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Apr 16, 2021 16 tweets 5 min read Read on X
Fio sobre as considerações do CDC e minhas opiniões a respeito da contaminação por fomites (superfícies). Se você não concorda comigo, tranquilo. Faça como achar melhor.
Esse é link (atualização do dia 5 de abril): cdc.gov/coronavirus/20…
O SARS-CoV-2 é um vírus cuja camada externa (envelope) possui proteínas e lipídios para “embalar” o material genético. O envelope contém estruturas (proteínas Spike) para se ancorar às células humanas durante a infecção.
O envelope do SARS-CoV-2, como acontece com outros vírus respiratórios envelopados, é frágil e pode se degradar rapidamente após contato com surfactantes contidos em agentes de limpeza e em condições ambientais.
Pense em um local com alta liberação de gotículas, deposição e dispersão. Pense nas barras de segurar dos ônibus, trens e metrôs. Estudos mostram que o vírus pode persistir por até 4 dias em certas superfícies. Esse é o caso dos plásticos, p. ex.
Considere que uma embalagem PODERIA estar com deposição de gotículas contendo partículas virais de uma pessoa contaminada. Você toca nessa embalagem e toca no seu celular, transportando a contaminação. Onde mais você vai tocar depois? Você vai se dar conta?
Uma gotícula aerossol, de tamanho de até 1 micrômetro vai carregar um certo número de partículas virais. Um gotícula de deposição possui 10 a 20 micrômetros, ou seja, carrega 20X mais partículas. Será que a chance de termos partículas viáveis entre 1-2 horas é tão baixa?
Passamos às considerações do CDC sobre os riscos de transmissão mediada por fomite como sendo dependentes, primeiro, "da taxa de prevalência de infecção na comunidade". Pergunto, com variantes, falta de vacinação e condições sanitárias, como está a taxa de transmissão no Brasil?
Segundo, "A quantidade de vírus que pessoas infectadas expelem (que pode ser substancialmente reduzida usando máscaras)". Pergunto, quantas pessoas infectadas temos e qual o comprometimento com o uso de máscara?
Terceiro, "a deposição de partículas de vírus expelidas em superfícies é afetada pelo fluxo de ar e ventilação". Como ocorre no Brasil? Sei de locais onde se prefere o ar condicionado e "não quero passar calor" e de outros onde "não abrimos janelas para o vírus não entrar".
Quarto, "a interação com fatores ambientais (por exemplo, calor e evaporação) causa danos às partículas do vírus enquanto no ar e em superfícies". É fato. O sol ajuda na neutralização. Mas medimos isso aqui?
Quinto, "o tempo entre quando uma superfície se torna contaminada e quando uma pessoa toca a superfície". Pense novamente nos botões de elevador, corrimão e produtos do mercado. Imagine compras num sábado e a chance de partículas virais em plástico por dias. Temos controle sobre?
Sexto, "a eficiência da transferência de partículas de vírus de superfícies para mãos e de mãos para membranas mucosas no rosto (nariz, boca, olhos)". Pense na quantidade de pessoas que faz isso sem perceber...
Por fim, "a dose de vírus necessária para causar infecção através da rota da membrana mucosa." Até hoje, ainda não temos estudo robusto sobre qual é a dose infectante.
A partir dessas considerações, o pessoal do CDC ponderou que a taxa de transmissão, baseados nos estudos existentes, é baixa. Mas os artigos citados são de locais onde as condições sanitárias são levadas muito a sério, além do comprometimento da população.
O que foi concluído: "as pessoas podem se infectar com SARS-CoV-2 através do contato com superfícies. No entanto, com base em dados epidemiológicos DISPONÍVEIS e estudos de fatores de transmissão ambiental, a transmissão de superfície não é a PRINCIPAL VIA de contaminação."
Em nenhum momento, o CDC mostra que não devemos dar atenção à contaminação de superfícies, mas enfatiza que cuidados com distanciamento e uso de máscaras deve ser prioritário, o que assino embaixo. Os riscos são amplos e assim também devem ser os cuidados.

