Por que os 49ers investiram 3 first round picks em TREY LANCE? - A THREAD.

Segue o fio.
Os 49ers usaram o pick #12 de 2021, além dos 1st round picks em 2022 e 2023 (e um 3rd round em 2022).

O que Kyle Shanahan viu de tão especial em Trey Lance que justificaria esse investimento todo?

Nessa resposta dele no podcast do Tim Kawakami ele deixa bem claro o racional.
Tem muita informação legal nessa resposta. Vamos analisá-la por partes:

Um ponto importante q o Shanahan destacou é que ter um QB pra quem você pode desenhar corridas afeta tanto a defesa q facilita a vida da OL e dos WRs.

Isso é algo que acontece com Lamar Jackson e os Ravens.
Mas o ponto principal é que com um QB que seja uma ameaça de corrida a defesa precisará avançar um safety no box pra defender contra essa possibilidade.

E em termos de ameaça na corrida é raro encontrar um QB com o talento físico do Trey Lance.
Normalmente a imagem que vem à cabeça quando pensamos em corridas desenhadas para QB são as jogadas de Read-Option (Zone Read).
Mas não é só isso.

É uma infinidade de option plays que colocam um stress muito grande na defesa.
Aqui, por exemplo, o ótimo Mark Schofield explica a Counter Bash, uma das jogadas em que o Ravens tiveram mais sucesso em 2020.
É uma jogada que certamente teria grande potencial com Lance e o elenco dos 49ers.
Aqui os Ravens executam a Counter Bash com um Jet Sweep, algo que os 49ers poderiam fazer com Deebo Samuel.
Bom, não há dúvidas que com Trey Lance como QB os 49ers enfrentarão mais defesas com apenas um safety no fundo, como Shanahan disse ser seu objetivo.

Mas mais à frente na entrevista ele deixa claro que isso apenas não basta. É preciso conseguir explorar esses looks favoráveis.
Boa parte do sucesso que o RGIII teve como rookie em 2012 com Shanahan veio não só das jogadas corridas, mas de conseguir explorar os looks favoráveis da secundária para jogadas explosivas.
Como nessa grande atuação contra o rival Dallas Cowboys.
Trey Lance teve seu bons momentos no College em oportunidades de looks favoráveis na secundária, como nessa jogada aqui.

Os 2 safeties estão a apenas 10 jardas da linha de scrimmage e ele aproveita o WR no mano a mano numa rota post com o meio livre.
Mas em geral ele ainda precisa melhorar a precisão nas deep balls.
Como vemos na comparação com outros QBs dessa classe.
E aqui é uma boa hora pra trazer mais um ponto relevante da resposta do Shanahan:
Pra aproveitar o impacto na defesa que a ameaça de designed runs para o QB traz, ele precisa estar em Shotgun ou Pistol, e não Under Center.
Isso é um ponto extremamente relevante já que desde que Shanahan chegou em SF o ataque tem sido extremamente concentrado em snaps Under Center.
Mas em 2020 isso já mudou um pouco.

De 2017 a 2019 foram 67% dos snaps em 1st e 2nd downs Under Center. Já em 2020 o nro caiu pra 51%.
E apesar do Lance ser o QB dessa classe mais acostumado com snaps Under Center, é razoável esperar que esse percentual caia ainda mais, para que o ataque possa explorá-lo melhor como ameaça no jogo corrido.
E com o QB mais vezes em Shotgun e em Pistol, Shanahan tem a possibilidade de utilizar uma tática bastante eficiente para ajudar seu QB a conseguir passes completos mais fáceis: o RPO

Como bem explica aqui, Steve Sarkisian, OC de Alabama em 2019 e 2020.
Shanahan e John Lynch já reconheceram que Trey Lance tem alguns problemas que precisam ser corrigidos na mecânica de passe e que afetam sua precisão.

Um uso maior de RPOs seria uma forma de propiciar ao seu QB mais "bandejas" enquanto ele trabalha pra melhorar sua "bola de 3".
Apesar do RPO ser visto como uma forma de ataque mais simples, para facilitar a vida do QB, isso não quer dizer que não possa ser tb uma estratégia sofisticada.

