Muita participação boa naquela thread sobre estaduais, várias questões pertinentes, mas a "Questão Paulista" me incomodou bastante.
Primeiro porque não dá pra pensar a partir desse oásis chamado São Paulo.
Segundo porque essa coisa do "dá dinheiro aos menores" é um engano.
Começando pelo mais fácil de conversar: o oásis paulista já é conhecido há muito tempo. Questão macroeconômica que espirra no futebol. Estado mais rico, grandes centros do interior, mercado consumidor maior do que muito país sulamericano.
Mas nem tudo é isso.
O campeonato paulista só paga TANTO aos clubes, porque é preciso convencer 4 potência continentais a não deixarem de jogá-lo. O que desliza disso vira renda milionária para os outros 12 clubes (alguns tradicionais, outros nem tão pequenos, mas muitos bem pequenos).
(Esqueça RB, é um caso muito diferente)
Mas fora os mais tradicionais, quais outros clubes tem vida longa? Quantos "clubes que vivem do estadual" tem destaque a nível nacional?
Eu já vi mais de 30 surgirem e morrerem. Assim como já vi crises serem superadas pelos tradicionais.
O que acontece, afinal, para esses clubes não transformarem essa brutal discrepância de "receita de estadual" em preponderância esportiva REAL a nível nacional?
Resposta é simples:
Toda aquela grana extraordinária do estadual foi torrada... no próprio estadual.
Percebam a "esquizofrenia futebolística" que acomete esses clubes: até abril você tem receita de milionário. A partir de abril você tem receita de várzea.
E a receita milionária de abril é toda consumida no time que joga em abril, não o que joga o ano inteiro.
É como ser um vendedor ambulante e ganhar uma ótima grana vendendo cerveja, água e refrigerante na semana do Carnaval.
Você pode confiar nessa grana para o resto do ano, comprar um carro, pagar um aluguel em um bairro nobre?
Óbvio que não. Foi o carnaval. Foi o estadual.
Quem acompanha de perto sabe bem do ÊXODO dos Estaduais que TODO ANO acontece dos clubes paulistas para o resto do país. Acabou o estadual, esses bons jogadores de altos salários migram para outros estados que não tem estaduais bons, mas tem receitas mais equilibradas.
Há um grande engano em achar que alta receita é alta geração de resultado financeiro a longo prazo. Se você joga um campeonato contra 12 clubes que podem pagar salários de Série B, mas em competição estadual que dura 3 meses, então você tem que investir tudo na mesma medida.
O que o Botafogo-SP ganhou pra jogar o Paulista, ele não teve para jogar a Série B.
E ele não guardou o dinheiro do Paulista para jogar a Série B, porque senão ele cairia de divisão estadual.
Mas ele caiu na Série B.
Percebem? Muita grana pode ser menos grana. É o caso aqui.
Mudando o campeonato paulista, adotando o modelo de 6 datas que propus, esses clubes trabalhariam em uma nova realidade, mas também em outro patamar competitivo: não precisariam derramar dinheiro em atletas de 3 meses de contrato.
Sustentabilidade é longo prazo.
E quais clubes?
Os tradicionais superam crises porque possuem torcida, quadro social e representatividade. Os clubes-empresas e clubes-prefeituras não. Mas ocupam o espaço dos tradicionais, porque enxergam campeonatos como vitrines pra venda de jogadores (ou interesses piores).
Fosse verdade que esses clubes "dependem do estadual para sobreviver", por consequência teríamos a Série A e B com 30 clubes de São Paulo.
Ainda bem que não temos, né? Porque se dependesse dessa ideia torta, não tinha futebol no Nordeste pra contar a história.
Mas tudo bem, cada um defende seu pedaço. Eu prefiro preservar a pluralidade do imenso e complexo futebol brasileiro, do que lutar pela existência de um caminhão de clube-farmácia - aquele que abre na esquina e fecha em 5 anos - nas divisões superiores.
Quando te falarem que os clubes alemães são empresas, mostre essas fotos.
A única coisa que é empresa é o departamento/sessão de futebol e seus ativos.
E o sócio majoritário da bagaça é a associação. Os donos são esses da foto.
2.
Os clubes alemães são os que tem os melhores resultados financeiros dentre as grandes ligas: contas arrumadas, gastos controlados, dividas compatíveis com o que arrecadam.2
Por que? Porque sempre tiveram regras rígidas de controle. Não precisaram MATAR a associação pra isso.
Basicamente é o seguinte: admitir que não faz o menor sentido um campeonato com 4 meses de duração, disputa apressada, para clubes que vão passar os outros 8 meses sem jogar NADA.
Porque o estadual reúne clubes com calendário lotado, mas também clubes que não tem calendário.
Mas quem vê essa predominância dos dois desde 2016, talvez não tenha a menor ideia da DRAGA vivida pelos dois maiores clubes de Alagoas nos anos anteriores.
Todo mundo sabe da crise monstruosa vivida pelo CSA nos anos 2000. Foi tetracampeão em 1999, vice-campeão da Conmebol pouco antes, e depois quase fecha as portas.
Chegou a jogar até a SEGUNDA DIVISÃO estadual.
Só voltou a ser campeão em 2008.
E depois disso só em 2018.
Agora conquista o terceiro título em 5 disputados.Em 2019 conquistou o primeiro bicampeonato no séc. XXI. Agora volta erguer a taça. Apenas a quinta conquista.
Mas aí que vem, as coisas também não foram tão fáceis assim para o CRB, principalmente por causa forças emergentes.