O depoimento da Dra Mayra ontem na CPI me fez pensar como é que pode um ministério basear suas ações e elaboração de um aplicativo em UMA publicação científica.
A qualidade da revista pode falar um pouco de seus artigos.1/
A Cureus é uma revista Open Access, disponibilizando o conteúdo de forma gratuita. Porém, é um negócio e precisa gerar lucro💰. Para isso, cobra dos autores valores diversos dependendo de como o artigo será revisado e publicado. Até aqui, tudo normal. Não existe almoço grátis.2/
O fluxo editorial, desde a submissão online de um manuscrito, requer algumas etapas essenciais. Na admissão, verifica-se se os documentos estão 🆗 e se o conteúdo segue as diretrizes da revista. Depois, o texto é enviado para pares (outros cientistas) para revisão. 3/
O texto revisado é reenviado para os autores p/ correção e novamente devolvidos para o editor, que pode reenviar para os 1os ou submeter a novos revisores para conferência. Após considerar o artigo pronto para publicação, é aceito e passa para as fases de edição de texto. ☑️4/
Todo esse processo demora. Uma boa revista não permite que esse fluxo seja menor que 2 a 3 meses. Em média, 6 meses é um tempo aceitável. Alguns casos chegam a 1 ano…
Quase todos os revisores são voluntários e alterações nos artigos costumam levar semanas para serem efetuadas.5/
O 1º grande problema é o tempo do fluxo editorial. A revista alega ser uma das mais rápidas em publicar, como se isso fosse uma vantagem científica.
O artigo do AndroCOV teve o início e fim da revisão no mesmo dia (03/Jan) e foi publicado 4 dias depois. Realmente um recorde! 6/
Outro problema é que a revista não dispõe de uma cronologia de edições. Não é claro quantos artigos são publicados anualmente. Há um esforço para encobrir esse número.
Mas, vejamos, somente ontem (25/Mai) foram publicados VINTE E DOIS artigos. Outro recorde!! 7/
Após muita paciência de folhear dezenas de páginas de artigos, pude constatar que, só em 2021 a Cureus publicou absurdos 2.827 artigos. O que dá por volta de 565 artigos/mês. É assombroso!!! 😲 8/
Outro indicador de idoneidade de uma revista de acesso aberto é a sua inclusão no DOAJ (Directory of Open Access Journals). Para ser aceito, é preciso cumprir alguns requisitos de ética e fluxo editorial. A Cureus não está indexada lá. 9/
As rápidas revisões são alcançadas pelos métodos de crowdsourcing, em que os revisores são alcançados e forma maciça através de convites de email. Muitos não têm treinamento para revisão e o fazem por voluntarismo e para currículo. A maioria sequer está listada como revisor.11/
Vamos à filosofia da revista: a revisão pós-publicação. Os editores creem que é mais honesto um trabalho passar por escrutínio após ser disponibilizado. A revisão pré-publicação atrasaria a liberação do material e da divulgação do conhecimento. 12/
Problemas com essa revista já foram reportados anteriormente. Sempre a mesma coisa: sem checar plágio, adulteração de texto, revisão ultrarrápida, aceitação quase total dos artigos submetidos… 13/
A revista não usa nenhum tipo de métrica reconhecida para determinar o impacto de seus artigos. Ao contrário, usa um desconhecido e próprio Scholarly Impact Quotient (SIQ), em que os leitores atribuem valores de 0 a 10 para seis itens. Muito esquisito…14/ cureus.com/siq
Para finalizar, o próprio autor reconhece que o artigo carece de validação externa, ou seja, necessitaria de um segundo estudo para confirmar a precisão e acurácia do escore proposto. 15/
Resumindo, o MS do Brasil gerou uma plataforma de diagnóstico apenas clínico para COVID baseada numa publicação única, com revisão questionável, de publicação rápida, sem impacto científico, e sem validação externa dos resultados.
É muito amadorismo? Ou é algo mais? 16/
É importante que os autores escolham bem suas revistas para evitar esses problemas. A iniciativa Think.Check.Submmit @thinkchecksub é algo a ser sempre lembrado. 17/
Preprint sobre o uso de ivermectina pra profilaxia pré exposição em profissionais da saúde na República Dominicana. Trata-se de um acompanhamento retrospectivo de pessoas que voluntariamente tomaram (0,2 mg/kg/semana) ou não a medicação. Segue...
O estudo carrega consigo uma enorme quantidade de vieses de seleção. Os pacientes foram recrutados por somente 1 mês, o que levou a um n pequeno. Também não há estimativa de amostra pra se chegar à uma conclusão do desfecho primário.
O uso de PCR+ como desfecho primário não é clinicamente relevante. Não foi explicado se os indivíduos testaram de rotina ou se só tivessem sintomas. Os desfechos de doença clínica e morte foram secundários.
Testagem na pré-exposição, devido a baixa incidência requer um n alto.