Thread by @fvguima

O mais interessante nesse "código fonte", que valeria uma thread sozinha, é a depleção de uridina.

O RNA é composto de quatro bases, G, A, U, C, certo? Mas observe que não há "U" em lugar algum do código, e sim psi (Ψ).

https://twitter.com/lmonasterio/status/1344215416353259522

O nosso organismo tem defesas extremamente potentes contra mRNA exógeno. Temos "sensores" que detectam a presença de mRNA não humano e causam uma liberação maciça de mediadores inflamatórios, matando rapidamente a célula "contaminada". O que eles detectam? A uridina.

O Ψ no código da vacina representa a N-metilpseudouridina, uma base análoga à uridina, que é "lida" como uridina pelo "scanner" ribossômico, mas com uma diferença muito importante: ela não é reconhecida como tal pelos nossos "sensores" celulares.

Isso praticamente elimina a imunogenicidade do mRNA em si, permitindo que ele seja lido, "traduzido" e dê origem ao antígeno que ele codifica—este, sim, imunogênico.

Sem essa modificação, qualquer vacina de mRNA provavelmente seria fatal. Com essa modificação, aparentemente tão simples, elas se tornam completamente inócuas. (Até mesmo as "alergias" à vacina não foram à vacina em si, e sim a um excipiente, o polietileno glicol.)

Por isso o mais correto seria dizer que essa não é uma vacina de mRNA, e sim de modRNA; e também não é uma vacina, e sim um imunizante. Mas aí já são digressões terminológicas.

Mais interessante ainda é que essa modificação parece tornar a tradução do RNA ainda mais eficiente do que a do RNA "natural", não modificado.

A descoberta dessa modificação, que tornou isso tudo possível, foi graças a uma cientista húngara chamada Katalin Karikó.

E é extremamente recente: só foi publicada em 2008 (!). pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18797453/

o @lmonasterio apagou o tweet agora a thread toda ficou sem sentido 😂😂😂