Conversei há pouco com uma fonte jurídica na campanha de Trump. Queria saber mais sobre a questão da judicialização. Esses são os principais pontos da conversa.
"Nosso time jurídico sabe que o caminho legal não começa na Suprema Corte, e sim nos tribunais locais."
"A Suprema Corte americana decide quais casos vai arbitrar, conciliar, decidir."
(nota minha: diferente do Brasil, onde chega o que tiver chegar ao STF).
"Nesse caso, quem perder nos tribunais locais pode tentar chegar ao Supreme Court apontando erros, incongruências."
Agora, para mim, o ponto mais importante:
"Caso Biden vença, nosso time torce para que a campanha seja decidida em apenas UM estado. Se Biden vencer com distância de mais de um estado, a tarefa fica mais complicada, afinal, nossa campanha terá uma missão duplicada, triplicada."
Viajômetro: Tem como empatar? Tem. MUITO difícil, mas...
Se Trump levar Nevada, Arizona, PA, NC e Biden virar Georgia, ambos ficam com 269 votos e ninguém chega ao número mágico de 270. E aí?
Emenda 12 da Constituição diz que a Câmara escolheria o Presidente e Senado o VP.
Como é a votação? Na Câmara os deputados não votam individualmente, mas em bloco. Cada estado = um voto. No Senado a votação é individual. Um senador = um voto.
Tá, vamos viajar um pouco mais...
E se a Câmara nao chegar em uma escolha? O VP escolhido do Senado vira Presidente até o consenso na Câmara. E se o Senado não escolher um VP? Neste caso, presidente interino fica com a Presidência da Câmara, no momento, Nancy Pelosi.
É uma teoria muito utilizada por quem analisa a política. No entanto, é perigosa. A TNP se apega exageradamente ao bom senso, histórico e feeling. Ignora contexto, variáveis futuras, fontes confiáveis e interesses escondidos.
Na TNP a grande armadilha é cair na tentação do óbvio, por se tratar de conclusões fáceis e racionais. Nem sempre a política é. Muitas vezes a TNP funciona, afinal, não é possível que aconteça X, Y ou Z. O problema é que se apegar a TNP gera inúmeras quebras de expecativas.
A TNP aparece com mais força quando o analista está emocionalmente engajado no assunto. A emoção é um dos combustíveis da TNP. Outro é a superficialidade. Ou seja, se apegar em uma das variáveis, por exemplo:
Conversa agora a noite com pollster republicano. Ex-RNC. Consultor independente pro GOP.
- Nevada é muito difícil. Os votos de Vegas atrapalham muito;
- Arizona existe esperança por conta dos mail-in que eles esperam ser mais GOP que DEM;
- Georgia gera tensão. Expectativa de horas atrás era que não chegaria perto por conta de turnout baixo em algumas regiões democratas. Ainda confiantes;
- Confia no sistema de WI. Acha que Trump fez o que tinha que fazer, como narrativa, mas recount não deve trazer novidades;
- Clima na Casa Branca, segundo pessoas que ele conversou, é dividido. Um grupo apoiando a briga, outro desanimado e achando que se Arizona, Nevada confirmarem tendência, já era;
Em alguns estados a recontagem é mandatória, dependendo da margem. Em outros, há critérios de margem para acolher ou não o pedido de recontagem.
Michigan, por exemplo, se a distância for de 2k votos ou menos, a recontagem é automática.
Legalmente falando, Trump ou Biden não poderão acionar a Suprema Corte. É um processo, e um processo estadual. Ou seja, a batalha legal começaria nos estados onde um dos candidatos conteste o resultado.
O estado mais importante agora parece ser a Nevada e a Pensilvânia. Mas digamos que Trump vença a Pensilvânia, caso ele vença em Nevada, leva a eleição. Se ganhar PA e perder Nevada complica, pois Biden é favorito Michigan e Wisconsin. Onde estamos agora?
Georgia = 16 votos. Trump lidera, mas a maioria dos votos em aberto estão em áreas azuis: Atlanta, Savannah e outros centros urbanos. A história está ao lado de Trump. Em aberto.
Michigan = 16 votos. Biden virou e os votos de Wayne County, onde fica Detroit, foi o motivo. Cenário favorável ao Partido Democrata.