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22 Feb, 39 tweets, 9 min read
Atualmente, está bombando a info de que Corinthians vai utilizar muitos jovens da base em 2021. Por isso, acho oportuno comentar algumas coisas:
Uma das coisas que mais me incomoda no Corinthians nas últimas décadas é a forma como fazemos a gestão da base, a forma que fazemos a transição dos jovens para o profissional e o nosso modelo de negócios.
Diversas vezes um jovem que sobe da base é identificado como 'não-pronto'. Janderson, Piton, Gabriel Pereira, etc. Pedrinho demorou para estar 'pronto'. Ok, também podemos imaginar motivos próprios do desenvolvimento dele para isso acontecer. Mas, já é mais um caso…
E lembremos os motivos: Pedrinho era fraco, não aguentava 90min, e tinha quase um caso de anemia (!!!). uol.com.br/esporte/futebo…
Sim, é verdade que morava sozinho desde os 13 anos e esse foi o motivo disso (anemia/má alimentação). Mas (1) como o clube só soube disso quando ele estava no profissional? Ou, já sabia? Se sabia, (2) Por que o clube não agiu antes para alterar esse quadro?
Pedrinho era considerado uma das maiores promessas dos últimos anos do nosso clube e o tratamento do Corinthians para com ele foi desse nível.
E é importante lembrar que, mesmo nessas condições, Pedrinho demonstrava seu talento e contribuía eventualmente para a equipe. Além disso, mesmo após superar o caso de anemia, demorou um tempo para se firmar na equipe, mesmo com concorrentes não tão bons (por quê?).
Outro caso que me lembro pensando rapidamente é o do Maycon. Subindo com destaque em 2016, foi emprestado para a Ponte Preta. Ok, é verdade que lá provavelmente teria mais minutos. Porém, e se não tivesse? Estaria em outra cidade, provavelmente sem conhecidos etc.
E, principalmente, não poderia ele ter ficado e contribuído para o nosso time (que ficou em sétimo no BR)? Em tal temporada, usamos muitas vezes o já decadente Cristian no meio de campo.
Mais um caso: Marciel. Esse talvez digam que não rendeu até hoje, que já teve chances em outros times e coisa e tal. E isso tudo é verdade. No entanto, não quer dizer que ele não poderia ser útil para a nossa equipe.
Campeão em 2015 fazendo alguns poucos jogos, o jogador animou a torcida. Mas em 2016, depois de mais um desmanche, Tite optou por trocá-lo (numa troca-empréstimo) por Willians. globoesporte.globo.com/sp/futebol/not…
No Cruzeiro, Marciel teve poucos minutos. No Corinthians, Willians foi complicado... (o ano foi complicado para o time, também - apesar de menos pior do que se costuma dizer).
Desde então, ele participou em 2017 e acumulou empréstimos (Ponte Preta -tentando emular Maycon-, Oeste, Vitória). Não 'vingou'. Mas talvez não tenha vingado por ter sido sempre colocado em situações complicadas, depois de o 'seu clube' decidir não apostar em seu futebol.
E, a princípio, o Corinthians é time que mais tinha condições de desenvolvê-lo. Empréstimos tem o seu papel, mas era o Corinthians o time que o acompanhou na base, conhecia suas características (dentro e fora de campo) e quem conhecia seu potencial.
Marciel ainda teve problemas de calvície e uso de medicamentos proibidos (culpa do jogador, mas talvez o clube pudesse se fazer mais presente...) que o tirou de jogo por muito tempo: futebolinterior.com.br/futebol/Corint…
Para finalizar com os exemplos: Marquinhos. Desse caso até me dói lembrar. Pqp. Tínhamos um jogador de potencial mundial em mãos, com grande maturidade psicológica. E o 'tratamos mal'.
Campeão e capitão da Copinha de 12, Marquinhos tinha muitas expectativas vindas da torcida. De início, era natural não ter muitas chances. Afinal, tínhamos bons zagueiros: Chicão, Paulo André e Castán. (Na minha opinião, só o último se tornou um zagueiro ótimo).
E, justamente com a saída de Castán após a Libertadores, Marquinhos poderia ter mais chances. Mas Tite e Carille decidiram emprestá-lo com opção de compra para a Roma. No mundial tínhamos: Chicão, PA, Wallace, Felipe (ainda não naquele nível - que demorou pra atingir) e Polga.
Que negócio horrível fez o Corinthians. O jovem jogador, supostamente 'não-pronto', um ano tinha tido uma ótima temporada pela Roma e valia 10x mais. globoesporte.globo.com/futebol/times/… ;globoesporte.globo.com/futebol/futebo…
Marquinhos não podia disputar vaga com Chicão e Paulo André? É verdade que ganhamos um valor ok só pelo empréstimo, mas (1) por que desacreditamos tanto de uma joia da base, presente inclusive na seleção sub20, a ponto de não acompanhar mais seu desenvolvimento de perto?
