A civilização é a metrópole. Cada vez cresce mais a separação entre os metropolitanos e os provincianos. Enquanto estes continuam a ser os guardiões das culturas, aqueles aniquilam-se na morte das ideias, que substituem por brilhos de moeda falsa.
Estamos numa época de decadência, porque se instaura definitivamente no mundo, mais uma vez, o predomínio inconteste das metrópoles.
São elas que falam em nome dos povos. Paris é a França; Berlim é a Alemanha; Londres, a Inglaterra, e Nova Iorque, os Estados Unidos.
São essas cidades os oráculos dos povos e apontam os destinos das nações. No entanto, nelas existe a depressão de todos os valores do homem. E é por isso que elas são o primeiro capítulo da decadência.
A separação entre o metropolitano e o provinciano é crescente, repito.
Podemos distingui-los pelos seguintes caracteres que ressalto, no metropolitano: cinismo, desinteresse pelos grandes problemas interrogativos do homem; ausência da dúvida; espírito folgazão; jargão cheio de molequismo como meio de linguagem;
falta constante do espírito de conservadorismo, sob qualquer aspecto; necessidade imprescindível de encher o vazio interior com divertimentos mais violentos, excitantes mais rápidos; pouca elegância nas maneiras; tendência para o chiste, para o humor, o trocadilho;
tendência às exterioridades, manifesta mais intensamente na busca do vestiário; pretensão de superioridade sobre o provinciano que lhe serve de motivo de ridículo, sobretudo quanto às virtudes que este possui e que são olhadas pelo metropolitano como reminiscências de épocas...
anteriores que ele julga já ultrapassadas; aumento do esquerdismo nas massas; na arte é atraído pelo temporal, pelo passageiro, pelo epidérmico; não compreende mais arte pela arte; dissociação dos sentimentos nobres que eles os eiva de interesses e de lucros próximos;
ausência do heroísmo desinteressado; gosto pela literatura leve, pelo romance em vez do ensaio, pela novela em vez do estudo; ausência de ideais excelsos, substituídos pelas ânsias de vitórias materiais; volubilidade crescente; radicalização às ruas: “Tenho asfalto na alma…
;nova concepção utilitária do amor; transformação do casamento em companheirismo; transformação do sentido provinciano da mulher; tendência para maior liberdade sexual ; aumento da neurastenia e doenças nervosas; modificação degenerativa de todos os sentimentos;
diminuição do sentido do destino, do signo, para incremento do sentido de causalidade; redução dos instintos por uma padronização consciente normativa de um “modus-vivendi”; maior tensão e vigília na vida; mais vazio nas almas; artificialização crescente da vida e da criação...
consciente; predomínio da moda, que segue num ritmo cada vez mais rápido; instalação do provisório em suas construções e obras de arquitetura e consequente espírito de “moda”, na arte, com o envelhecimento precoce dos seus ídolos;
instalação de crenças variadas, com codificações de cunho típico metropolitano; maior ingenuidade na aceitação dos fatos e nos divertimentos; maior atração pela luz e pelo movimento; mais crescente o sentido de morte nas obras humanas metropolitanas, que trazem sempre o germe...
da destruição; completa ausência do sentido de reversibilidade do tempo, consciência mais forte da hora que passa, do segundo que passa; gosto pelas coisas “exquises”, instauração da música de sons vitais e do ritmo mais sexual; predominância no consciente dos problemas de...
ordem sexual; aumento do “taedium vitae”; maior fixação íntima da cidade que nunca abandona o metropolitano, mesmo quando ausente dela; instalação do herói citadino, de brilho rápido, que se salienta por qualquer realização provisória como esportistas, políticos, locutores...
de rádio, aviadores, etc; maior desagregação dos elementos raciais, para dar nascimento a um tipo comum; ausência de espiritualismo, com crescente desenvolvimento de doutrinas de fundo causal, científico; divinização do dinheiro em contraposição ao sentido econômico rural dos...
