Quando te falarem que os clubes alemães são empresas, mostre essas fotos.
A única coisa que é empresa é o departamento/sessão de futebol e seus ativos.
E o sócio majoritário da bagaça é a associação. Os donos são esses da foto.
2.
Os clubes alemães são os que tem os melhores resultados financeiros dentre as grandes ligas: contas arrumadas, gastos controlados, dividas compatíveis com o que arrecadam.2
Por que? Porque sempre tiveram regras rígidas de controle. Não precisaram MATAR a associação pra isso.
3.
Pelo contrário: é graças à própria existência de uma associação forte, robusta, participativa e vigilante, que os clubes não seguiram o rumo de espanhóis, italianos, franceses e ingleses: com donos, mas quebrados.
4.
É basicamente por isso que existe a "Lei 50+1" - a que obriga a parte do futebol seguir sob o controle da associação. Não é pra afastar investidor, é pra proteger os clubes. E essa cultura associativa é tão profunda, que poucos são os dispostos a contestar essa lei.
5.
Seria impossível fazer no Brasil? Não. Há clubes que já fazem, inclusive de forma muito organizada e produtiva. Basta sair um pouco do eixo.
E também entender melhor algumas questões específicas sobre o Brasil.
6.
Cada clube desenvolveu, ao longo de sua história, diferentes mecanismos de restrição à associação e à participação. Quando não era pelo custo alto, era por regras estatutárias absurdas, alteradas ao gosto de quem estava no poder.
7.
Apesar de serem grandes clubes de massas, os brasileiros tendem a restringir a participação política aos usuários da antiga sede social do clube - o equipamento de lazer e prática esportiva que servIa aos bairros adjacentes. Nenhuma outra categoria permitia voto.
8.
Ou seja, por mais que o clube tenha esse tamanho por causa do futebol, aquele "sócio-torcedor" (coisa recente) nunca teve direito politico.
Mas o usuário da piscina, que torce pro clube rival, mas é associado ao clube pela conveniência geográfica... Esse tem voto.
9.
Sim, esse modelo restritivo fez com que flamenguistas e vascaínos se associassem ao Fluminense para usufruir da sede das Laranjeiras... E TER DIREITO A VOTO.
Mas o cara que mora no Méier e vai ao Maracanã religiosamente, pagando seu ST, não tinha (isso mudou há pouco no Flu)
10.
E mesmo que fossem todos sócios do clube social, sem poder usufruir das instalações por viver em bairros distantes, esse sócio ainda encontraria muitas barreiras para participar.
Aí entra a questão do Conselho Deliberativo, que cabe debate.
11.
Votar para presidente é algo importante. É apreciar projeto, é validar ou vetar uma gestão que se conclui, é escolher as pessoas mais capacitadas no pleito.
Mas o papel do sócio também é fiscalizar o trabalho da gestão. E a estrutura do Conselho permite isso.
12.
Ainda que o evento oficial de balanço da gestão sejam essas Assembléias Gerais, um conselho deliberativo tem capacidade de dinamizar essa vigilância mais próxima, convocando reuniões extraordinárias para correção de rumos, etc.
13.
Por isso, não confundam o que PODE SER um Conselho Deliberativo, com o que COSTUMA SER um Conselho Deliberativo.
Como disse antes, cada clube inventou suas restrições elitistas e de participação efetiva dos sócios. Um deles é o Chapão.
14.
O Chapão aqui é um termo genérico a algo recorrente nos clubes brasileiros (nem todos): para concorrer a uma vaga no CD, o sócio deve estar inscrito en una chapa imensa (pra lá se 200).
E a chapa vencedora ocupa TODAS as cadeiras do Conselho.
15.
Como são poucos sócios votantes, acaba que OU SÓ existe UMA única chapa, porque ninguém quer perder a chance de estar lá (rola um status), ou a chapa vencedora SEMPRE é ligada à gestão que acabou de ser eleita.
Logo, elege-se um conselho do amém, vinculado à gestão.
16.
O problema se agrava quando existem clubes que criam inúmeras categorías de conselheiros eternos, que não precisam ser eleitos: pode ser conselheiro natos ou conselheiros vitalício.
Podem ser todos os ex-presidentes do clube, do conselho e da Assembleia Geral, por exemplo.
17.
Mas tem clube, como o Cruzeiro, que o conselheiro de mandato eterno é simplesmente nomeado por outros conselheiros de mandato eterno.
Imagine que capacidade de fiscalização um clube com essas duas estruturas viciadas tem? Nada.
18.
Por isso que acho que Conselho Deliberativo pode ser uma instância importante, desde que:
1) Chapas possam se inscrever livremente 2) Tenham composição proporcional ao voto de cada chapa 3) Seja independente da diretoria 4) Forme-se em uma eleição realmente ampla
19.
Portando, se estamos falando que os clubes devem ser associações democráticas, então estamos dizendo que o atual modelo deve ser extirpado urgentemente.
Não queremos defender esses clubes como estão aí. Queremos recriá-los.
Não é fácil, mas é possível.
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Muita participação boa naquela thread sobre estaduais, várias questões pertinentes, mas a "Questão Paulista" me incomodou bastante.
Primeiro porque não dá pra pensar a partir desse oásis chamado São Paulo.
Segundo porque essa coisa do "dá dinheiro aos menores" é um engano.
Começando pelo mais fácil de conversar: o oásis paulista já é conhecido há muito tempo. Questão macroeconômica que espirra no futebol. Estado mais rico, grandes centros do interior, mercado consumidor maior do que muito país sulamericano.
Mas nem tudo é isso.
O campeonato paulista só paga TANTO aos clubes, porque é preciso convencer 4 potência continentais a não deixarem de jogá-lo. O que desliza disso vira renda milionária para os outros 12 clubes (alguns tradicionais, outros nem tão pequenos, mas muitos bem pequenos).
Basicamente é o seguinte: admitir que não faz o menor sentido um campeonato com 4 meses de duração, disputa apressada, para clubes que vão passar os outros 8 meses sem jogar NADA.
Porque o estadual reúne clubes com calendário lotado, mas também clubes que não tem calendário.
Mas quem vê essa predominância dos dois desde 2016, talvez não tenha a menor ideia da DRAGA vivida pelos dois maiores clubes de Alagoas nos anos anteriores.
Todo mundo sabe da crise monstruosa vivida pelo CSA nos anos 2000. Foi tetracampeão em 1999, vice-campeão da Conmebol pouco antes, e depois quase fecha as portas.
Chegou a jogar até a SEGUNDA DIVISÃO estadual.
Só voltou a ser campeão em 2008.
E depois disso só em 2018.
Agora conquista o terceiro título em 5 disputados.Em 2019 conquistou o primeiro bicampeonato no séc. XXI. Agora volta erguer a taça. Apenas a quinta conquista.
Mas aí que vem, as coisas também não foram tão fáceis assim para o CRB, principalmente por causa forças emergentes.