Mesmo atendendo a demandas de magnatas da mídia como William Hearst e Joseph Pulitzer ou de governos, as HQs sempre foram inventivas. E alguns dos momentos mais criativos se deram com menos liberdade. O que li do historiador Paul Hirsch reforça essa minha impressão. Segue o fio.
A entrada dos EUA na 2ª. Guerra Mundial deixou Roosevelt numa situação delicada. Com o isolacionismo ainda forte, sua gestão precisava aumentar o apoio ao conflito. Mas, desde a 1a. Guerra, quando o governo tinha forçado a barra, o povo desconfiava da propaganda oficial.
O governo decidiu adotar abertamente a “Estratégia da Verdade”, ou seja disseminar informação sem tentar persuadir o público. Mas, nos bastidores, bolou meios de contornar a posição oficial. Um deles foi apoiar o Writers’War Board (WWB), um lance fundamental na histórias das HQs.
O Writers' War Board surgiu por sugestão do Depto do Tesouro pra que autores incentivassem a venda de Bônus de Guerra. Fundado em 06/01/42, cresceu com o apoio velado do governo, a ponto de ser considerado a maior máquina de propaganda da história.
Em tese, o Writers’ War Board era um órgão privado e independente formado por voluntários empenhados em criar conteúdo cultural antifascista e pró-americano. Por baixo do pano, recebia verbas e orientação da agência federal Office of War Information.
Com o WWB, o governo infiltrava veladamente propaganda não-oficial na cultura pra consumo de civis e militares, instigando ódio ao fascismo. Sem dar as caras, empregava linguagem e imagens não permitidas a publicitários ligados ao governo.
Um comitê de HQs do WWB criava personagens e ideias que eram passados pras editoras. Quadrinhistas desenvolviam as ideias e enviavam de volta ao Board. Muitas vezes, o WWB devolvia os esboços, pedindo mais conteúdo antijaponês e antigermânico.
O WWB achava que as editoras passavam muito tempo atacando nazistas em vez da nação alemã como um todo. O board queria que as HQs retratassem todos os alemães - não só os nazistas - como responsáveis pela violência da guerra.
Pro WWB, os autores de gibis não geravam ódio suficiente ao Japão. Quando a guerra no Pacífico começou a se arrastar em 1944, o Board exigiu que as histórias enfatizassem a necessidade de um extermínio racial.
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