A abolição da escravatura não pode ser reduzida a uma história da Disney, onde os heróis são simplesmente reis e princesas. Diversos nomes ecoaram como o brado da liberdade, um deles eu conto aqui: Prudhome, o José do Patrocínio #13deMaio
Conhece a expressão "filho do padre", é assim que começa a saga do José. Filho de um vigário que engravidou Justina do Espírito Santo, uma menina de 15 anos, escravizada em Campos dos Goytacazes (RJ). Mesmo sem reconhecer o moleque, o mandou pra viver na sua fazenda
Viveu entre os negros escravizados e assistia de perto cada castigo imposto aos seus iguais. As cenas alimentaram sua alma com um sentimento que ainda não tinha nome, mas que podemos chamar hoje de "liberdade negra".
Esse fato marca José como um dos únicos abolicionistas que realmente sentiram o cheiro de sangue na vida em cativeiro
Aos 14 anos recebeu autorização para ir ao Rio de Janeiro, trabalhou como pedreiro e lapidou seu próprio intelecto, estudando para ingressar como aluno de Farmácia na faculdade de Medicina.
Quando terminou o curso em 1874, não tinha emprego, nem dinheiro e precisou viver de favor na casa de um Capitão que era padrastro do seu amigo (qualquer universitário negro em 2021 reconhece em si esse trecho da história)
Só que José sabia muito bem aproveitar as oportunidades, era um cara esperto e assim como Machado sabia se movimentar dentro daquela complexa sociedade brasileira. Ele frequentou o Clube Republicano e conseguiu o amor de Maria Henriqueta, filha de um militar
Foi quando embarcou na vida de jornalista, passando os dois primeiros anos em uma publicação de humor que findou em 1875, ele ganhou confiança e percebeu como as letras poderiam mudar toda a sociedade brasileira.
Passou a assinar a "Semana Parlamentar" na Gazeta de notícias como pseudônimo Prudhome e usava esse espaço para inspirar conversas sobre o final da escravidão no país. Ele era feroz contra a escravidão e construiu discursos poderosos em sua coluna.
Em 1885 ele escreveu: "Basta o confronto da importação de africanos com a emancipação destes, para demonstrar que a escravidão no Brasil é um roubo."
Muitos intelectuais se reuniram em torno de suas ideias, até que fundou com Joaquim Nabuco, outro grande nome do abolicionismo, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, depois comprou o próprio jornal ("Gazeta da Tarde") e ficou reconhecido como o Tigre do Abolicionismo.
José visitou e foi ovacionado pelos abolicionistas do nordeste, se reuniu com André Rebouças e construiu em 1883 uma confederação unindo todos os clubes abolicionistas do país. A abolição não seria mais barrada, nas palavras do próprio Nabuco "a revolução se chama Patrocínio"
Há quem diga que 4 anos antes da Lei Áurea ele profetizou as palavras em um artigo "Fica abolida, nesta data, a escravidão no Brasil" (Artigo de 11 de Abril de 1885)
Ninguém pode prever o que seria dos rumos da abolição sem a contribuição de José do Patrocínio, ele apoiou intensamente Isabel quando a Lei que findava formalmente com a escravidão chegou, mas quem disse que o Brasil trata bem seus heróis quando tem a pele negra?
Mesmo sendo uma das figuras centrais deste capítulo nacional, quando a república chegou seus melhores aliados se afastaram - José se manteve fiel à monarquia e criou uma guarda negra de capoeiristas e foi perseguido por isso.
Aos 35 anos tentando começar um novo jornal no Rio de Janeiro ele decidiu se tornar um republicano, sem apoio acabou exilado na Amazônia e quando voltou ao RJ em 1893 foi morar na periferia, miserável e sem seus jornais. Dedicou-se a um sonho de levantar um dirigível
Foi também um dos pais fundadores da Academia Brasileira de Letras, uma mente descolada do tempo, seu último texto ensaiava o desejo de criar no país, um sentimento de proteção aos animais, mas a morte chegou adiantada, impedindo o término dessa escrita.
Porém, bem antes do seu último suspiro, José do Patrocínio já estava morto para as elites que desfrutavam e ainda se aproveitam do prestígio que a abolição trouxe ao Brasil. Essa é só mais uma história de como a sociedade brasileira silencia seus heróis negros.
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Como funciona o roubo que a Inteligência Artificial faz com a literatura?
Depois das últimas discussões na rede fui investigar, acredito que seja impossível barrar o avanço das IAs, por isso precisamos aprender a proteger nossos direitos de criadores e privcidade contra esse sistema.
O mercado literário internacional já começou a travar uma guerra contra empresas do tipo Meta e Open AI e o brasileiro tem uma grande oportunidade, isso porque a maior parte da literatura nacional ainda não aparecer nos dados que foram utilizados pra treinar os algoritimos.
