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Está terminando o maior pesadelo da Oi, a dívida em dólar

Vou falar sobre a relação entre a dívida em moeda estrangeira (predominantemente dólar) e a dívida em moeda nacional. Para simplificar, vou deixar de lado a dívida com a Anatel, (1/25)
pois ela é por demais complexa e, até recentemente, era judicializada, trazendo dificuldades para trazê-la a valor presente, e além disso, sofreu um grande desconto em negociação com a AGU, que pode ser melhorado a partir da nova lei de recuperação judicial. Vou (2/25)
usar então os dados da dívida bruta divulgados nos balanços da Oi, que não inclui a dívida da Anatel, tratada em nota específica.

A Oi entrou em recuperação judicial em junho de 2016. Houve um longo processo de renegociação com os credores que acabou culminando (3/25)
na Assembleia Geral de credores realizada em dezembro de 2017. O quadro da dívida no 4T17, logo antes da homologação do Plano de Recuperação judicial, que só ocorreu em fevereiro de 2018, era este: Dívida total, R$ 54,6 bi. Em moeda nacional, R$ 14,8 bi. Em moeda (4/25)
estrangeira, R$ 39,7 bi (72,6%). Com o PRJ aprovado, houve haircut (desconto) em algumas dívidas, alongamento de prazos para pagar em outras, e transformação de dívidas em ações em outras ainda. O resultado foi um grande alívio nas contas da Oi, como mostrou o (5/25)
balanço de 1T18: Dívida total, R$ 13,53 bi. Em moeda nacional, R$ 6,85 bi . Em moeda estrangeira, R$ 6,68 bi (49%). Apesar da melhora, havia um porém, 50% da dívida em moeda estrangeira é muita coisa para uma empresa que possui receitas em reais e está em um processo (6/25)
de recuperação judicial e turnaround operacional, precisando de capital intensivo para realizar a sua transformação. Na época desses resultados, março de 2018, o dólar estava R$ 3,32.
A Oi, mesmo passando por aumento de capital de R$ 4 bi em 2019, precisava de (7/25)
mais dinheiro para investir em fibra e viabilizar a sua transformação estratégica. Isso passou por vendas de ativos, como a Unitel (empresa de telecomunicações angolana), mas também houve a necessidade de contrair uma nova dívida. Como os bancos nacionais ainda (8/25)
viam o turnaround da Oi como muito arriscado, e a Oi não conseguiu se financiar em reais, ela precisou contrair um novo empréstimo em dólares em fevereiro de 2020, num valor equivalente a R$ 2,5 bi. Nesta época, o dólar já estava em torno de R$ 4,30. Então começou (9/25)
a pandemia e o dólar explodiu, passando de 5,80 em maio de 2020, teve uma queda brusca em junho, mas depois se manteve consistentemente acima de R$ 5, aumentando o endividamento da Oi. No último balanço divulgado pela Oi, de 3T20, quando o dólar estava em R$ 5,20, (10/25)
a Dívida total era R$ 26,92 bi. Em moeda nacional, R$ 9,3 bi. Em moeda estrangeira, R$ 17,63 (65,5%).
Durante o ano de 2020, a Oi passou por um a grande transformação operacional, atingindo 2 milhões de clientes em fibra ótica residencial, fruto dos pesados investimentos. (11/25)
Em outras áreas, como na telefonia móvel (especialmente no pós pago) e nas soluções corporativas (Oi Soluções), a Oi também demonstrou ótimo desempenho. Desde que Rodrigo Abreu assumiu o comando da Oi (oficialmente no início de 2020, mas de fato ainda em 2019) (12/25)
e trouxe com ele executivos de comprovado desempenho, a percepção de que a Oi está se tornando uma nova empresa vem se consolidando. Faltava equacionar a dívida, especialmente a parte em dólar, que explodiu junto com o câmbio em 2020. Para isto, foi chamada uma (13/25)
nova Assembleia Geral de Credores, em setembro de 2019, em que novas condições de pagamento foram estabelecidas. Seria vendida a Oi Móvel, torres, data centers, a TV por satélite, assim como o controle da unidade de infraestrutura de fibra (a InfraCo), o que seria (14/25)
suficiente, para pagar toda a dívida da Oi, ou quase toda (dependendo dos valores das vendas). A parte mais sensível da dívida da Oi são os bonds (títulos) em dólar com vencimento em julho de 2025, que são de U$ 1,6 bi (aprox. R$ 9 bi). Pelo Plano de Recuperação (15/25)
Judicial original, a Oi não poderia recomprar esses bonds antes do vencimento. Isso foi alterado no novo PRJ. Vendo a evolução operacional, ficou claro que, se a Oi tivesse tempo, conseguiria recomprar esses bonds (além de pagar o restante da dívida em dólar. (16/25)
A questão para mim, no último trimestre de 2020 se tornou: A Oi vai ter tempo de se organizar e pagar a dívida em dólar, ou o dólar vai explodir antes (chegando a R$ 7, 10, 15...), tornando a dívida impagável. Diversos fatores causaram a subida do dólar, como (17/25)
a instabilidade política, a desaceleração da economia por causa da pandemia, a deterioração fiscal causada pelas medidas de combate à covid-19, e a taxa de juros exageradamente estimulativa com relação aos pares internacionais (Brasil, 2%; México, 4%; Rússia, (18/25)
4,25%; Índia, 4%; África do Sul, 3,5%; China, 3,85%), o que afugentou o capital estrangeiro, fazendo o real ser uma das piores moedas do mundo em 2020 e 2021, além de causar reflexo na inflação. De todos esses fatores (político, sanitário, fiscal e monetário), (19/25)
o mais facilmente contornável era subir a taxa de para um patamar equivalente ao dos pares internacionais (e mais de acordo com o nosso risco fiscal). Quem deveria tomar essa decisão era o Banco Central, cujo presidente, Roberto Campos Neto, negava que houvesse (20/25)
qualquer problema com o câmbio, que, em sua visão, não tinha entre suas causas a taxa de juros e que não poderia fazer nada a respeito, dizendo inclusive que o Bacen era passageiro, e que o fiscal era o piloto. Essa atitude do presidente do Bacen (e do Bacen (21/25)
em si nas decisões tomadas pelo Copom), me preocupava muito. Até onde iriam deixar subir o dólar, negando que a taxa de juros estava deslocada? Até que chegou a inflação. No início, o Bacen não se importou, disse que era passageira. Mas agora que já está à vista (22/25)
há meses, e acelerando, o Bacen não pôde mais usar a política do avestruz e reconheceu o problema (não pelas palavras, nas quais continua negando haver problema com o câmbio), mas pelo menos nas atitudes. Há algumas semanas, o Bacen tem feito leilões quase diários (23/25)
(às vezes 2 no mesmo dia), para derrubar o dólar, chegando a atuar inclusive em um dia em que o dólar já estava em queda. E, finalmente, esta semana, dia 17/03/2021, o Bacen resolveu parar de tratar os sintomas e atuar na causa, subindo a taxa básica de juros (24/25)
de 2% para 2,75%, já adiantando novo aumento de 0,75% para a próxima reunião, em abril. E a Oi? A Oi vai conseguir pagar a sua dívida em dólar, o seu Calcanhar de Aquiles. (25/25)

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