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Apr 26, 2022
Um pequeno fio sobre guerras e doenças infecciosas baseado nesse artigo do The Lancet: "War and infectious diseases: brothers in arms"

thelancet.com/journals/lanin…
Desde que a guerra na Ucrânia começou, as pessoas tem se perguntado muito: e a Covid por lá?? Embora não se fale muito sobre os casos e mortes pela doença, duas situações graves têm ocorrido: a interrupção da vacinação (estava em 35%) e das testagens.
Observem o mapa do John Hopkins: "não há dados" para a Ucrânia, mas notem os países vizinhos (Belarus, Moldávia, Romênia e Eslováquia)...
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Feb 3, 2022
Alguns esclarecimentos sobre porque vacinados estão precisando de hospitalização! Vou usar esse artigo e outros para ajudar a explicar essa situação. Siga o 🧵

Protective activity of mRNA vaccines against ancestral and variant SARS-CoV-2 strains science.org/doi/10.1126/sc…
Esse artigo acima, especificamente, testou doses das vacinas de mRNA da Moderna em camundongos para observar níveis e resposta de anticorpos neutralizantes (aqueles de efetivação) e sua persistência sobre variantes do SARS. Eles também relacionaram os achados à infecção pulmonar.
Assim, doses mais elevadas foram mais protetivas, induzindo produção e ação dos anticorpos por mais tempo com relação à variante Delta; enquanto doses de concentrações menores foram menos protetivas.
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Dec 26, 2021
Muitas pessoas ficam preocupadas quando escutam que os níveis de anticorpos produzidos através das vacinas reduzem após alguns meses. Aqui, o pessoal da Imuno sempre alerta que além dos ACs, as células de memória imunológica são muito importantes no combate à doença…
Essas células são importantes pq na presença de nova infecção, elas prontamente são ativadas e capazes de secretar moléculas importantes no combate aos agentes infecciosos. Um grupo dessas células, são os linfócitos T de memória de longo prazo, queridinhas do @MarceloBragatte 😁
Então, um grupo de pesquisadores da Itália estudou essas células após administração da 1a e da 2a dose da vacina da Pfizer contra a COVID-19. Aqui o artigo: science.org/doi/full/10.11…
Read 11 tweets
Dec 22, 2021
O impacto direto das vacinas nas crianças é bem descrito. Há milhares de evidências reforçando isso. Ao receber uma vacina, a criança não só se protege diretamente, mas também protege a família, amigos e outros da infecção, bloqueando a propagação de doenças entre pessoas.
Trouxe esse artigo de revisão, publicado em 2018 reforçando a proteção comunitária que a vacinação infantil proporciona, uma ação segura, feita há muitos anos.
pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29471452/
A proteção comunitária ocorre quando as pessoas vacinadas bloqueiam a cadeia de transmissão, protegendo membros da comunidade suscetíveis subvacinados ou não vacinados, impedindo a exposição e limitando a disseminação do patógeno pela comunidade
Read 9 tweets
Dec 5, 2021
Mais um estudo tipo "prova-de-conceito" mostrando a eficácia superior da máscara PFF2 em relação ao distanciamento sem máscara. Acompanhe o fio "domingueiro" desse artigo do PNAS (fator de impacto: 11,2). 😉
pnas.org/content/118/49…
Para explicar, o estudo tipo "prova de conceito" é o que testa uma teoria em condições laboratoriais ou com modelos matemáticos, agregando metodologia científica para demonstrar se a hipótese é verdadeira. É diferente de uma evidência clínica, mas tem base científica importante.
Sabemos que a forma como o SARS-CoV-2 se projeta, principalmente através dos aerossóis, demanda o uso de barreiras (além da vacina) para a não contaminação: uso de máscara e distanciamento físico. Há muitos estudos demonstrando que as medidas são eficazes. bmj.com/content/375/bm…
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Nov 24, 2021
Estava devendo um fio dessa revisão sistemática sobre eficácia das medidas não-farmacológicas contra a COVID-19. Agora vai! :)
bmj.com/content/375/bm…
Bom, o objetivo do estudo foi o de revisar as evidências sobre a eficácia das medidas de saúde pública na redução da incidência de COVID-19, a transmissão SARS-CoV-2 e a mortalidade por COVID-19. A lista das ações analisadas é bem extensa! Vou destacar os achados principais.
Foram incluídos 72 estudos, dos quais 35 avaliaram medidas individuais de saúde pública e 37 avaliaram múltiplas medidas de saúde pública como um "pacote de intervenções". Oito dos 35 estudos foram incluídos na meta-análise.
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