Thread by @marinamaral2

Passada a empolgação inicial pelo @ForbesUnder30, me sinto na obrigação de ser fofa e vir aqui agradecer a vocês por terem acrescentado - e acrescentarem diariamente - tanto na minha jornada. /1

forbes.com.br/listas/2020/12…

Da mesma forma que quando comecei a "brincar de colorir fotos" em 2015 eu não podia imaginar o que me esperava pela frente, também não fazia ideia que 2020 traria tantas transformações - profissionais, mas principalmente pessoais.

A mais profunda delas veio no começo desse ano, quando resolvi tornar público o meu diagnóstico de autismo. Hesitei, pensei várias vezes, quis voltar atrás e desistir de falar. Que bom que eu não voltei.

Receber tantos relatos de pessoas que se identificaram com a minha história, buscaram ajuda médica e puderam, finalmente, entender quem são, me mostrou a importância de usar a minha voz de outras maneiras. Hoje entendo ainda mais a minha responsabilidade.

Falar do meu autismo é importante pra falar dessa lista da Forbes de "jovens que estão mudando o Brasil e o mundo". Importante porque quando eu era a criança "esquisita", diferente, que se deparou com o despreparo da sociedade pra lidar com o que foge do padrão...

... eu jurava que meu lugar no futuro seria em qualquer canto insignificante, menos nessa lista.

Embora não tivesse consciência do que estava "errado" comigo enquanto eu crescia, não passei ilesa a todos os danos que um diagnóstico tardio pode causar.

Se me perguntarem como foi que a minha vida virou isso que virou, não sei como responder. Talvez ter me refugiado e me escondido das minhas inseguranças desde cedo na arte, na história, na leitura, tenha tido um propósito desde o início.

Eu tive "sorte". Apesar do autismo - ou, graças a ele - encontrei o meu lugar. Cheguei a uma posição que eu nunca imaginei que chegaria um dia. Apesar do despreparo da escola, dos professores, dos colegas de sala, da sociedade como um todo, deu certo.

Mas não dá certo pra todo mundo. Porque quando você é uma criança autista o impulso das pessoas que convivem com você e nunca tiveram contato com esse universo é criticar as falhas, martelar no que é diferente, tentar mudar o que não precisa ser mudado.

Então, mesmo que eu não me coloque na posição de representante de uma comunidade inteira (o que seria absurdo e ridículo), uso a minha voz pra pedir que seja diferente.

Principalmente se você é médico ou trabalha na área da educação: Leia, estude. Inclua e respeite.

Agradeço a todos vocês. Aos que chegaram recentemente, aos que estão aqui desde o início. Vocês são muito importantes, e a minha arte só faz sentido porque eu sei que existem pessoas que querem receber o que eu tenho pra entregar.

Falei de autismo, diagnóstico e gratidão, então não posso deixar de fazer mais um agradecimento a quem se tornou uma das pessoas mais importantes da vida: @andreawerner_, te amo muito (você, seu filho, seus dogs), e sem você esse ano definitivamente não teria sido o que foi.

A mais uma pessoa que tem todo o meu amor e gratidão, @MondeRaquel - rainha maravilhosa. Crie logo vários clones seus. O mundo precisa com urgência e agradece. E eu também.

Por último, mesmo que ele não me suporte mais porque eu também já agradeci 18 vezes só essa semana: @dgjones. Eu tinha 21 anos quando ele resolveu arriscar o nome, a carreira, e me chamar pra fazer um livro. Poderia ter sido um desastre. Mas foi/é um bestseller.

Poderia citar muitos mais, mas esses foram cruciais em um 2020 que eu jamais imaginei que terminaria na Forbes. Sendo assim, encerro o meu discurso de ganhadora do Oscar, sem a estatueta do Oscar.

Obrigada, e seguimos - vem muito mais pela frente. :)