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Jan 22, 2021 24 tweets 7 min read Read on X
Os patetas e os picaretas atacam novamente!

Está circulando forte uma “meta analise” que todo mundo diz que “prova” que ivermectina funciona.

Estão tentando te enganar de novo. É picaretagem.

Gastem alguns minutos para entender a baboseira.
O que é uma meta analise?
É um estudo que coleta de forma SISTEMATICA, todos os dados disponíveis, avalia a qualidade deles e, se a qualidade for suficiente e os dados forem homogêneos, junta tudo para ver se eles concordam entre si e se a conclusão de tudo junto pode ajudar.
O SISTEMATICA é muito importante porque significa ter rigor no processo evitando varias rocbadinhas (intencionais ou não) e erros comuns que podem invalidar os achados.

Uma lista de regras famosas é o PRISMA. Eles dizem que seguiram, mas não seguiram.
prisma-statement.org
No PRISMA diz que precisa definir “participants, interventions, comparisons, outcomes, and study design (PICOS)” na introdução, eles não definiram.
Normalmente o protocolo é publicado antes para garantir que é respeitado. Eles não publicaram.
Para ser SISTEMATICA precisa ser replicavel, e selecionar toda a evidencia disponível.
Deixar estudos de fora cria vies, incluir estudos que não deveriam cria vies.
Aqui temos muitos problemas.
1. A maioria dos estudos não esta publicada, não foi revisada por pares nem checada sua qualidade.
2. Incluiram estudos nã publicados, inclusive dados de autores da meta analise. Como garantir que não temos vários outros assim e eles selecionaram so o que interessa? O principal objetivo do sistemático (vs. revisão narrativa) é evitar isso.
Um terço veio disso…
3. Estudos negativos muitas vezes demoram para sair ou nem mesmo sao publicados. Se voce tirar todos em que deu errado, sobra so o que deu certo.
Por isso faz parte do PRISMA e de qualquer meta-analise checar vies de publicação. ELES NÃO CHECARAM.
Mas eu chequei, refiz a analise e fiz o funnel plot. E já calculei o p para vies usando Peters no Stata.
Tem vies(outros testes podem dar diferente)
Mas so de não fazer erraram ImageImage
Para garantir a idoneidade e reprodutibilidade dos achados é obrigatório dizer quantos estudos encontrou e quantos exclui em cada etapa. O PRISMA (que eles não seguiram) tem um exemplo aqui (prisma-statement.org/documents/PRIS…)
Esta é a figura 1 de qualquer meta analise. Não achei a deles. Image
Item 10 do PRISMA: “Describe method of data extraction from reports (e.g., piloted forms, independently, in duplicate) …”.
NÃO FOI FEITO
Uma das etapa importante é a avaliação de qualidade dos estudos.
Uma meta analise é tao boa ou tão ruim quanto os estudos incluídos.
“VARIOS SACOS DE LIXOS EMPILHADOS SAO UMA PILHA DE LIXO”

O risco de vies pode ser alto ou baixo, mas pior que alto é desconhecido. ImageImage
Quando são todos ruins o correto é não analisar pois a conclusão pode estar completamente errada. É o caso aqui. De 18 estudos so um foi graduado como bom.
Também precisa avaliar o risco de empilhar estudos diferentes entre si. Se muito diferentes melhor não fazer. Os autores avisam que a dose e frequência de uso eram completamente diferentes ( 1 a 7 dias de tratamento)
Ai teria que fazer meta analise para dose resposta. NÃO FIZERAM
Tambem tem que ver se a população é parecida. No caso não é. Juntaram estudos com risco de morte de 2% com outros de 30%.

O grupo referencia tambem é salada. Tem com placebo, tem sem. Tem controle com cloroquina e azioro, tem lopinavir, tem outras coisas.
Não tem logica nisso.
Tambem se testa a heterogeneidade estatística. Deu alta (39%). Quando acontece isso precisa estudar a causa (meta regressão ou estratificação). É o item 16 do PRISMA que eles juram que seguiram.

Adivinha?
Não, não fizeram.
E eles destacam que são 18 estudos. Mas com mortes são so 6. Dos 6 NENHUM foi revisado por pares e 2 (incluindo o maior deles), nem preprint tem, sao dados “la garantia soy jo” por enquanto.
Mas o que eu achei mais legal é que uma alternativa mais robusta é que chamamos de individual participant-data meta-analysis.

Para reduzir o vies voce pega o dado original e não o publicado, junta tudo e faz como se fosse um estudo so. Fica muito melhor.
+
É difícil de fazer pois precisa que os autores de todos os estudos estejam envolvidos. Depois é fácil.
ADIVINHA?

