A 12ª cúpula presidencial do grupo BRICS aconteceu na terça-feira (17/11). Em função do seu formato virtual, e por causa das eleições americanas, a reunião recebeu pouca atenção. Mesmo assim, enganam-se aqueles que pensam q o grupo deixou de ter um papel geopolítico relevante🧵👇
Desde 2009, quando os presidentes do grupo se reuniram pela primeira vez, comentaristas disseram que o grupo não teria futuro. Porém, os presidentes se reúnem anualmente até hoje -- e mesmo Bolsonaro, que prometeu romper com qq "tradição petista", abraçou a iniciativa. Por que?
Três razões se destacam: primeiro, o grupo é uma espécie de seguro contra o isolamento diplomático. Quando a Rússia invadiu a Crimeia e sofreu sanções do Ocidente, o grupo BRICS se recusou a isolar a Rússia, apesar da violação do direito internacional que a anexação representava.
O mesmo acontece com Bolsonaro. Cada vez + isolado no Ocidente, o BRICS tornou-se seu salva-vidas diplomático. O presidente brasileiro dificilmente seria recebido para uma visita oficial em um país europeu hoje (com exceção da Hungria e Polônia, q têm líderes de extrema-direita).
Além disso, o grupo estabelece canais institucionalizados de comunicação entre os países, permitindo o diálogo mesmo em momentos de crise pelos quais as relações bilaterais inevitavelmente passam. Nem a disputa de fronteira entre Índia&China afetou a participação deles na reunião
Por fim, o grupo BRICS é um caso clássico do q chamamos de 'soft balancing' na teoria das Relações Internacionais- um agrupamento de países grandes sem participação dos EUA não é uma estratégia agressiva contra Washington, mas ajuda a mitigar o impacto da liderança global dos EUA
Mesmo com Bolsonaro no poder, outros integrantes do seu governo -- como Hamilton Mourão -- entendem que fazer parte do grupo BRICS e ter a China por perto não apenas traz vantagens econômicas, mas também pode fortalecer a posição do Brasil nas negociações com os EUA.
No meu livro "BRICS e o Futuro da Ordem Global", descrevo de maneira mais detalhada por que o grupo veio para ficar -- e por que traz benefícios relevantes ao Brasil em um mundo cada vez mais Ásia-cêntrico.

amazon.com.br/BRICS-futuro-g…

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19 Nov
Putin praised Bolsonaro in an address to a virtual summit of the BRICS grouping. "I know [your fight against covid] must not have been easy, but you faced it like a real man & showed the best qualities of masculinity, such as strength & willpower." The two share a few traits 🧵👇
The Russian leader looms large in the Bolsonaro gov's world view. Brazil's Foreign Minister is said to have proposed a trilateral alliance between Trump, Putin and Bolsonaro late last year. Now that Trump is gone, Bolsonaro may consider elevating Putin to his greatest inspiration
In addition to their anti-democratic views, both Bolsonaro & Putin share a paleoconservative streak, promising to recover a glorious past from beneath the supposedly 'liberal distortions' and ‘post-Christian’ trends (such as homosexuality, feminism & atheism).
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17 Nov
Por que Trump se recusa a reconhecer sua derrota? Há duas razões muito práticas, que mostram que o presidente já está pensando nas eleições de 2024.👇🧵
Primeiro, a recusa de Trump em reconhecer sua derrota constrange os senadores republicanos mais moderados. Para eles, qualquer tipo de cooperação com o presidente Biden se tornará um risco eleitoral.
Afinal, um número elevado de eleitores que votaram em Trump podem enxergar o gesto como uma traição. Essa postura vai atrapalhar muito o governo Biden.
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16 Nov
Não há dúvida de que a derrota de Trump pode ser interpretada como prova de resiliência da democracia americana. Vista dessa perspectiva, a principal diferença entre os EUA e países cuja democracia colapsou ao longo das últimas décadas seria a qualidade de suas instituições.👇🧵
Porém, enquanto as instituições certamente tiveram papel relevante p/ explicar o fracasso do projeto autoritário de Trump, há uma outra razão, possivelmente ainda mais importante: a democracia sobreviveu, acima de tudo, graças à incompetência e à falta de disciplina do presidente
A verdade alarmante é que uma versão igualmente autoritária, porém mais disciplinada, mais afável e empática, mais paciente e mais competente de Donald Trump, provavelmente teria sido reeleita com tranquilidade.
Read 4 tweets
16 Nov
Enquanto os EUA estão absorvidos por divisões internas e cada vez mais céticos com a globalização, a China acabou de celebrar um dos maiores sucessos de sua política externa, liderando a formação do maior bloco comercial do mundo - preenchendo o vácuo deixado pelos EUA. 👇🧵
A Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP em inglês) conta com 15 nações - quase um terço da econômica mundial. Se antes os EUA eram a nação indispensável na promoção da globalização, a fila andou. A criação do bloco mostra que a Ásia está se adequando ao novo status quo.
O mais impressionante: os integrantes deixaram de lado as grandes diferenças geopolíticas para impulsionar o comércio e o crescimento. Além da China, a RCEP inclui Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia e mais 10 países do Sudeste Asiático, incluindo Indonésia e Vietnã.
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10 Nov
It emerged today that Brazil's Foreign Minister and Trump fan Ernesto Araújo for the first time asked his advisors on Sunday about how a Biden victory would impact the world. According to sources, Araújo had avoided considering the scenario of a Biden victory until very recently.
Considering that Biden was leading in the polls for months, blindly trusting in Trump's capacity to pull off a surprise victory without hedging your bets is a catastrophic error of judgement for a Foreign Minister of Brazil, which in many ways depends on strong ties to the US.
It suggests that Araújo probably lives within a radicalized bubble of pro-Trump news, where the US president's reelection was never in doubt. Indeed, a while ago he removed Brazil's largest newspaper from clippings that are sent to Brazilian embassies bc he didn't like their work
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8 Nov
Bolsonaro's decision not to congratulate Biden until Trump has conceded represents the dilemma the Brazilian president will face: how to establish a productive working relationship with the US president without betraying trumpism, which will seek to discredit Biden from day one.
Bolsonaro's strategy may strike observers as incoherent, but his foreign policy strategy so far has been extremely disciplined, always meant to keep his radical supporters mobilized, even if doing so comes at a tremendous economic cost to Brazil.
When he decided to attack countries such as Argentina, China, Norway, France (and multilateralism), his underlying assumption has always been that the political benefit of doing so exceeded the economic cost. He'll make that very same calculus when deciding how to deal with Biden
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