bens; infecundidade física e espiritual; ausência de angústia quando se vê o último de sua família, sem possibilidade de perpetuação; redução da natalidade, ao princípio como consequência de ordem económica, finalmente formando o espírito do homem citadino;
redução do instinto maternal das mulheres, que passam bruscamente da meninice para a maturidade; ausência do brinquedo ingénuo, infantil; espírito emancipativo das mulheres; uniformização da urbanística metropolitana, entre si, entre as grandes cidades;
a música, a literatura, e a pintura e a escultura, assumem um caráter profissional; ausência do estilo e instalação do gosto; desaparecimento dos costumes para dar lugar às maneiras de comportamento; desaparecimento do traje popular pela influência de uma moda variável;
ânsia de imposição do estilo metropolitano sobre as partes ainda não conquistadas; ânsia de imposição de formas genéricas para o domínio no mundo inteiro; aumento crescente do agnosticismo como atitude filosófica, como posição mais fácil para enfrentar as grandes e eternas...
perguntas; a originalidade como signo de decadência; nas metrópoles, na ânsia de originalidade, “Os homens excelsos não são originais”.
Justifico por final o título: três humanidades.
A primeira é a da província, a segunda, a das metrópoles, e a terceira a que há de vir, após a grande transmutação do mundo, após a grande carnificina.
*Texto retirado do livro Páginas Várias (Logos, 1966)
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Esses senhores socialistas, de envolta com grã-finos malandros e jovens débeis mentais transviados, socialistas dos cafés pseudamente parisienses, dos clubinhos de sub-literatura e de artistas medíocres, previamente..
superados, desmentidos pela sua impotência e improductividade, de cambulhada com semi delinqüentes e depravados maconheiros, é que lançam, constantemente, afrontas aos que amam o bem do seu semelhante. Eles apenas odeiam e nada mais sabem fazer que odiar.
Seu socialismo é producto de ressentimento e de um marginalismo social provocado por desajustamento psicológico. Quando o seu socialismo vencer, contribuirão, por sua vez, para glória do «paredón», que seus «amigos» criarão e, como em todas as revoluções dessa espécie, serão...
O exemplo do discurso geral sobre “progresso” é, de fato, extremo. Como enunciado nos dias de hoje, o “progresso” é simplesmente um comparativo do qual não determinamos o superlativo.
Opomos cada ideal de religião, patriotismo, beleza, prazer sensual ao ideal alternativo do progresso – isto é, contrapomos cada proposta de conseguir algo do que conhecemos, com a proposta alternativa de obter muito mais daquilo que ninguém conhece.
O progresso, devidamente compreendido, tem, de fato, um significado muito digno e legítimo. Mas, se usado em contraposição a ideais morais definidos, se torna absurdo.
Assim, mesmo não sendo verdade que o ideal de progresso deva ser confrontado com a finalidade ética ou...
Eric Voegelin foi um dos maiores filósofos do século XX. Sua obra “Order and History”, em cinco volumes, sintetiza e ordena numa reinterpretação global da história uma vastidão de conhecimentos quase inimaginável, das inscrições egípcias até as últimas novidades do direito, da...
economia e da lingüística.
Dá de dez a zero em Hegel, Spengler e Toynbee somados. De origem pobre, Voegelin passou fome para estudar. Continuou homem simples, deslocado em ambientes chiques.
Muito tem se falado sobre o que pode ser a destruição total do que conhecemos como civilização ocidental - aquela baseada no direito romano, na filosofia grega e na moral cristã.
É certo que grande parte das pessoas encaram isso como uma conspiração barata, algo irrealista, produto das mentes férteis e românticas; mas você já pensou sobre o significado da palavra "destruição"?
A palavra “destruição” é composta de duas palavras em latim: o prefixo de, que neste caso significa “desfazer”, e “struo” (“construir”).
Assim, a palavra “destruição” expressa a ideia de “desfazer a estrutura”.
Quando você está em meio aos outros, sente como se todo mundo estivesse notando todo aspecto da sua aparência e do seu comportamento.
Você tem dificuldades em lidar com multidões pq é egocêntrico, e se acha o centro do universo.
A verdade é que ninguém - ou quase ninguém - se importa. Você não é tão especial.
Você pensa que todo mundo percebeu quando gaguejou em seu discurso, ou a sua camiseta nova, ou uma espinha na sua testa, ou que você emagreceu... mas as pessoas não ligam.
"As pessoas tendem a acreditar que estão sendo notadas mais do que realmente são. Sendo que a pessoa está constantemente no centro de seu próprio mundo, uma avaliação precisa de quanto alguém é percebido pelos outros é incomum."