Jeremy Pruitt, técnico de Tennesse no college de 2018 a 2020, falou aqui dos problemas do RPO de Alabama pras defesas.
Pra entender melhor o que ele está explicando, aqui um exemplo do RPO "tradicional", em que o QB lê o safety no box, e decide se entrega pro RB ou passa pro WR num slant.
E aqui o que ele descreveu.
Como resposta ao RPO as defesas passaram a manter na cobertura o safety do lado pro qual o QB está virado, avançando o safety do lado oposto pra ajudar contra o jogo corrido.
Mas Alabama agregou uma resposta pra isso também.
Veja bem, não é que o RPO já não esteja no playbook do Shanahan.
Os 49ers até usam esporadicamente o RPO, inclusive com Rota Glance, como nesse lance aqui.
Mas é realmente um uso esporádico, entre os 5 times com uso menos frequente da NFL.
(dados de 2020 do Football Outsiders Almanac)
Com o QB mais frequentemente no shotgun Shanahan terá, se quiser, a oportunidade de usar sua criatividade para expandir o repertório de RPOs dos 49ers, assim como Alabama.
O técnico dos 49ers ainda não mencionou nada a esse respeito, é apenas uma "sugestão" minha de um caminho que poderia ser explorado.

Certamente seria uma boa arma para um elenco com tanto talento para conseguir jardas após a recepção.
Mas a grande sacada é que um jogo eficiente de RPO não é só uma forma de conseguir passes completos facilmente e/ou jardas após a recepção.
É uma forma de também obrigar as defesas a reagirem, oferecendo looks favoráveis na secundária.

Como Sarkisian explica.
Aqui a jogada que o Sarkisian mencionou.
Como Sarkisian destacou, ter um amplo esquema de RPO ou um QB como ameaça ao jogo corrido realmente causa uma reação das defesas.

Mas justifica esse investimento todo no Trey Lance?
Ou um comprometimento tão grande no RPO como Alabama?
A grande chave para entender e justificar esses movimentos é a busca dos ataque por jogadas explosivas.

Mais uma vez, Sarkisian explica.
E Shanahan e Sarkisian estão corretos nessa busca obsessiva por jogadas explosivas.

Um estudo dos anos 80 considerou jogadas explosivas como 12 jds pra corrida e 16 jds pro passe.
Uma jogada dessas aumenta em 40% a chance do ataque pontuar numa campanha, e 80% com duas.
Estudos mais recentes atualizaram a definição de jogada explosiva para 16 jds na corrida e 20 jds no passe.
E confirmaram uma correlação grande do sucesso do ataque com a capacidade de gerar jogadas explosivas.
Ok, a importância das big plays é clara.
Mas o quanto é essencial para o ataque influenciar o alinhamento dos safeties pra conseguir isso?
Em 2020 vimos pela primeira vez em uma década as defesas da NFL migrarem de forma consistente de um alinhamento pré-snap de 1 safety no fundo para 2 safety no fundo, com o objetivo de poderem defender melhor contra o passe.
Só pra ficar claro, middle-of-the-field-closed é um safety no fundo. E middle-of-the-field-open são 2 safeties no fundo.
A questão principal aqui é o alinhamento pré-snap, mesmo que depois do snap os safeties façam uma rotação.
O que o Shanahan e o Sarkisian querem com o uso de Running QB e RPOs é forçar a defesa ao look com 1 safety só no fundo. Ou, se forem 2 safeties, ao menos que eles tenham que estar bem avançados, como no exemplo que mostrei do Trey Lance.
Essa mudança das defesas em direção ao alinhamento com 2 safeties no fundo deve acelerar muito em 2021 graças ao sucesso da defesa dos Los Angeles Rams de Brandon Staley em 2020, que foi uma das melhores dos últimos anos em eliminar as jogadas explosivas de passe.
Mas apesar do incrível sucesso contra o passe, o que realmente chamou a atenção da NFL foi o sucesso dos Rams contra o jogo corrido:

Top 5 tanto em DVOA quanto em EPA/play.
Até então o consenso geral era que alinhar com 2 safeties no fundo traria o efeito colateral de obrigar a defesa a ter um box muito leve e assim vulnerável contra corridas.

