Thread by @PedroHTunes

O que perdemos em 12 mil anos?
#BioThreadBR sobre a megafauna de Lagoa Santa - MG.

Lagoa Santa é considerada o berço da paleontologia Neotropical, tendo uma importância incrível no cenário científico mundial.

O famoso cientista dinamarquês Peter Lund alterou completamente o mundo que conhecíamos após se mudar para o Brasil em 1833.

Foi em Lagoa Santa que esse pesquisador descreveu pela primeira vez tigres-dentes-de-sabre, toxodontes e preguiças-gigantes, e comprovou, de forma incontestável, que essa megafauna coexistiu com seres humanos.

Peter Lund - por Peter Andreas Brandt, 1835

Pela primeira vez, compreendemos de fato o que era a extinção e nos atentamos para o fato de que as espécies que vivem conosco podem se extinguir.

No final do Pleistoceno, a Cordilheira do Espinhaço contava com ao menos 12 espécies de preguiças. Algumas eram pequenas comedoras de grama, com pouco mais de 1m. Outras viviam em grandes bandos migratórios e pesavam mais de 5 t., comendo frutas e carcaças por onde passavam.

As preguiças aqui representadas não poderiam ser mais diferentes entre si

A preguiça-comum (Bradypus variegatus) possui entre 50 e 80cm de comprimento, pesando até 6kg. Passa toda sua vida nas árvores, se alimentando exclusivamente de folhas.

Catonyx cuvieri, por outro lado, era uma preguiça de mais de 700kg. Ao contrário das famosas preguiças dispersoras de sementes, também se alimentava de folhas (como as preguiças-arborícolas), que alcançava com um lábio superior preênsil.

Suas grandes mãos possivelmente serviam como apoio para derrubar as árvores das quais se alimentava, o que criava grandes espaços abertos nas florestas úmidas em que vivia.

Em uma área de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado, Lagoa Santa possuía uma mescla de árvores dos dois biomas e uma baixa densidade vegetal, sobretudo devido ao desmatamento promovido pelas preguiças e mastodontes na região.

Macaúbas (Acromia aculeata) tomavam conta das paisagens abertas, uma vez que seus espinhos impossibilitavam que fossem derrubadas pelos animais do local. Embaúbas (Cecropia sp.), por sua vez, serviam de alimento para ambas as preguiças e promoviam possíveis locais de encontro.

Na imagem, a carcaça de um Notiomastodon platensis atraiu uma onça-pintada (Panthera onca) e alguns urubus, que precisarão comer rápido antes da chegada de cães-selvagens, condores e tigres-dentes-de-sabre (Smilodon populator), os únicos predadores conhecidos da Catonyx.

Capivaras já eram extremamente comuns na região e, ainda hoje, dominam o cenário local. A grande quantidade de cavernas calcárias no local servia de abrigo para parte da megafauna, mas, sobretudo, possibilitou a preservação excepcional dos fósseis do Pleistoceno na região.

Quando a água da chuva transportava esqueletos para dentro das cavernas, a ação dos carniceiros era interrompida e a decomposição era drasticamente desacelerada.

Foram esses processos que permitiram que a Gruta Cuvieri abrigasse diversos fósseis de Catonyx, enquanto diversas outras cavernas do Espinhaço guardaram pelo menos 200 mamíferos dos últimos 15 mil anos.

Embora pesquisas recentes indiquem que a América do Sul perdeu cerca de 86% de sua megafauna nos últimos milênios (Stuart, 2015), essa proporção parece ser ainda maior para o Espinhaço, com extinções locais ainda crescendo drasticamente nos Campos Rupestres e na Mata Atlântica.

A paleontologia nos ensina os nossos possíveis impactos no planeta e como as famosas extinções do passado ainda estão em curso, cada vez mais por nossa causa.
Muito obrigado @JuliotheArtist arte incrível! Em breve trarei algumas novidades sobre a megafauna do Espinhaço!

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