Hoje na emergência, atendendo casos de COVID-19.
Caso 1 homem de 56 anos, que ficou sintomático 3 dias após um churrasco em que “só tinha família”; Caso 2 rapaz de 34 anos sentiu desconforto respiratório ao iniciar partida de futebol que faz semanalmente com seus amigos; Caso 3
Solicitação de orientação que recebi, uma senhora de 90 anos que só sai para um almoço na casa do filho, na área externa; no último final de semana o neto ficou trancado no quarto porque teve contato com caso suspeito, a nora estava assintomática. Ambos confirmaram COVID-19
Ilustro esses casos não para culpar as pessoas, a gente sabe que as coisas não estão fáceis, mas frente a pandemia descontrolada e o governo que não sabe porque estamos angustiados, precisamos nos proteger uns aos outros. Distanciamento é preciso, é doloroso mas necessário.
Vamos procurar vias de saída!
Fim de expediente (só por hoje!)
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Tem mais uma história do ambulatório, de uma paciente com uma sacola cheia de exames e nenhum deles dava resposta ao que ela tinha... semanas atrás ela havia procurado a emergência com palpitações, desmaios e pressão descontrolada (sic), o eletrocardiograma era normal...
Passou por distintos médicos, foram pedidos exames diversos, ecocardiograma, holter, hemograma, exame de tireóide...e ela chega com uma pasta cheia de exames de receitas. Eu pergunto: como você passou essas semanas, e ela passa a ler resultados dos exames. Eu peço: feche a pasta
diz o que você está sentindo, o que te preocupa? Ela chora, chora, engasga. Medo de morrer, de sair de casa em plena pandemia. Cuida da filha sozinha. Minha filha tem oito anos, se eu morrer não tem quem cuide dela, no meu setor se eu morrer no dia seguinte tem outra funcionária
Hoje comecei o ambulatório atrasado atropelado pela emergência cheia (inclusive de gente com COVID19). A primeira paciente era uma mulher de 40 anos, na última consulta ela tinha dor no corpo inteiro, ela estava de luto, foi prescrito um medicamento ao qual ela não se adaptou bem
Dor crônica recorrente precisa de medicamento mas também precisa entender o que causa, normalmente alguma tensão, ela tinha certeza de que tinha câncer assim como o irmão enterrado há poucos meses. Então terapia e exercício. Eu descobri uma coisa relevante: ela gostava de forró.
Não havia sinal algum dela ter câncer ou outra doença, a não ser a dor do luto. Hoje ela voltou sorrindo, disse que está dançando todo dia, sozinha no espelho, toca Gonzaga e Dominguingos e Cremilda... nunca mais teve dor. Nem remédio tomou. Quer dizer nem medicamento tomou.
Homem de 60 anos, independente, tem um AVC em casa e é acudido por vizinhos. Consta que não tem família. O SUS o socorre: Samu, PS do HU, tomografia. Fica hemiplégico e depende de sonda para se alimentar. Problema: ele não tem quem venha buscá-lo
Equipes médica/enfermagem/ nutrição/ fono cuidam dele no PS. O serviço social localiza a irmã que na zona ruaral de Ilhéus. Ela pega o primeiro ônibus, após 3 dias encontra o irmão, grave mas limpo, bem nutrido, medicado pelo SUS. Ela só tem a roupa do corpo e não tem $ pra volta
A MELHOR médica de emergência que conheço, ética e cientificamente propõe uma vaquinha, consegue recursos; um esculápio oferece as passagens. No aeroporto de Ilhéus o SUS agurda: ambulância do município para a unidade de saúde. O Homem volta a casa, cuidado pela irmã e pelo SUS