Decreto 10531, da estratégia do governo federal para o desenvolvimento do país até 2031. Sobre educação, listam compromissos já previstos em lei há tempos e umas palavras-chave no meio: "família", "base meritocrática", "respeito às diferenças". Comento alguns pontos (1/15) 👇🧶
Estão presentes pontos nevrálgicos: Sistema Nacional de Educação; formação e valorização de profissionais da educação; ampliação de acesso, permanência e qualidade; etc. Tudo está já previsto na CF 88, na LDB, no Fundeb, na Lei do PNE. Falta dizer como vai cumprir sem $$$. (2/15)
Aí vem as palavrinhas do governo, modificando as previsões legais e dando o tom de retrocesso (mascarado). Vamos falar da primeira delas: difundir "boas práticas" de quem conseguiu dar "saltos de qualidade" e o que entendem por isso: "promoção em bases meritocráticas". (3/15)
Junto dessa historinha, o que pretendem reforçar na gestão da educação, à la Guedes: "aspectos motivacionais" e "competências interpessoais". É muito professor e diretor desmotivado - depois de jornadas triplas e com um salário miserável. Precisa melhorar issaí, taokey? (4/15)
Tem também a velha vontade - de Velez, Weintraub e ( ) todas-as-alternativas-anteriores - de modificar o currículo e as metodologias de ensino. É claro que essa BNCC não ajuda, mas a ideia aqui é, como vocês sabem: Deus e o criacionismo primeiro, Paulo Freire nunca. (5/15)
E, então, eis que a tríade "acesso, permanência e qualidade", em um momento do texto, se torna "acesso, permanência e desempenho". Nada de novo no Reino de Bolsonarca, mas é interessante quando nem disfarça, porque fica mais óbvio para quem cisma em defender o indefensável (6/15)
Aí vem o assunto sensível: gênero. Claro que o termo não é citado. A concessão fica no "respeito às diferenças" - terminologia há muito superada para "promoção das diferenças". E colocam em seguida "combate às desigualdades SOCIAIS" - não todas, né? É pedir demais. (7/15)
Claro que depois de uma mísera concessão sobre diversidades, precisa acalmar a clientela fundamentalista e se fala de quê? Isso mesmo, família. E aí vem com qual palavra? Esse verbo que não se usa para o tema das diversidades: PROMOVER! (8/15)
Deixo o trecho: "promover a participação da família na educação (...) por meio de programas de orientação e apoio às famílias, do estreitamento das relações entre a escola e a família e do respeito aos direitos dos pais ou responsáveis dos alunos." Alô, homeschooling! (9/15)
E aí aquela visão assistencialista-elitista: "amplificar o acesso à prática (...) do esporte (...) em especial para aqueles que se encontram em áreas de vulnerabilidade social". Só o futebol salva. Afinal, política de promoção da justiça social não vai ter não, táokey? (10/15)
E, por fim, para o ensino superior, reproduza todas as palavrinhas mágicas, acrescidas de propostas de "internacionalização curricular" - porque trazer de fora é mais prioridade que incluir os daqui que não têm acesso, afinal, universidade não é para todos, táokey? (11/15)
Eita, mas não falamos inglês! Então vamos "promover a política linguística para a internacionalização da educação superior". 🍒🥮 (12/15)
Por fim, vale lembrar que além da legislação que já temos e já dá a diretriz de "desenvolvimento" na educação - como falei no começo - somos signatários da Agenda 2030, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da ONU. (13/15)
Críticas aos ODS à parte (é um de meus temas de estudo e de análise crítica), não à toa, em todo o texto, essa agenda de "desenvolvimento" do governo federal se opõe aos ~globalistas~ a começar pela data final. Não é 2030 é 2031. RISOS. (14/15)
Fiz aqui um apanhado geral da agenda para a educação, mas vale ler o documento todo e ficar horrorizado com as agendas econômicas, de meio ambiente e das demais áreas sociais. Mas ficar em estado de horror não basta. 😉 in.gov.br/web/dou/-/decr… (15/15 -fim)

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20 Sep
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