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Jun 21, 2021 18 tweets 9 min read Read on X
🚨Exames de imagem em pessoas que tiveram COVID-19 (comparado com um momento antes da COVID-19) revelam alterações muito significativas em regiões que processam informações como cheiros e gostos no 🧠

Explico nos próximos tuítes 🧶
👥782 participantes cadastrados no 🇬🇧 Biobank COVID-19 ingressaram no estudo. Essas pessoas fizeram exames de imagem antes da pandemia e fizeram um novo exame recentemente. Desses, 394 testaram positivo para COVID-19 entre um exame de imagem e outro
As 394 pessoas recuperadas de COVID-19, e os 388 indivíduos que não tem histórico da doença foram pareados por idade, sexo, etnia e intervalo entre os exames.

Isso significa que eles compararam pessoas que compartilham similaridades nessas variáveis
Nessa tabela, temos mais dados desses pacientes que se recuperaram de COVID-19: origem do diagnóstico, a data do diagnóstico (disponíveis) e a variação em dias antes da realização do 2º exame
Aqui, a diferença dos hospitalizados x não hospitalizados. Vemos que, em geral, os hospitalizados eram mais velhas, com comorbidades como pressão alta, observando-se um número maior de homens.
Nas regiões do hemisfério esquerdo, que compreendem o córtex perirrinal, córtex orbitofrontal e a ínsula superior apresentaram uma grande redução da espessura ou volume da camada de substância cinzenta ao longo do tempo nos 394 participantes recuperados de COVID-19
As análises adicionais no trabalho apontam para o envolvimento de estruturas relacionadas ao processamento da informação do olfato ou cheiros/odores (córtex perirrinal e orbitofrontal)
Além das regiões relacionadas ao processamento de odores (olfato) e gostos (gustação, com o envolvimento da região da ínsula), regiões relacionadas à memória mostraram diferenças entre recuperados de COVID-19 hospitalizados x não hospitalizados, e x grupo controle
Alterações neurológicas ou cognitivas (ex.: prestar atenção, lembrar de coisas recentes...) são vistas em 80% das pessoas que tiveram COVID-19 severa. Ainda, a perda ou alteração do olfato e gustação é visto em mais de 86% de pessoas que tiveram COVID-19 medrxiv.org/content/10.110…
Em outro fio, trazendo outros estudos, expliquei sobre regiões corticais, e nos tuítes seguintes, comentei sobre o envolvimento dessas regiões de processamento:
Muitas hipóteses foram levantadas para entender essa possível predileção do SARS-CoV-2 para o tecido nervoso, e como ele poderia estar entrando no Sistema Nervoso Central (SNC)

Comentei bastante nesse fio:

Várias possíveis "portas de entrada" podem estar sendo usadas pelo vírus, e a presença dessas alterações nessas regiões relacionadas ao olfato podem estar indicando que os neurônios que ficam no bulbo olfatório podem ter envolvimento

Além disso, outras células envolvidas no funcionamento adequado do tecido nervoso também estão envolvidas, demonstrando a importância desse tecido no contexto da COVID-19 e principalmente, na COVID longa ou COVID pós-aguda

Isso pode trazer implicações desde no baixo nível, lá no processamento das informações, até num alto nível, na saúde mental e incidência de transtornos psiquiátricos em pessoas recuperadas de COVID-19

A substância cinzenta é uma porção do tecido nervoso em que vemos uma grande população de neurônios. Já a substância branca, observamos muitas projeções desses neurônios, para conectarem-se a outros neurônios, além de outras células e estruturas
Uma redução na espessura dessa substância pode estar indicando uma possível perda neuronal. E é importante destacar que o SNC é um tecido plástico, capaz de se adaptar e remodelar. Mas esse indicativo já demonstra a pervasividade da COVID-19
E também, adiciona mais um ponto para a questão que devemos estar atentos à COVID longa/COVID pós-aguda, algo que já estamos lidando, e que muitos dos recuperados podem, infelizmente, experienciar

Link do preprint via @dogarrett maravilhosa medrxiv.org/content/10.110…

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Jul 16
É uma questão de tempo até um surto maior ocorrer.

O @CDCgov confirmou, essa semana, 4 casos humanos de gripe aviária (H5N1) no Colorado🇺🇸, com a possibilidade de um 5º caso que ainda será confirmado, após exposição a aves infectadas em granja 🔻
Segundo o @CDCgov "todos os trabalhadores que testaram positivo relataram doença leve. Os trabalhadores relataram conjuntivite e lacrimejamento, além de sintomas mais típicos da gripe, como febre, calafrios, tosse e dor de garganta/coriza"

Porém, H5N1 é um vírus perigoso...
Primeiro, a partir dos dados que temos dos últimos anos, sua letalidade é alta.

