TV GGN 20h: balanço das eleições. Boletim conta com a participação de Leonardo Azvriter. Siga o fio e acompanhe os destaques
"São Paulo e Belo Horizonte continuam a mesma coisa", diz Azvriter. "A Manuela d'Ávila estava em segundo lugar, mas com uma diferença bem reduzida"
"É uma eleição de correção de rumoi em relação ao bolsonarismo. A eleição de 2018 foi completamente atípica, nada fez diferença (...) Era aquela coisa toda em torno do Bolsonaro pois ele era outsider"
"Não é que o Bolsonaro não estava envolvido em esquemas de corrupção, ele não estava em esquemas de corrupção oficiais pois só envolviam deputados relevantes", pontua Leonardo Azvriter.
"Já podemos falar em alguma recuperação da esquerda. Se, de fato, o Guilherme Boulos tiver 25%, é uma dupla recuperação: não houve segundo turno em 2016 e, agora, vamos ver um segundo turno muito disputado. Isso é muito importante",
"Porto Alegre tem uma reorganização importante em torno do PC do B, em Recife tem uma disputa na centro-esquerda e o Edmilson em primeiro lugar em Belém", explica Azvriter, que também destaca o crescimento do DEM.
"(O DEM) ganhou em primeiro turno em Curitiba e Florianópolis, deve ir para o segundo turno no Rio de Janeiro com o Eduardo Paes e tem o primeiro lugar em Salvador", diz Azvriter, ressaltando que o avanço rumo à centro-direita afetará as próximas eleições.
Sobre o contraponto de Rodrigo Maia a Bolsonaro, o professor da UFMG diz que não ter muita certeza se isso realmente fortaleceu o DEM. "O DEM teve muitas fortunas (...) O Alcolumbre virou presidente do Senado, o que não estava no radar de praticamente ninguém"
"Então, o DEM começa o mandato de Bolsonaro com a presidência das duas casas, Câmara e Senado. Depois, o Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde, com um desempenho muito melhor do que o do presidente, e o presidente tensionando com ele", explica.
"Tudo isso reforça o DEM como uma concepção de centro, ou de centro-direita, ou de uma direita mais responsável. O Rodrigo Maia faz o papel de morde e sopra, ele é viabilizador do bolsonarismo, o viabilizador da moderação bolsonarista"
"Ele (Maia) modera o Bolsonaro naquilo que é completamente inaceitável, seja para os atores internos seja para os atores externos. Se ele vai continuar nessa política, ou não, é difícil dizer". Para Azvriter, "o DEM hoje é muito maior do que o Rodrigo Maia"
Com relação ao bolsonarismo no pós-eleições, Azvriter diz que o bolsonarismo "vive um momento de isolamento que ele não esperava que ocorresse dessa maneira".
"Ele (Bolsonaro) se isolou naquele primeiro da pandemia, e ali ele levou um xeque-mate do STF. A partir dali, se moderou e achou que aquilo garantiria um final de mandato. O que acontece: derrotas muito importantes para o bolsonarismo, internas e externas"
"Externas, evidentemente a derrota do Trump, mas também o plebiscito chileno, a volta do MAS ao poder na Bolívia. Tudo isso cria um isolamento aqui na América do Sul e o Bolsonaro, o que faz? Ele radicaliza contra a nova administração"
"Então, provavelmente o bolsonarismo vai viver um momento complicado, com muita reorganização na centro-direita, com um presidente tendo cada vez menos hegemonia (...) e esse fato que ele perde apoio em muitas capitais, e vamos ver o que vai acontecer nas cidades de porte médio"
"É verdade que o Bolsonaro não precisou de capitais, nem cidades de porte médio em 2018, mas nada indica que ele irá precisar em 2022. A situação mudou", diz o cientista político da UFMG.
O tempo de televisão foi relevante, apoios políticos na sociedade civil foram relevantes. 2022 não vai ser uma eleição como 2018. Se ela for uma eleição normal, o Bolsonaro terá problemas", diz Leonardo Azvriter.
Na visão do cientista político, "os padrões de conservadorismo do eleitorado são constantes, ou se mantém: o eleitorado evangélico é mais conservador, mais antipetista e antiesquerda. Então, uma grande característica da eleição de 2018 se mantém"
Azvriter destaca que, nesse núcleo conservador, se mantém "um núcleo que não quer votar mulheres, não aceita agendas morais mais progressistas. Tudo isso se mantém, mas com menos força do que em 2018 e com menos liderança pessoal do Jair Bolsonaro nesse campo".
Sobre as disputas de segundo turno, Azvriter destaca o nível da família de Marília Arraes e de João Campos, que tentam a prefeitura de Recife, desejando "que todos os segundos turnos do Brasil tivessem candidatos desse nível, mas não vai ser assim"
"Ainda assim, vamos ter segundo turno de níveis razoáveis, como Covas e Boulos, Marília e João Campos. Onde o nível vai baixar? No Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul...A política do ódio não está superada"
Azvriter comenta o papel do PSDB. "Vamos ver o resultado final em São Paulo, claro que é muito importante para o Doria que o Bruno Covas ganhe a eleição, mas o PSDB tem problemas em muitos lugares do país".
