Thread by @hikarumasaof

Vou contar uma história pra vcs. Vai ser 'fio' pq não cabe num tuíte só e o fio é longo. É sobre essa roda de conversa com mães atípicas. Essa roda aconteceu dia 28/09/2020. Foi na sede do PSOL em São Paulo, capital.+

https://twitter.com/andreawerner_/status/1321528725909970944

Ali @GuilhermeBoulos se reuniu com mães atípicas. Foram quase 2 horas e meia conversando com cerca de 18 mães de pessoas com deficiência. Não tinha só mãe de criança. Tem mãe de adulto também. Duas ali, pelo menos. Mães da periferia e mães 'classe média'. +

Eu sou Acompanhante Terapêutico da afilhada. Eu estudei e estudo para isso. A afilhada foi convidada a ir, então eu fui acompanhando a mãe, Samara.
Ah nossa que legal encontrar o Boulos né? +

Pois é. A afilhada, uma criança de 12 anos (de 1,68m de altura), tem autismo que chamam moderado (mas esses rótulos são foda no espectro, enfim), ela não se comunica bem oralmente. Ela não gosta de interações sociais. +

Ficamos num canto ali, enquanto a roda de conversa acontecia. Eu mostrei fotos pq ela NEM SABE quem é Boulos na fila do 'pão' dela. MAS, algo que foi muito 'mágico', foi que esse canto, era uma sala que dava passagem para o quintal onde aconteceu a roda. +

Quando @GuilhermeBoulos chegou com sua equipe, afilhada PULOU de onde estava e foi direto até ele. Meu primeiro ímpeto foi segurar, pois a gente nunca sabe a reação das pessoas. +

Ela parou diante dele (impedindo ele de seguir pro quintal) e acenando (de maneira afobada e desajeitada, que é como ela sabe fazer), disse um eufórico OI, TUDO BEM? +

Quem tem criança atípica sabe que é um momento TENSO, a gente NUNCA SABE com o interlocutor vai reagir a abordagem assim 'brusca'. Se ela não tivesse sido tão rápida, eu a teria segurado. +

Então, @GuilhermeBoulos sorriu para ela e disse: "Tudo bem e você? Qual é o seu nome?"
Ela: Eu tô bem. Meu nome é "L" (vou preservar o nome). E o seu?
Ele: Oi, L. Eu sou Guilherme.
+

Meus olhos enchem d´água de lembrar o olhar acolhedor e sincero daquele homem. E principalmente, pela INICIATIVA de contato partir dela, uma criança que detesta socializar. Não procura seus pares pra interagir. +

Nesse mundo tão frio, tem gente que poderia olhar feio pra ela, não responder (já aconteceu algumas raras vezes). E ela fica sem entender. +

Depois a equipe sugeriu que ele tirasse uma foto com uma outra criança que estava lá, usando uma camiseta "Ele Não". Quando todos se posicionaram pra foto, lá foi L novamente: "Eu posso sair na foto, posso, posso?"+

Duas interações espontâneas em um curto intervalo de tempo. Eu não sei que magia esse homi tem, mas a criança quis conversar o que nunca conversa.
@GuilhermeBoulos disse: "Claro... Vem aqui, ó..."
Apontou um local perto da outra criança e, +

e disse para afilhada: "Eu posso ficar aqui do seu lado? Você deixa?"
E ela disse sorridente: Sim, pode!
E todo mundo riu do jeitinho 'decidido' com que ela 'autorizou' o Boulos. +

Só por esse primeiro contato eu já diria que foi muito positivo. Mas depois, veio a roda de conversa. Que como falei, foi praticamente 2h 30. Onde ele ouviu CADA UMA das mães. Sem interromper em momento algum. Tomou notas o tempo todo. +

E a última mãe, se emocionou ao falar da situação na periferia. E pediu a ele, numa súplica mesmo, para que a periferia não seja esquecida.
E essa súplica bateu fundo no coração de todo mundo ali. +

Depois de ouvir todas os apontamentos, relatos de micro-violências, assédio moral e tudo mais. Todos choramos junto com ela. No fundo a súplica dela era a de todas ali.
Mães atípicas são INVISÍVEIS no sistema de saúde.
+

E aí, ele menciona a conversa tida, na sabatina, sabe?
É esse o cara que eu quero como prefeito. O 'Guilherme' que pediu educadamente pra ficar ao lado de uma criança atípica. Que ouviu aquelas mulheres e chorou com elas. #BoulosErundina50 . <fim>

@threadreaderapp unroll

Ah é, só pra comentar que ainda não conseguimos ver a foto. Se tivesse a foto eu teria ILUSTRADO o fio com ela.