Os algoritimos de IA como Chatgpt, Copylot e Gemini precisam ser alimentados por dados, tabelas cheias de textos para quando forem solicitados eles usarem frases prontas, misturando e criando segundo os desejod sos usuários. Uma investigação recente trouxe à tona 3 conjuntos de dados, chamados Books1, Books2 e Books3
O Books1 não é nada problemático, ele tem cerca de 70 mil livros extraídos de um projeto que distribui ebooks livres de direitos autorais. O projeto Gutemberg
Obras em domínio público podem ser utilizadas livremente por IAs? (ta aí uma boa discussão)
Agora o Books2 revela um grande problema na falta de regulamentação. Ninguém sabe o que existe nele, ambos foram utilizados pela Open Ai para o chatgpt, o books2 pode conter milhares de obras piratas as empresas já enfrentam processos internacionais para revelar a origem do seu conteúdo. Como envolve dinheiro, logo editoras gigantes e empresários do entretenimento estão entrando na briga.gutenberg.org
Bora entender qual a relação da extrema-direita com o vídeo que viralizou da Aymée e o pânico que criam em torno do Marajó para enriquecer (mais ainda) uma franquia evangélica.
Na foto é a cantora que "viralizou"com um pastor chamado Lucas Hayashi, líder da Zion Church, entre os trabalhos dessa igreja está exatamente o de coletar doações e fundos para "missões" de evangelização. A música da cantora reascendeu uma mobilização que favorece bastante essa igreja há anos, qual será o interesse econômico dessas missões no marajó?
A Zion Church é liderada por, Junia e Teófilo Hayashi dois pastores que transformaram suas igrejas em franquias milionárias que crescem muito nos últimos anos
Em 2022 estavam ganhando medalhas das mãos da Damares. Ambos participam do Fórum Evangélico Nacional de ação politica desde 2014. Na foto está o Téo, pastor famozinho do youtube que fundou esse movimento que ainda é base do bolsonarismo com a garotada.pleno.news/fe/junia-hayas…
Aliás é em outro evento dessa franquia evangélica, The Send um evento que mistura nacionalismo com cristianismo importado dos EUA, que o Jair teria se "convertido para Cristo".
Consegue imaginar que uma das palavras mais lindas dentro de algumas culturas africanas pode ter se originado do termo "Criado"? Essa thread é sobre o poder de construir novos significados
Em 1637, um missionário francês descreveu no Relation du voyage du Cap-Verd, uma figura destacada no Império Mali, era um tipo de conselheiro, mas uma casta de sábios, músicos e guardiões das tradições orais daquele povo. Ele não entendia exatamente, chamou de guiriot.
Portugueses usavam o termo criado, que significa “aquele que come, aprende e mora na casa do patrão”. Acontece que existiam palavras parecidas com a pronúncia entre alguns povos nativos e por final se consagrou que esses contadores de histórias ficaram conhecidos como Griots.
Quando os primeiros navegantes se depararam com pessoas negras nos séculos XVI eles as descreveram como "seres imundos e inferiores", muitas vezes relacionavam o mau cheiro à pele negra.
O mito racial que se consolidou nos séculos seguintes defendia uma total distinção das características físicas e mentais entre negros e brancos, mesmo no Brasil os intelectuais do início da República (até alguns abolicionistas) defendiam essa crença
"A Raça Megra no Brasil, por maiores que tenham sido seus incontestáveis serviços à nossa civilização... há de constituir sempre um dos fatores da nossa inferioridade como Povo" - Nina Rodrigues
As vezes me perguntam como eu consigo ter amigos de vários espectros políticos e a resposta está na realidade: minha família é assim, tem todo tipo de gente, de reacionário fã de milico à petista roxo.
Acho que essa dicotomia esquerda vs direita tem contornos mais definidos na internet e também nas capitais, porque no interior é tudo meio nublado e até mesmo candidatos da esquerda exibem um conservadorismo com pautas de "família tradicional" e armamentista 😐
É uma bagunça, que a gente tenta organizar distribuindo informação, conversando sobre assuntos que nem sempre conseguimos aqui nas redes sociais. Tenho um tio que é gado bolsonarista e esses dias tava concordando que a corrupção na polícia é um dos maiores problemas
Saí do painel da UFRJ inspirado por conhecer outras visões sobre #Afrofuturismo. Aliás é interessante perceber que a discussão partindo do pessoal da tecnologia pode ter contornos bem diferentes da arte, pois eles tentam materializar um imaginário afrofuturista em nossa realidade
Enquanto eu, como ficcionista, não me interesso em construir mundos possíveis, mas de fazer a jornada da exploração imaginativa, que pode até explicar uma essência científica, porém pretende extrapolar ela.
Hugo Gernsback, por exemplo, define o SCIFI como "Um romance cativante, entremeado de fatos científicos e uma visão profética"
Hugo dá nome a um dos principais prêmios do gênero, recebido pela mãe do Afrofuturismo, Octavia Butler com a obra Speech Sounds e Bloodchild