"Em Minas Gerais, por exemplo, o PSDB elegeu em 2016 o prefeito de Juiz de Fora, Contagem e Betim, importantes colégios eleitorais do estado de MG no qual Belo Horizonte não é tão importante como São Paulo e Rio de Janeiro nos seus estados".
"Nesse momento, o PSDB não tem nenhuma perspectiva de fazer o prefeito desses três colégios eleitorais, e também não tem Uberlândia"
"O prefeito de Contagem se envolveu em um escândalo e se desfiliou, não concorreu a reeleição; o de Betim mudou de partido, foi para o PSD do (Gilberto) Kassab, o de Juiz de Fora não concorreu e os três primeiros candidatos são do PT, o PSB e o PSL"
"Então, o PSDB não vai sair em Minas sombra do que ele foi em 2016 e em 2018. Isso independentemente do que acontecer na cidade de São Paulo. Eu acho que os Democratas estão se habilitando para essa liderança do centro democrático", diz Leonardo Azvriter.
Questionado sobre a dinastia política de algumas famílias, Azvriter diz que existem famílias como Trad (Campo Grande) e Greca (Curitiba). "Dentre essas grandes dinastias, derrotado mesmo é o Marchezan em Porto Alegre, é uma derrota importante"
"Essa questão de procurar nomes novos não é necessariamente uma boa política. 2018 foi marcado por isso, ninguém nunca tinha ouvido falar no Witzel, não ajudou muito o fato de que ele renovou a política do Rio de Janeiro. Renovou para pior."
"O (Alexandre) Kalil está se habilitando para enfrentar o Zema em 2022, provavelmente o fará com sucesso por ser um político muito mais capaz", diz Azvriter sobre o cenário político em Minas Gerais.
Sobre o resultado parcial de São Luis (MA), Azvriter diz que isso pode ser um problema para o governador, Flávio Dino, "muito bem avaliado"
Com respeito ao fator religião, Leonardo Azvriter diz que o tema virou uma variável importante da política. "Já existem alguns estudos no campo da ciência política que mostram isso"
"Por exemplo: no Sul do Brasil você tem uma junção dos evangélicos, importantes por conta da imigração alemã, e os neopentecostais. A região Sul, especialmente Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tendem a ter um eleitorado mais conservador"
"No Rio de Janeiro também, a maior parte de sua população se declara evangélica, e isso vai ter uma importância embora o evangélico não possa fazer qualquer coisa"
"Acho que Rio e São Paulo mostram para a gente isso, seja a derrocada completa do Celso Russomanno, seja a rejeição ao Crivella, mostra que ninguém vai dar uma carta branca para um prefeito, para um governador, simplesmente por causa da religião deles"
"O grupo de eleitores religiosos, especialmente evangélicos, é mais conservador do que o grupo de eleitores católicos"
Sobre os militares, Leonardo Azvriter diz que "o Exército Brasileiro parece que é menos uma instituição com uma missão muito clara do que um grupo de pessoas buscando benefícios corporativos"
"Se, de fato, o Exército Brasileiro tivesse orgulho em relação ao que as Forças Armadas deveriam ser, estariam se posicionando mais fortemente em relação aos descalabros do presidente"
"As lideranças mais importantes dos militares se posicionam, mas o oficialato parece estar muito satisfeito com os cargos que estão ocupando", diz Azvriter, citando os diversos revezes sofridos pelo presidente na última semana.
Questionado sobre a falta de referencial no qual se encontra o país, Azvriter diz que o país vive um impasse de longo prazo. "O Brasil perde influência, liderança, capacidade de se posicionar no Conselho das Nações. Não é um bom momento para o país".
"Se o eleitor gostar de outsiders, melhor procurar bem. Esse outsider que ele escolheu em 2018 não tem a menor condição de liderar o país"
"Agora, é isso o que o DEM vai ter que analisar no ano que vem, na medida em que construa uma hegemonia mais forte. Vale a pena caminhar com o Bolsonaro até o fim do mandato dele? Os motivos pelos quais ele pode ser impedido são os mais amplos possíveis".
Para Nassif, a pandemia atrapalhou muito as campanhas eleitorais em cidades pequenas e médias "por impedir uma circulação maior de candidatos".
"Em Minas Gerais, o PT deve ter boas vitórias em cidades de porte médio", diz Azvriter, citando uma provável vitória em primeiro turno em Contagem, a candidata do PT em Juiz de Fora também lidera. "A gente teria de ver se houve ou não essa recuperação"
"Em 2016, dos partidos que a gente poderia considerar do campo de esquerda, o único que terminou em posição de prefeituras maiores do que entrou foi o PDT, com forte concentração no Ceará"
"PT, PSB e PSOL perderam um número muito grande de prefeituras, especialmente o PT, que só fez uma prefeitura dentre as 100 principais cidades do país"
Apenas em Minas Gerais, o PT perdeu 70 prefeituras nas eleições de 2016, e algo parecido em São Paulo. "Muitos prefeitos mudaram para outros partidos de esquerda, pois realmente havia uma disposição do eleitorado em não votar em candidatos do PT", pontua Azvriter.