Esta meta-analise ja inclui os autores dos 6 estudos, era fácil de fazer. NÃO FIZERAM.
E isso que eu nem entrei no merito dos estudos originais, não cegos, sem placebo, amostra pequena, cheios de vieses, qualidade baixa e não revisados. Na verdade é bem pior.
Mas concordo com as conclusões. Quem divulgou é que não leu:
Estudos cheios de problemas
Alta heterogeneidade e vies.
Precisa fazer estudo serio e maior antes de sequer pedir aprovação para uso.

O estudo é ruim, mas a conclusão esta certa:
“NÃO É PARA USAR BASEADO NISSO” Image
Obrigado @schrarstzhaupt @analise_covid19 @generosoMD e outros pela ajuda com os dados e inputs no texto.

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Jan 4, 2022
A infecção por Omicron não é muito mais leve que as outras!

E isso na verdade não é uma noticia tão ruim.
Existe uma grande diferença entre a virulência do vírus (capacidade de causar doença grave) e a gravidade de uma onda de covid-19.

O atual onda da Omicron tem gravidade menor que as anteriores (na média).

Mas e a variante em si?
* Omicron 25% menos grave que Delta
* Omicron mais grave que outras anteriores, talvez similar a alfa
* Omicron mais transmissível que as anteriores.

Dados da analise abaixo:
imperial.ac.uk/media/imperial…
Read 13 tweets
Dec 23, 2021
Ao menos em SP a piora da situação da covid-19 esta ficando bastante clara. Aumento consistente nas internações chegando ao maior numero de *novas* internações desde Outubro.

Os números sao muito menores que nos piores momentos de 20 e 21, mas o que importa é a direção.
Nesta intensidade de aumento, mais de 30% em 2 semanas, o impacto pode se tornar importante.
Ano passado quando esta tendência foi identificada muitos chamaram de fake news, durou duas semanas para ficar claro o problema.
E antes que a discussão seja “agora é mais leve” estes números sao novas *internações*, não casos. Caso leve não interna.
Read 6 tweets
Dec 13, 2021
Depois de 2 semanas temos dados da Omicron que sao menos especulativos e ja da para dizer alguma coisa.
Um pouco sobre a minha interpretacao do que importa ou nao.
A variante B.1.1.529 ou Omicron foi encontrada na africa e esta se tornando predominante por la. Ja foi identificada em varios outros paises.
O que importa:
1. Infecta / Transmite mais?
2. Mais grave / interna / morre mais?
3. "Escapa" da imunidade anterior (vacina ou natural)?
Read 14 tweets
Oct 31, 2021
Como quantificar o impacto da COVID-19 em mortes? Vários dados tem sido utilizados, mas em demografia a expectativa de vida é um dos mais utilizados.
Estudo recente publicado no international journal of epidemiology fez uma análise em 29 países (academic.oup.com/ije/advance-ar…)
Como esperado, o impacto foi muito grande e foi muito variado entre os países.
Na ilustração abaixo a expectativa de vida ao nascer (esquerda) e aos 60 anos de idade (direita), para mulheres e homens.
Em muitos paises voltamos a expectativa de vida de antes de 2015.
Mais interessante é a mudança em 2020 quando comparada a média 2015 a 2019.
O ganho médio era de 0,2 a 0,3 por ano.
Países com bom controle da pandemia (topo da figura) mantiveram a tendência.
Os da parte inferior chegaram a perder quase 2 anos de expectativa de vida (EUA).
Read 7 tweets
Oct 31, 2021
O padrão de aumento da mortalidade para COVID no leste europeu com a chegada do outono tem sido bastante preocupante.
O aumento é consistente em vários países da região e continua aumentando em quase todos eles.
Em alguns a mortalidade ja se compara aos piores momentos dos picos anteriores, enquanto que em outros ainda é um aumento mais comedido.
Com certeza um fator de destaque da região é que a taxa de vacinação da maioria é relativamente baixa, apesar de passar de 60% em alguns paises.
Read 5 tweets
Jul 27, 2021
Hoje ficou com imensa vergonha do vigilância epidemiológica do estado de são paulo.
Minha paciente de 83 anos com um TEP relacionado a vacina da AZ. documentado.
1. Quase impossível notificar. Péssimo serviço.
2. O CVE acha que tem que dar a 2a dose.
É muita falta de experiência clínica expor novamente a paciente a algo que pode ter levado a um evento potencialmente fatal por incerteza do vínculo epidemiológico completo.
O PRIMEIRO PRINCÍPIO DA MEDICINA é “não faça o mal”.

Uma dose, uma paciente, por que é tão difícil?
Que puder por favor ajude a divulgar e compartilhar, quem sabe pressão social da um pouco de bom senso a esses malucos.
É óbvio que a única alternativa da paciente é ficar com vacinação incompleta aos 83 anos, ou alguém tomaria novamente algo que pode matar?
@jdoriajr
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