Segundo, o H5N1 é capaz de infectar o encéfalo🧠 e parece fazer isso com mais frequência que outros influenza

Read 9 tweets
Jul 11
Gripe aviária: novos dados apontam que o vírus H5N1 responsável pelo surto em bovinos nos EUA apresenta adaptações capazes de facilitar a infecção e transmissão em mamíferos.

Já passou da hora de reconhecermos o crescente risco pra saúde pública dessa doença - fio🔻Image
RESUMO DOS ACHADOS:
1⃣a cepa de H5N1 que infectou bovinos (🐄-H5N1) pode induzir doença grave após ingestão oral ou infecção respiratória;
2⃣em ambos os casos, pode levar à disseminação sistêmica do vírus para diferentes tecidos do corpo
3⃣🐄-H5N1 pode ser transmitido de roedoras lactantes para seus filhotes, mas não para animais adultos com os quais tenham contato direto
4⃣uma possível explicação: em furões, o ➡️🐄-H5N1 não foi capaz de se transmitir de forma eficiente pela via respiratória (gotículas)
Read 20 tweets
Jul 6
Em 2024, o Brasil viu uma epidemia de dengue sem precedentes na sua história. As regiões das Américas concentraram a maioria dos casos, com destaque para o Brasil, com mais de 80% dos casos registrados

O que nos levou a isso? Fio do dia 🔻Image
O dado acima foi compartilhado pelo @ECDC_EU reforçando a grande ameaça à saúde pública que as arboviroses (vírus transmitidos por insetos) trazem, com riscos para grandes epidemias, impactos socioeconômicos e sobre o sistema de saúde

ecdc.europa.eu/en/dengue-mont…
Até abril de 2024, a @WHO registrou mais de 7,6 milhões de casos suspeitos de dengue em todo o mundo, com mais de 3 mil óbitos. Aumento ocorreu especialmente na região das américas (90% dos casos notificados), com destaque para o Brasil (+80% dos casos)
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Jun 25
Vacinas trazem risco pra Alzheimer?

Alegações tem sido feitas por conta de um artigo recente, mas além de o artigo não comprovar a existência do risco, ele também tem tantos fatores de confusão que me surpreende ter sido publicado

Então respira, e vem de fio 🔻 Image
O artigo utilizou dados de mais de 558 mil indivíduos de Seul 🇰🇷, divididos em dois grupos: vacinados e não vacinados

A ideia era analisar se há associação com o comprometimento cognitivo leve, que pode ser visto anterior ao desenvolvimento de demências, como Alzheimer
Os pesquisadores então analisaram os registros entre 2020 e 2021. Importante notar: as campanhas de vacinação em Seul começaram em 2021.

Isso faz com que o número de pessoas com 2 doses seja pequeno, comparado ao tamanho inicial da amostra


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Jun 18
Li e tenho algumas questões importantes:
- Mesmo pessoas fora de grupos prioritários e até mesmo que tiveram Covid-19 leve, podem desenvolver sequelas pós-Covid;
- Sequelas pós-Covid podem ser duradouras, reduzirem a qualidade de vida e trazer riscos à saúde;

Tem mais🔻
Nessa parte de um fio recente, trago alguns dados recentes quanto as informações sobre sequelas pós-Covid. Não só há um risco de morte permanecendo elevado, como há uma perda significativa da saúde como um todo.
Portanto, me preocupa não termos ainda uma construção de políticas públicas para a Covid longa. Sabendo dos seus riscos, da prevalência estimada em outros países, poderíamos já estar ao menos com políticas instituídas para reduzir riscos de contaminação com vírus respiratórios
Read 9 tweets
Jun 6
Se tu passar por manchetes sugerindo que a vacinação contra Covid-19 ajudou a aumentar o excesso de óbitos, saiba que não é o que o estudo original sugere: o excesso de mortes “permanece elevado” APESAR do uso de vacinas (e outras medidas). Sem essas medidas, seria ainda maior🔻
O artigo original está no link abaixo e conclui: "o excesso de mortalidade permaneceu elevado no mundo ocidental durante três anos consecutivos, apesar da implementação de medidas de contenção e das vacinas contra a COVID-19."

bmjpublichealth.bmj.com/content/2/1/e0…
O artigo tem limitações importantes e deixa de lado a quantidade de mortes que foram evitadas graças a vacinação. Ainda, a circulação persistentemente alta do vírus, pelo enfraquecimento das medidas mitigatórias, pode estar por trás desse excesso.
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