Sobre o megapacote de Biden: 1) E o big pacote de socorro de US$1,9 trilhão(!!!), finalmente aprovado hoje pelo Congresso americano, hein? Mais do que o PIB brasileiro de 2020! Lawrence Summers (keynesiano), alertou que pode aquecer prematuramente a economia, causando inflação.
2) Paul Krugman rebateu com um argumento interessante: não seria inflacionário, porque essa crise é totalmente diferente das crises recessivas convencionais, cuja causa original é econômica. A crise atual seria causada por um choque exógeno não-econômico (coronavírus).
3) Krugman diz que, como a pandemia retém os trabalhadores em casa e as empresas com a produção praticamente paralisada (sobretudo no setor de serviços, que exerce enorme dinamismo na economia americana), o pacote apenas repõe uma demanda mínima, evitando que a economia colapse.
4) Aliás, Krugman, num artigo de ontem no New York Times, chega a sugerir que, passada a crise sanitária, aí sim, seria necessário mais estímulo, dessa vez para fomentar a demanda agregada, fazendo engrenar a recuperação.
5) Quem tem razão? Difícil prever. De todo modo, mesmo que venha a causar alguma inflação, estou com Janet Yellen (a secretária do Tesouro responsável por sua concepção e proposta): a hora lá (e deveria ser algo parecido aqui, mutatis mutandis, evidentemente) é de "agir grande".
6) Até porque, segundo Yellen, se houver inflação, o Fed teria meios de contê-la, sem problemas. Por que penso que Yellen está certa? Primeiro, porque, desde 2008, o Fed vem "rebolando", sem sucesso, para fazer com que a inflação anual alcance 2% (abaixo disso, desde 2008).
7) Ou seja, desde 2008, o Fed já jorrou trilhões e trilhões de dólares no mercado (com emissão de moeda via QE) para evitar a "japanização" da economia americana (ou seja, evitar deflação);
8) segundo, surpreende que Summers conserve o "aprisionamento mental' dos monetaristas de associar superaquecimento à aceleração da inflação, e não apenas ao aumento do nível inflacionário. Aceleração da inflação e aumento do seu nível de inflação são dois efeitos bem distintos.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
1) Uma vez perguntaram à grande economista Joan Robinson, contemporânea de John Maynard Keynes, Nicholas Kaldor e Luiggi Pasinetti em Cambridge, por que era importante que todos tivessem noções de economia, e ela: para não serem enganados pelos economistas.
2) A maioria dos jornalistas econômicos (o Valor está infestado deles) compra a ideia equivocada de que, em contexto pós-recessivo, acelerar as reformas do lado da oferta fará a economia crescer aceleradamente. Bem, essa é a visão liberal neoclássica.
3) Posso assegurar que estão errados, por uma razão simples: tentou-se isso no Brasil desde Temer e foi um fiasco. A economia brasileira cresceu, em média, em torno de 1% (!!!) entre 2017 e 2019 (mesmo antes da pandemia).