E ai, gente, afim de mergulhar num penico entupido? Vamo falar da machosfera, o primeiro grupo que vai aparecer no site.

Pra galera que não quer ver misoginia, babaquice e grandes pitadas de racismo, sugiro vídeos de gato no YouTube. A partir daqui o bagulho fica RUIM. Avisados
"Mas o que é a machosfera? Quem participa? É realmente perigoso ou é um monte de menino que gosta demais de anime e videogame? Racismo?? Achei que eles fossem só meio machistas!"

Vamos por partes, gafanhoto
A machosfera não é um grupo fechado, é um ecossistema de fóruns e produtores de conteúdo. Dentro da machosfera temos muitas facções (incel, mgtow, pua, #/gamergate, movimento de direito dos homens...), mas vamos entrar nelas em outros momentos.
"Mas se não é um grupo fechado que você se inscreve para entrar, o que conecta todas essas facções para caracterizar isso como um ecossistema?"

O dialeto que eles usam. Esse dialeto é muito importante e cumpre diversas funções. Vamos ver.
Primeiro, é um dialeto extremamente misógino. Termos como escravoceta, cuié e mangina servem primeiro para comunicar ódio a mulheres de forma bem rápida e direta. Uma pesquisadora estadunidense, Emma Jane, chamou esse dialeto de rapenglish (contração de rape, estupro, e english)
Segundo, serve como elemento de identificação. Como não é um grupo fechado, eles se reconhecem a partir do uso desse dialeto. E por ser um dialeto comum de diversas facções, permite também o fluxo de participantes entre essas facções.
O terceiro ponto é muito importante; serve como instrumento de fagocitose de novos participantes que estão mais na periferia desse ecossistema. Por exemplo, um jovem interessado em vídeo game pode acabar num canal de YouTube mais mainstream, mas que usa alguns desses termos
Se acostumando com esses termos e sendo recomendado outros vídeos q os utilizam, o menino pode caminhar para grupos mais internos (e violentos) da machosfera. Como a forma do discurso não é alterada, apenas o conteúdo, é fácil achar q continua consumindo o mesmo tipo de material
A questão do "quem participa" é delicada, pq o anonimato é muito importante para algumas dessas facções. Como acreditam estarem vivendo em um mundo dominado por mulheres, tem medo de retaliação. Mas assim como eles se reconhecem a partir do dialeto, também podemos reconhece-los
"Ok, mas é um grupo realmente perigoso? Parece só um monte de estranho de internet"

Bom, eles mesmos admitem a violência contida nesse ecossistema, eles chamam de "RedPill Rage". Seguimos para entender melhor
Essas facções da machosfera se entendem como "filosofias de vida", um filosofia que você toma conhecimento quando escolhe ingerir a "redpill" (referência a Matrix), o momento que "vê que foi mentiram o tempo todo e o mundo é comandado por mulheres"
Essa "tomada da pílula" é um processo de transformação e um desses processos inclui o "RedPill Rage", um momento de raiva muito grande que eles passam, tão recorrente que tem até nome. Muitas vezes essa violência é percebida através de assédio na internet a mulheres
Mas as vezes toma forma de atentados violentos armados, como o da escola de Realengo. Essa violência é instigadas nos fóruns e produtores maiores de conteúdo são, no mínimo, "compreensivos" com essa raiva, "por terem mentido para nós".
O problema, então, não é a formação de um massivo grupo fechado fazendo grandes atos de violência, mas sim a radicalização de lobos solitários capazes de cometer atos de violência poucos previsíveis em pontos variados.
"Mas racista? Até agora só vi machismo até agora"

A questão do racismo será mais evidente durante a semana, quando falarmos mais a fundo das diversas facções, mas podemos dar uma ideia agora. Uma das ideias da machosfera é a divisão de homens entre alphas e betas
Alphas seriam homens que obtém sucesso com mulheres e betas homens fadados a serem traídos ou solitários. A determinação de quem é beta ou alpha, muitas vezes, é a partir de sua "genética". Alphas teriam "genes melhores" e por isso mulheres seriam "naturalmente atraída por eles"
Esses "genes melhores", além de espinhosa aproximação de ideias eugenistas, frequentemente estão ligados a branquitude. Homens negros, indígenas e amarelos são frequentemente mais caracterizados como betas. Assim como mulheres brancas frequentemente são tidas como mais bonitas
Por hoje ta suficiente de radiação tóxica, gente. Vamos comer umas frutinhas e tomar água para voltar amanhã prontos para entender mais sobre as facções da machosfera.
Referenciados nesse fio:
Systemic misogyny exposed: Translating Rapeglish from the Manosphere with a Random Rape Threat Generator -
Emma A Jane
journals.sagepub.com/doi/abs/10.117…

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