1/ Desde a vitória de Joe Biden nas eleições americanas, as oposições brasileiras debatem em identificar quem poderia ser o “Biden brasileiro”, a versão nacional do candidato capaz de unir mais da metade do País e derrotar um presidente da extrema direita. É uma busca inútil+
2/Primeiro porque as circunstâncias partidárias americanas obrigam a união em torno de um nome, enquanto no Brasil isso só acontece no segundo turno. Quando acontece. Segundo, porque o Joe Biden brasileiro é o próprio Biden+
3/Diplomatas, consultores e empresários com negócios nos dois países têm repetido que as pendências entre Biden e Jair Bolsonaro vão dissipar uma vez que o novo governo tome posse. Os interesses econômicos vão falar mais alto, argumentam.
Duvido.+
4/Bolsonaro chegará a 2022 sem resultados econômicos e com o desastre do combate à Covid nas costas. Ele precisa do discurso ideológico para manter sua base agitada e isso implica em manter em fogo alto o discurso da soberania nacional +
5/Bolsonaro acredita que poderá repetir com os Estados Unidos o mesmo comportamento de líder malcriado que mantem contra a China, a União Europeia e a Argentina+
6/Para Biden também uma querela não é ruim. Enfrentar Bolsonaro em defesa da Amazônia é uma alternativa barata para não desapontar a ala ecossocialista do partido Democrata, liderada pela popular deputada @AOC+
7/Ter um peso-pesado para desgastar Bolsonaro em 2021 é um quadro de sonho p/ as oposições. Se perderem na Câmara _ o que é possível_ elas ficarão restritas às notas de repúdio e editoriais que ninguém lê. Joe Biden, quem diria?!, pode ser o Biden perfeito contra Bolsonaro.
2020 está sendo um ano triste, mas que arrancou de jornalistas, cientistas políticos, historiadores e economistas livros capazes de explicar melhor o Brasil. Fiz uma lista particular dos melhores lançamentos do ano. Não há ordem, apenas gratidão aos autores. Siga o fio:
1/Todo debate presidencial começa com a mesma pergunta “por que o senhor, ou a senhora, quer ser presidente?”. É tão feijão-com-arroz que os marqueteiros oferecem módulos prontos de respostas que variam entre o piegas, o egocêntrico e o coach (“vamos gerar oportunidades”)+
2/Bolsonaro não queria ser presidente para acabar com o déficit público e privatizar estatais. Esses eram os pretextos p/ a turma da Faria Lima. Também não foi para acabar com a corrupção e o Flavio está aí para provar
3/Bolsonaro quis ser presidente para acabar c/ as leis ambientais e de direitos humanos, as ONGs, o laicismo no serviço público, os sindicatos, a liberdade de imprensa, o movimento GLBT,a urna eletrônica, a diplomacia multilateral, manifestações de rua, enfim “tudo isso daí” +
1/Datafolha
Começamos c/ Brecht
"Após a insurreição de 17 de Junho
O secretário da União dos Escritores
Fez distribuir panfletos na Alameda Stalin
Em que se lia que, por sua culpa,
O povo perdeu a confiança do governo
E só à custa de esforços redobrados
Poderá recuperá-la+
2/ "Mas não seria
Mais simples para o governo
Dissolver o povo
E eleger outro?"
Como dá para trocar de povo, se a oposição quiser vencer em 2022 vai ter de mudar ela mesma. A aprovação de Bolsonaro diz menos sobre as qualidades de seu governo do que a falta de alternativas+
3/A oposição tem duas opções. A primeira é construir um projeto alternativo a Bolsonaro com parâmetros mínimos para que todos se juntem num segundo turno. Foi a saída que Joe Biden formou para defenestrar Donald Trump da Casa Branca+
1/Dos dados do Datafolha, o mais chocante é a aderência do discurso anti-China. Metade dos brasileiros se recusaria a tomar uma vacina chinesa, enquanto a rejeição à vacina dos Eua é de 23% e da Rússia, 36%
2/Essa xenofobia será um problema de saúde públicas quando a vacinação começar e parte da população não se imunizar pela campanha pessoal do presidente e parte por temer a China
3/Isso irá se repetir na disputa do 5G, na qual a Huawei já é combatida por sinofobia de Bolsonaro
1/Políticos e tubarões sentem o cheiro de sangue na água. Até o STF vetar a manobra da reeleição dos presidentes do Congresso, Rodrigo Maia era “o cara”. Em dias, virou pato manco. O seu maior adversário, Arthur Lira, é HOJE o franco favorito para presidência da Câmara+
2/Líder do Centrão _a geleia de partidos que participa de todos os governos desde João VI_ Lira é o candidato do presidente Jair Bolsonaro. Foi em troca de potenciais votos para Lira que Bolsonaro demitiu o ministro do Turismo+
3/Como todo candidato, Lira é camaleão. A Bolsonaro, prometeu colocar para votar a liberação de armas, Escola Sem Partido e novas restrições ao aborto. Aos ruralistas, a lei da grilagem. A Paulo Guedes, aprovar a nova CPMF. À turma do mercado financeiro, a reforma tributária+
1/Doria é arrogante? Com certeza. Exagera na dose? Muitas vezes. Passa do ponto? Sim. Dito isso, Doria tem toda razão em desmascarar a agenda política de Bolsonaro e seu ministro da Saúde para atrasar a vacinação em São Paulo+
2/Ah, Doria é candidato a presidente 2022. Ora, Bolsonaro também. A diferença é que o primeiro está investindo para vacinar a população do seu Estado, enquanto o segundo grava vídeo rindo dos contaminados+
3/O governo de São Paulo tem plano para vacinar 40 milhões de paulistas em 2021. O Ministério da Saúde só tem garantidos 100 milhões de doses, o que dá para imunizar apenas 50 milhões de brasileiros. O Ministério da Saúde sequer encomendou as seringas necessárias!