Ao emprestá-lo, estávamos colocando-o em um contexto muito diferente do que tinha tido até então. No caso que não fosse bem e Roma não exercesse a compra, como voltaria Marquinhos (dentro e fora de campo)?
Se ele não tivesse ido, já tinha condições de disputar a vaga (como ficou provado com seu desempenho na Itália), sendo, na pior das hipóteses, um bom reserva. Por que Tite liberou tão facilmente e preteriu por Wallace, Polga e Felipe (não o de 15 e 16)?
(2) Por que valor tão pequeno (entre 3 e 4.5 milhões de euros) de venda fixado? Marquinhos era uma baita promessa. Absurdo de negociação.
Em suma, quantos jogadores da base formamos? Quanto investimos neles? De que forma nos auxiliaram no profissional? Quanto faturamos com vendas? Somos, no fim das contas, de um país que tem mais um perfil vendedor do que o contrário, quer queira, quer não.
Lembro-me de poucos jogadores realmente tendo chances e ajudando no profissional. E o que sinto é que dos 3 últimos técnicos com trabalho sólido que tivemos, Mano, Tite e Carille, só o primeiro trabalha relativamente com a base.
Outro absurdo que temos com os jovens da base é a % com a qual sobem. Eventualmente o Corinthians tem menos de 50% de um jogador de 18 anos. Como e por que? Provavelmente para bancar contratações e para lidar com dívidas, mas que péssimo modelo de negócios.
Estou com pressa e não achei rapidamente algum link que fale só de jogadores da base, mas tem esse embaixo. Vale lembrar que do Pedrinho tínhamos 70%, do Maycon tínhamos 80% e chegamos a ter 5% (!!!) do Matheus Pereira. globoesporte.globo.com/futebol/times/…
E para piorar: Corinthians vende muito mal (certamente condicionado pela condição financeira do clube, causada pelos que lá estão). Além do caso do Marquinhos, vendemos Maycon por pouquíssimo. Ele tinha 20 ou 21 anos, bom desempenho, titular, da sub20…
Menos de 7 milhões de euros. Para efeito de comparação (e guardadas as devidas proporções), Fred (do Inter) foi vendido pelo dobro para o mesmo Shaktar 4 anos antes. globoesporte.globo.com/futebol/times/…
E o Fred ainda foi vendido anos depois por quase 60 milhões de euros, dando um bom bônus para o Inter. globoesporte.globo.com/rs/futebol/tim…
Enfim... Por que tantos jogadores chegam tão 'crus' ao profissional? Mas chegam mesmo ou não há paciência e confiança? E por que temos porcentagem divididas com tanta frequência? Esse é um bom modelo para um time BR (e nessa situação financeira)? Por que vendemos tão mal?
Espero que os erros do passado não se repitam. Espero que melhoremos nossa formação, que tratemos bem os jovens.
Somos um clube brasileiro e isso já diz muito sobre o nosso lugar no mercado mundial. Ademais, somos um clube muito endividado. Um modelo de baixíssimos gastos, desenvolvimento de atletas e vendas bem feitas é uma necessidade.
No fim, parece que há falhamos em: (1) Captação de atletas (mal conseguíamos/conseguimos jovens de outros estados); (2) Formação (jovens subindo "crus" e com problemas físicos); (3) Transição (técnicos não conhecem e não acreditam nos jovens); +
(4) Utilização e Desenvolvimento (jovens perdendo minutos para veteranos e jogadores de baixo nível e potencial, por isso, acabam emprestados para qualquer time); e (5) Vendas (vendemos mal, no momento errado e pelos valores errados).
A thread atingiu muito mais gente do que esperava. Agradeço os elogios. Vou tentar responder todo mundo que se dispôs a comentar.

Aproveito para deixar outras threads que fiz/faço. Talvez interesse:

I. Sobre a possibilidade de usar 3 zagueiros

+
II. Sobre a possibilidade de usar 442 losango

III. Sobre saúde mental e futebol

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1 May 20
A discussão sobre o futebol evoluir ou não é muito frequente. Em especial, na timeline futebolística. Alguns afirmam que o futebol realmente evoluiu. Outros afirmam que não. Dessa discussão, surge um raciocínio que quero abordar já faz um tempo.
Aqueles que afirmam que o futebol evolui apresentam argumentos de que ele mudou e avançou ao longo do tempo. Seja fisicamente, taticamente, etc. Ou seja, o futebol melhorou.
Aqueles que afirmam que o futebol não evolui, por sua vez, argumentam que sempre houve questões táticas no futebol e que a evolução física muda tanto o atacante quanto o zagueiro. Ou seja, de que o futebol não melhora historicamente falando.
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