Thread by @vitormori

Mais uma obra prima do El País, agora explicando o fator de dispersão (K), que pode ser até mais importante que o número de reprodução (R) que até hoje ainda é bastante comentando.

O fator K nos diz o quão heterogênea é a distribuição de novos casos
brasil.elpais.com/sociedade/2020…

Um fator K com valor baixo indica que se por um lado a grande maioria dos infectados não transmite pra ninguém, por outro, um número pequeno de pessoas transmite pra muita gente.

Os eventos em que ocorre esse tipo de transmissão são chamados eventos de super espalhamento

Tudo indica que há uma configuração comum em praticamente todos os eventos de superespalhamento. Eventos que ocorrem em locais fechados e mal ventilados, onde tem muita gente, a maioria sem máscara e falando alto/gritando/cantando

Por exemplo, encontros familiares, festas, comemorações, casamentos ou eventos de prática esportiva (onde há uma respiração intensa).

Esses fatores corroboram a tese de que a transmissão pelo ar é muito mais prevalente do que a transmissão por superfícies

Entender que o espalhamento do vírus se dá a partir de clusters (grupo bem definido de pessoas que frequentou o mesmo espaço no mesmo tempo) nos dá muitas dicas de como conter a pandemia e quais são as principais medidas a serem tomadas

A primeira delas é que as restrições de circulação devem ficar primeiro em eventos/locais com potencial de super espalhamento. Uma das primeiras coisas a serem evitadas são encontros com muita gente em locais fechados

E aí entra um grande desafio... Estamos nos aproximando das festas de fim de ano. São necessários muitos cuidados para que sua comemoração não se torne um evento de super espalhamento. Falei sobre isso aqui

https://twitter.com/vitormori/status/1316798387119890438

E aqui eu também reforço o tripé da prevenção, que eu sempre digo

- Máscara
- Ventilação
- Sem aglomeração

Só de evitar eventos de super espalhamento já reduzimos drasticamente o tamanho da pandemia mesmo mantendo boa parte das atividades em funcionamento

O texto também explora o rastreamento de contatos retrospectivo. Hoje o que fazemos é um rastreamento prospectivo. Ou seja, uma vez encontrada uma pessoa com COVID, vamos em busca das pessoas que ela infectou para isolá-las ou quarentená-las

No entanto, como a maioria das pessoas transmite pra pouca gente, ou ninguém, acabamos não encontrando muitos casos secundários. Como a dinâmica da transmissão se dá por superespalhamento, é bem provável que essa pessoa se infectou em um evento do tipo

Então vamos procurar saber onde ocorreu essa transmissão. Em um encontro familiar? Um bar? Restaurante? Academia? A partir do momento que encontramos esse evento, vamos atrás de outras pessoas que estiveram no mesmo local e no mesmo momento

É altamente provável que encontremos MUITOS infectados com isso. Assim, podemos testar, isolar e rastrear eles para que não transmitam para outras pessoas. Especialmente os que estiverem assintomáticos ou pré-sintomáticos

Mas reforço que isso recai num grande desafio... Na prática são pouquíssimos os lugares do Brasil que estão fazendo rastreamento de contatos. Na verdade até a própria testagem é falha e insuficiente. Hoje, esse tipo de rastreamento me parece muito difícil de ser feito no Brasil

Justamente por isso acredito que ações individuais podem ter um grande efeito no combate a pandemia. Conscientizar as pessoas de que ambientes fechados, aglomerados onde as pessoas estão sem máscara não são seguros e podem levar a um número enorme de casos