Nasces e cresces num bairro com esgoto a céu aberto, onde luz é só para quem tem gerador, mas ninguém tem porque quando se sacrifica para comprar lhe roubam, onde água só de bidon, onde o camião de lixo não chega por isso a montanha de dejetos fica mais alta que casas.
Essas montanhas onde já brincaste e onde, hj, os teus filhos brincam, desafiando td o tipo de patologias q dali podem derivar, vendo desde cedo os amigos adoecer e morrer só pelo prazer de envergonhar o governo q tanto se esforça p reverter a situação, cuja culpa refuta, (...)
(...) sobrevives à doenças nunca diagnosticadas, à criminalidade, à acusação de bruxaria depois de um tio qualquer aparecer morto, às balas "perdidas" ou "erro de identificação" de uma polícia que brinca de bang-bang, (...)
(...) resistes e estudas, contra todas as adversidades aprendes sobre cidadania, sobre os direitos civis, que a tua situação tem um culpado e não se chama deus, decides então reivindicar com o dedo acusatório em riste e arriscas mais violência, (...)
(...) dessa vez devidamente uniformizada e sistematizada pelo estado que tem a missão de te proteger mas te considera os teus neurónios sobreviventes uma ameaça.
Começas a tentar usufruir desse direito e impedem-te de o fazer, baseado em argumentos de bica-bidon.
Quando chegas ao local para protestar, encontras a polícia que musculada, arrogante e formatada para obedecer a ordens superiores indiferente dela ser legítima ou não, te ordena que desistas e voltes para trás. O que fazes. Uma, duas, três vezes, até que decides desobedecer.
Nesse dia, levas porrada, vais p uma esquadra onde passas umas noites até seres levado a um juiz q, percebes, pouco se importa com a tua história ou a tua versão e está com pressa p condenar-te, o que acaba por suceder. Acabas na prisão. Tentam quebrar-te emocionalmente. Falham!
Como "todo que prende, solta", acabas por sair, mais convicto do que anteriormente, menos tolerante aos abusos de poder.
Voltas à rua porque no bairro a situação continua igual e as crianças ainda brincam no monte de lixo. Voltas a levar porrada, mas agora já tens "nome na street" e já não podem te brincar tanto porque vai sair nas notícias e estragar o jantar do chefe.
Voltas de novo, insistindo no teu pacifismo apesar das agressões permanentes às quais és sujeito, consciente que só assim, pela teimosia nessa estratégia, poderás desmantelar a narrativa que os teus némesis tentam a todo o custo criar de ti, usando o seu braço longo da imprensa:
"terrorista, amante da guerra, golpista, da UNITA, arruaceiro, frustrado, sem sucesso académico", sem que nunca te seja dada a possibilidade de te defenderes, de contra-argumentar.
E fazes isso um, dois, três, quatro anos, tempo suficiente para o maior dos acéfalos com dois dedos de bom senso e um pouco de curiosidade perceber que o problema afinal não és tu.
Um dia perdes as estribeiras e reages à violência, porque mesmo Cristo só tinha duas faces para oferecer. Decides mostrar indignação e oferecer resistência com as ferramentas que tens: respondes a tiros de balas reais com pedras, bloqueias estradas e metes fogo a pneus.
Aí vem aquela pessoa que só sai de Talatona para Cabo-Ledo, Mussulo, discoteca ou aeroporto, que o único contacto com o gueto que teve foi transitar pela Avenida Deolinda Rodrigues, sem nenhum contexto, determinar que (...)
(...) só por esse pneu a arder e por teres lhe feito perder umas horas no trânsito mereceste toda a porrada que a polícia te deu.

Olha.... FILHODAPUTA YÁ?

#manif10dez
#resistencia
#retrocessonao

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7 Dec
Cerca de 350 mortes por COVID-19 em 8 meses: 164,6 milhões gastos

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