"Vai haver essa recuperação? Alguma recuperação vai haver, mas quão significativa ela vai ser a gente vai saber nos próximos dias", explica o professor da UFMG.
Em 2016, o PSOL não teve coligações, concorreu em 404 prefeituras e venceu em apenas duas. "O PSOL tinha dado a impressão de que tinha ido bem em 2016 pelo segundo turno no Rio de Janeiro, mas o desempenho eleitoral foi muito ruim", diz Azvriter.
Contudo, o cientista político explica que o PSOL "tem atraído lideranças de movimentos sociais, como o Guilherme Boulos, a Áurea Carolina. O PSOL conseguiu atrair lideranças de movimentos sociais e está tendo resultados muito melhores em 2020 do que em 2016".
A íntegra da entrevista pode ser vista aqui -

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Luis Nassif

Luis Nassif Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @luisnassif

18 Nov
Da inacreditável Globo News sobre o lockout no Amapá: esses problemas existem há vários governos. Não é verdade. O sistema integrado sempre operou com eficiência. Falhou no desmonte de FHC e começou a falhar no desmonte pós-Temer.
Fantástico! A cupa é da falta de recursos públicos para investir e a aversão do Congresso à privatização. Políticos da região gostam de utilizar as estatais. O sistema do Amapá foi privatizado. Repito: não há filtro de qualidade no canal.
É evidente a necessidade de impedir interferências políticas nas estaduais. Em vez de discutir formas de impedir, sem desmontar o sistema, fica esse discurso oportunista de falsificar os fatos, gerando fakenews.
Read 11 tweets
17 Nov
Luis Nassif entrevista Jilmar Tatto (PT), no TV GGN 20h, desta terça-feira, 17 de setembro. Acompanhe os destaques no fio a seguir
Covid-19 Brasil: Após dias do apagão de dados, as informações apontam para um crescimento na média diária semanal da doença, que chegou a 30.245 novos casos
Covid-19 mundo: Suíça é o país com mais novos casos per capita. Os EUA contabilizam 168 mil novos casos diários. A Europa bate recorde de picos de casos nesta terça. A curva mundial da doença está em plena elevação
Read 12 tweets
16 Nov
Antes, cada Tribunal Regional Eleitoral centralizava as apurações dos seus municípios e despachavam os resultados para a consolidação final, no Tribunal Superior Eleitoral.
Aí, o MInistro Luis Roberto Barroso decidiu centralizar tudo em Brasilia. Todos os focos da atenção se esviariam para o TSE, presidido por ele.
Assim, o trabalho de 25 computadores acabou sendo assumido pelos computadores do TSE. Que não aguentaram a demanda. Com isso, Barroso conseguiu o primeiro fracasso da apuração eletrõnica desde a sua introdução.
Read 4 tweets
15 Nov
AO VIVO: Os cientistas políticos Aldo Fornazieri e João Feres Júnior discutem junto com a TV GGN os primeiros resultados parciais das eleições 2020. Acompanhe os destaques no fio a seguir: Image
Sobre o significado das eleições, Aldo Fornazieri diz que a,lgumas coisas podem ser apontadas, como o fortalecimento do DEM e uma derrota muito grande do PT - "em que pese ir para o segundo turno em Recife e, talvez em Vitória"
"(O PT) Teve uma votação muito baixa, em São Paulo foi aquém do que se esperava, em Belo Horizonte teve uma votação até espantosa, em torno de 1%", diz Aldo.
Read 50 tweets
15 Nov
Acompanhe o fio para conferir o resultado parcial das eleições municipais nas capitais brasileiras
Florianópolis (SC) lidera a contagem dos votos, com 77% das urnas apuradas por volta das 18h15, apontando vitória de Gean Loureiro (DEM) no 1º turno, com pouco mais de 54%. Elson (PSOL), 18% até o momento.
Belém (PA) tem mais de 60% das urnas apuradas e aponta 2º turno entre Edmilson Rodrigues (PSOL) e Delegado Eguchi (PATRIOTA): 33% a 23%, por enquanto.
Read 21 tweets
15 Nov
O resultado Boca de Urna (IBOPE) de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife no fio a seguir, acompanhe
Pesquisa a divulgada às 17h08 deste domingo (15) mostra que o segundo turno em São Paulo deverá ser disputado entre Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL).
Confira os números relacionados os votos válidos em SP:
Bruno Covas – 33%
Guilherme Boulos – 25%
Márcio França – 13%
Arthur do Val – 8%
Celso Russomanno – 8%
Jilmar Tatto – 8%
Read 7 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!