ecológica, com o aquecimento global como expressão mais aguda, mas não única 👇🏼
4. crise demográfica, as novas figuras do êxodo do que fala Achille Mbembe; 5 crise de saúde pública, provocada pela (s) pandemia (s) 👇🏼.

Vejam, o que virá não será a somatória simples dessas crises: a resultante será algo diferente e superior, uma síntese complexa delas.
Read 4 tweets
24 Apr
Pronunciamento de Bolsonaro foi um pout-pourri mal cozido de satisfações aos seus apoiadores; falou de armas aos armamentistas; isenção de fiscalização mais rigorosa para caminhoneiros e taxistas; escola religiosa pra base evangélica; vans para quem a gente bem sabe, etc...
(...) Dialogou com o senso comum de sua base ao reafirmar a sua autoridade e ao apresentar Moro como alguém que está preocupado com a biografia e não com o Brasil. Busca redefinir a persona de Moro, apresentando-o como um carreirista individualista em contraposição a ele (..)
(...) alguém simples, humilde, que se submete a sacrifícios, mas que não aceita abrir de sua autoridade. Continua se identificando como arquétipo - com o perdão de um uso vulgar do conceito - do pai de família médio brasileiro. Em suma, em dificuldades e sob ataque cerrado (...)
Read 8 tweets
24 Apr
O governo Bolsonaro não age como os governos tradicionais. Muitos dos erros que nós temos cometido desde as eleições, resultam de olhar o bolsonarismo como uma corrente normal, quando ela é uma corrente anômala 👇🏼
Um governo normal se fortalece agregando, juntando forças. O bolsonarismo se fortalece demarcando, separando, distinguindo. Ele não realiza composições, ele ataca permanentemente. Ele está no poder como uma tropa de assalto, não exerce o poder conquistado, 👇🏼
mas opera de dentro para conquistar o poder pleno. Dai que, como força de combate, como grupo q prepara uma nova ação, ele nunca se sedentarize, se acomode. É como se o bolsonarismo estivesse acampado no poder, pronto para um nova movimentação. Daí a sensação de precariedade 👇🏼
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9 Apr
Dezessete milhões de norte-americanos perderam os empregos nas últimas 3 semanas. Na semana que vem todos os empregos gerados nos ultimos dez anos terão desaparecido. Quem poderia imaginar isso alguns dias atrás👇
(...) esta é apenas 1 pequena amostra da violência das mudanças que ocorrem neste instante. Estamos em uma daquelas dobras da história, um daqueles momentos que valerão, nos livros do historiadores do futuro, um novo capítulo, ou até um novo tomo 👇
(...)O parâmetro histórico que temos para vislumbrar o q se aproxima é o da década de 1930.Não quer dizer que ela irá se repetir, mas estudá-la é um modo de iluminar um pouco o que se aproxima. As perspectivas, portanto, não parecem nada boas, mas a história está em aberto👇
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6 Feb
Quando eu tinha 14 anos, em 1991, fui trabalhar no @Bradesco , Agência Nova Central. Era contínuo e trampava em um departamento chamado Gerência de PAB's, responsável por cuidar desses pequenos postos do banco que ficam dentro de empresas. 👇
Mais de 20 anos depois, por uma dessas coincidências da vida, virei cliente da mesma agência para receber o salário de uma das instituições nas quais dou aula. Fiquei comovido de voltar lá, um lugar no qual passei um pedaço da minha adolescência depois de tantos anos 👇
na minha época a gerência dizia com orgulho que eramos "a maior agência bancária da América Latina. Eu, que subia e descia escadas e rampas o dia todo sabia bem: era grande pra cacete. Olhando retrospectivamente acho que fui bem feliz ali. Os amigos, o aprendizado,
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