Colorir fotos é um processo solitário. Antes mesmo de começar a colorização, passo horas - ou até dias - lendo, pesquisando, estudando e vasculhando histórias.
É demorado, às vezes emocionalmente desgastante, mas eu amo cada segundo.
Meu trabalho me deu a oportunidade de conhecer pessoas incríveis: professores, historiadores renomados, autores; e alguns até se tornaram amigos.
Mas, mesmo que todos esses encontros signifiquem muito para mim, nenhum deles consegue ou conseguiu me preparar...
... para os momentos em que tenho a oportunidade de conversar com parentes de pessoas retratadas nas fotos que colori.
É como se aquelas “personalidades históricas” - estranhos que se aproximam tanto de mim, de uma forma esquisita...
... já que passo tantas horas na “companhia deles”, restaurando e aplicando cores em suas fotos desbotadas, se materializassem na minha frente.
Foi o que aconteceu quando Frank Garahan, filho do Capitão Thomas H. Garahan entrou em contato comigo.
Quando a guerra estourou, Thomas H. Garahan tinha 28 anos, era casado há dois anos e tinha uma filha, Kathy. Sua esposa, Kate, estava grávida de seu segundo filho.
Escrever cartas para Kate era um hábito que ele praticava sempre que possível e, felizmente, ela guardou tudo.
Depois de ler essas cartas (algumas vezes, imagino) e os relatos em primeira pessoa de seu pai, Frank decidiu embarcar em uma jornada e refazer seus passos: uma viagem que cruzou oceanos.
No dia 16 de março, às 7h30, a Companhia E, seguida pelo segundo batalhão, entrou nas ruas de Bitche, na França. Os habitantes da cidade rapidamente perceberam que a libertação estava próxima.
Um dos primeiros a saudar as tropas foi George Oblinger, proprietário do Auberge le Strasbourg. Ele saiu de casa com uma bandeira americana que sua esposa Maria havia feito a mão, e a entregou ao capitão Thomas H. Garahan.
Logo após receber a bandeira, Tom, com alguns membros de seu pelotão, a levou para um apartamento no segundo andar acima de uma loja, a apenas algumas portas de distância.
Um fotógrafo correspondente de guerra estava presente e tirou a foto.
E aqui, eu entro na história.
Eu colori a foto original em 2016. Essa foto significa tanto para mim que tornou-se um hábito republicá-la todos os anos nas minhas redes sociais.
Foi o que fiz essa semana, sem saber o que aconteceria algumas horas depois.
"Olá Marina. O oficial que segura a bandeira é meu pai. Estive em Bitche muitas vezes e sua foto colorida está em um novo museu lá. A bandeira foi feita em segredo, escondido dos nazistas durante a ocupação, por uma mulher no hotel ao lado da foto.
A bandeira foi entregue ao meu pai naquele dia. Tenho muito a te contar sobre a história e seu envolvimento com ela. Entre em contato comigo para saber como compartilhar. Obrigado por tudo o que você fez. Frank"
Assim que vi o tweet, mandei uma mensagem privada para o Frank, e ele me deu mais detalhes: “A versão resumida da história é que nossa família sempre foi apaixonada pela foto, mas nosso pai raramente falava sobre ela. Depois que ele morreu em 1988...
... reunimos suas tropas algumas vezes. Quando você coloriu a foto, isso trouxe uma nova vida ao evento. Fiquei determinado a saber mais. Isso levou à minha viagem, e a como a cidade abraçou sua obra de arte como...
... o marco mais importante do legado de uma história que remonta a séculos. Você deveria estar muito orgulhosa de sua contribuição para a história da Bitche.”
- Essa é a foto colorida e a bandeira original. Ambas estão agora no museu em Bitche.
Então, eu disse a ele que, após uma semana em que deixei a síndrome do impostor assumir o controle algumas vezes, essa mensagem era tudo de que eu precisava.
As pessoas costumam dizer que meu trabalho transforma vidas. Ouso contestar e dizer que sou eu quem passa por uma profunda transformação cada vez que tenho o privilégio de ouvir e contar essas histórias.
"In 1943 the Allies established the Monuments, Fine Arts, and Archives Section. Nearly 350 men and women from 13 countries joined the unit known as the “Monuments Men.”
From 1943 to 1945, they managed to save 5 million cultural relics."
Colorizing photos is a lonely process. Before I even begin the colorization itself, I spend hours – or even days – reading, researching, studying, and finding stories. /1
It is time-consuming, sometimes emotionally draining, but just as enjoyable.
My work gave me the opportunity to meet incredible people: teachers, renowned historians, authors; and some became close friends.
But... /2
... even though all these encounters mean a lot to me, none of them are or were able to prepare me for the moments when I have the opportunity to talk to relatives of people portrayed in the photos that I colorized. /3