Mas os Rams provaram que mesmo com um box leve é possível parar o ataque pelo chão.
Apesar de ter alcançado seu ponto mais alto com os Rams e Brandon Staley, essa revolução começou com o sucesso das defesas de Vic Fangio (de quem Staley foi assistente) em Chicago e depois em Denver.
A tendência agora é que essa filosofia se espalhe rapidamente pela NFL.

Staley foi pros Chargers. Seu assistente, Joe Barry, é o novo DC em GB.
Sean Desay, ex-assistente do Fangio em CHI, foi promovido a DC dos Bears.

E vários outros técnicos tentarão emular o sucesso dos Rams
E Shanahan está bastante ciente desse movimento.
Até porque os 49ers foram um dos times que mais utilizaram Quarters, ou cover 4, em 2020.

Ou até o que mais usou, dependendo da fonte dos dados.
Resumo da ópera: a crença de que um bom jogo corrido seria o suficiente pra forçar a defesa a avançar um safety pro box caiu por terra.

Agora pra conseguir um look favorável na secundária os ataques precisarão apresentar algo mais:
Seja um Running QB, seja um RPO diversificado.
E Running QBs com qualidade para serem acima da média também operando do pocket não crescem em árvores.

Shanahan acredita que encontrou o seu.
E é por isso, senhoras e senhores, que os 49ers investiram 3 first round picks em Trey Lance.
Eu pretendia abordar também outros times com jovens QBs que poderiam adotar essa mesma estratégia de apostar em Running QB e/ou RPO diversificado já em 2021.

Mas como a thread ficou gigante esses outros times vão ficar pra uma(s) thread(s) a parte.
@readwiseio save thread

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19 Jun
GREATEST SHOW ON TURF - A THREAD.

Qual foi a jogada mais marcante de um dos maiores ataques que a NFL já conheceu?
Nas 3 temporadas de 1999 a 2001 o St Louis Rams foi o líder da NFL em:
- Total de jardas
- Jardas de passe
- Jardas de passe por tentativa
- Passes para TD

E o QB Kurt Warner foi MVP da liga em 99 e 01, os 2 anos que o time chegou ao Super Bowl, vencendo em 1999.
Uma máquina.
Numa entrevista para o Coach Vass, Kurt Warner foi perguntado sobre qual teria sido a jogada mais influente do Greatest Show on Turf.
A jogada que ele vê até hoje sendo executada na NFL por outros times.

A resposta dele foi sem hesitação: 525 F Post
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8 Feb
🚨🚨🚨THREAD sobre o Super Bowl 55

Como Tom Brady chegou ao 7º titulo e Tampa Bay se tornou o primeiro campeão a jogar a decisão em seu próprio estádio.
Nas threads que fiz ao longo da semana analisei as estratégias que as duas defesas utilizam para gerar pressão no QB.
E, como esperado, esse fator mostrou-se decisivo para o resultado.

Link das threads:
Mahomes foi o QB mais pressionado da história do Super Bowl, e embora em alguns lances ele tenha sua parcela de culpa por ter segurado demais a bola, em mais de 40% das jogadas a OL não conseguiu sustentar a proteção por ao menos 2,5 segundos.

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5 Feb
Já diz o ditado: nenhum passe pode ser completado se o QB estiver no chão.

Então é hora de falarmos sobre Pass Rush no Super Bowl 55.

Hoje a parte 2, com o Kansas City Chiefs.

Segue o fio... Image
Se você perdeu a parte 1 com os Buccs, está aqui o link:
Steve Spagnuolo, DC dos Chiefs, adora utilizar blitz.

Na temporada 2020 BUF foi um dos melhores times contra a blitz, com o 3º maior EPA/play da NFL.

Mesmo assim, no confronto entre os times na semana 6 KC mandou a blitz em 50% das jogadas de passe.
E tiveram grande sucesso. Image
Read 11 tweets

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