Ainda sobre a nitazoxanida, reportagem na Science de hoje. E, apesar de toda essa palhaçada e a vergonha mundial que estamos passando, eu quero agradecer aos colegas cientistas brasileiros sérios e a meus colegas da @analise_covid19, que analisaram o referido estudo (1)
e colocaram os "pingos nos is" sobre como se faz ciência de qualidade aqui no Brasil. Ciência exige método e modéstia, pois o conhecimento é transitório e relativo. Desconfie de alguém que diz ter certeza sobre A ou B. O nome disso é charlatanismo. (2)
Pontos importantes da reportagem sobre a avaliação clínica do fármaco:
"Uma carga viral mais baixa tem pouco significado se não faz o paciente se sentir melhor e é improvável que reduza a transmissão da doença 10 dias após o início dos sintomas. (3)
'Todos que examinaram os dados disseram que essa redução da carga viral não tem implicações clínicas ou epidemiológicas (aqui, eu, Melissa, me incluo)', acrescenta Renato Sabbatini, da UNICAMP. (4)
Outros pesquisadores observam que, nessa fase em um caso leve de COVID-19, o paciente já montou uma resposta imune e o que o teste PCR está medindo é principalmente fragmentos de material genético viral que não advêm do vírus ativo. (5)
'O benefício modesto nos sintomas uma semana após o término do tratamento também não é motivo de comemoração. (...) Os resultados deste estudo não justificam a prescrição deste medicamento para o tratamento do COVID-19', Glória Ondina, da UFB. (6)
O governo está usando o estudo como 'mais uma peça de propaganda populista, destinada a criar uma falsa impressão de que a situação está sob controle, a pandemia não é tão grave, e tudo vai ficar bem', diz @TaschnerNatalia, presidente do Science Question Institute." (7)
Acrescento: a pandemia é grave, uma hora vai passar, mas enquanto isso a prevenção é nosso único "remédio". (8)
Reportagem da Science feita a partir de artigos da Nature e do New England a respeito da expressão de genes identificados em relação à COVID-19 grave (siga o fio...)
1. IFNAR2, que codifica um receptor para interferon, uma molécula que ativa as defesas imunológicas quando um vírus invade uma célula. "Uma variante do IFNAR2 encontrada em um em cada quatro europeus aumentou o risco de COVID-19 grave em 30%."
2. OAS, codificam proteínas que ativam uma enzima que quebra o RNA viral. Uma mudança de expressão nesses genes pode prejudicar essa ativação, permitindo que o vírus "faça a festa".