Um problema central da humanidade é a desconexão constante com a realidade.
Isso acontece por várias razões.
Mas, no centro disso, é porque nossa sociedade existe não mais sobre fundamentos materiais mas ficções úteis compartilhadas.
Harari expressa isso de forma magistral no livro Sapiens - Uma breve história da humanidade.
Porém, quero fazer um gancho com a situação das "bandeiras" da COVID-19.
As bandeiras do distanciamento controlado são uma ficção útil e pedagógica que serve de instrução para que diversas pessoas em uma área territorial enorme coordenem comportamentos para evitar a disseminação de um vírus mortal.
São dados (ficções úteis) municipais (outra ficção útil), levantados pelo sistema de saúde (outra ficção útil), que geram a base para a mudança da bandeira segundo os protocolos sanitários (mais uma ficção útil).
Os municípios possuem poder de recorrer à mudança da bandeira:
Isso serve como margem política. No fundo, serve pra fingir pros empresários da cidade (pessoas com poder e influência) que o gestor municipal tá tentando alguma coisa pra diminuir o impacto econômico das medidas.
Mesmo que pessoas empáticas e anticapitalistas já saltem da cadeira com essa questão - se lembrarmos que somos os mesmos animais da época do Egito Antigo, é apenas outra ficção para manter o tecido social sem rasgar.
O problema da alienação (desconexão com o real) acontece quando o próprio protocolo se torna o real - e o real (vírus), é esquecido.
Mas como assim?
Em rápida conversa com um gestor, este me disse: "vão haver reuniões agora a tarde para decidir [sobre o trabalho presencial/remoto]. Até porque a bandeira só passa a valer mesmo na terça, né?"
Sem julgar o profissional, isso é um exemplo prático do que acontece de forma geral e irrestrita na sociedade.
As pessoas esquecem o papel representativo das ficções e as tomam como a própria entidade. O próprio real.
A bandeira é apenas um protocolo fictício e simbólico.
Quando há uma urgência onde 1/3 do RS parece estar necrosando de tantas bandeiras pretas no mapa oficial, talvez seja momento de intuir o real por trás dessa representação, e não esperar a confirmação burocrática dela.
Ou seja, em linguagem cotidiana:
Se de uma hora pra outra os dados ficaram horríveis e se sabe que tem um vírus mais brabo na região, suspende a porra do trabalho presencial primeiro e decide depois.
O vírus não respeita burocracia.
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Então, surge esse anúncio em jornais do Brasil todo. Uma pesquisa rápida mostra uma rede de relações estranhas - igreja, militares, políticos e até uma visita ao presidente.
Na Folha, é estimado um custo de quase R$ 200.000,00. Na Zero Hora, uma jornalista conhecida estimou em R$ 100.000,00.
O anúncio também está no O Globo, e deve estar em outros também.
Mas de onde vem esse dinheiro?
Vamos ao que é possível encontrar por aí:
O manifesto é assinado por:
"Associação Médicos Pela Vida com sede em Recife - PE - CNPJ nº 19548229/0001-93"
O nome em si é curioso: "Pela vida", "Pró-Vida"... mas não vamos supor nada por enquanto. Seguimos: