Bom dia. Farei um fio sobre a calamidade em que grande parte de nossas crianças e adolescentes estão vivendo nesses 17 meses de pandemia em que estamos atolados na pandemia. Há algo tenebroso que não está chegando à tona. Lá vai.
1) numa cidade em que nossa equipe do Instituto Cultiva está atuando, analisamos nos últimos dez dias diversos dados coletados junto às famílias dos estudantes da rede pública de ensino. Os dados foram nos sufocando, dada a precariedade e urgências encontradas.
2) Antes, um dado sobre professores. Realizamos várias pesquisas junto ao corpo docente de vários Institutos Federais. Trata-se de uma amostra de um segmento específico. Contudo, pode significar uma tendência. Metade dos professores têm filhos em casa em idade escolar.
3) Os filhos dos professores, assim como eles próprios, estão estudando remotamente, já que as aulas presenciais foram suspensas. Os pais afirmam que dedicam um mínimo de 5 horas diárias para cuidar dos filhos. E, assim, a residência se confunde com local de trabalho e lar
4) O casal de pais (ou responsáveis) divide tarefas domésticas, cuidado com os filhos, planejamento de suas aulas e execução das aulas remotas. O dia de 24 horas não é o bastante. Resultado: 41% afirmam que os conflitos familiares aumentaram durante a pandemia.
5) A situação é ainda mais grave porque, segundo o IBGE, as mães nunca dedicam menos de 30% de seu tempo semanal para os afazeres domésticos e o cuidado com sua família. Já nós, pais, nunca dedicamos mais que 15% do nosso tempo semanal para as mesmas tarefas.
6) Então, o clima familiar para crianças e adolescentes está pesado em quase metade dos lares brasileiros. Mas, imaginem uma família monoparental, onde um dos pais residem com seus filhos. A mãe está sobrecarregada, perdeu renda durante a pandemia.
7) O que estamos observando é que grande parte dos estudantes com queda brusca de aprendizagem ou total ausência de contato com a escola durante este período pandêmico vive situações assim: pais com saúde mental abalada, mães sobrecarregadas, renda familiar em queda, abandono
8) Crianças ficam sozinhas em sua residência ou ficam o dia todo nas ruas. Em alguns casos, são cuidadas por irmãos mais velhos ou por vizinhos. Muitos pais entregando seus filhos às avós. Muitos registros de fome.
9) Pior: grande parte das crianças e adolescentes que se encontram nesta situação não sabem (eles e seus pais ou responsáveis), se retornarão à escola com a volta às aulas presenciais. Há dois motivos para esta dúvida que envolve 30% dos adolescentes e jovens entre 15 a 29 anos
10) O primeiro motivo é a complementação de renda familiar: o trabalho infanto-juvenil explodiu no Brasil no último ano. Estamos voltando ao século XIX. O outro motivo é a frustração com a postura fria que as escolas adotaram durante o período pandêmico.
11) Noss@s alun@s desejavam que a escola fossem seu porto-seguro. No último ano, esperavam que as suas escolas dessem suporte emocional. Não queriam aprender conteúdos novos. Queriam cuidado, acolhida. E não foi isso que receberam.
12) A frieza e objetividade cartesiana de nosso sistema de ensino se choca com a realidade de precariedade e abandono que parte de nossas crianças e adolescentes estão vivenciando. Uma parte que se declara majoritariamente parda ou negra, pobre, sem segurança alimentar.
13) Enfim, estamos dando passos largos para o passado, para o atraso, para a decomposição da identidade nacional, da crença na sociedade. Estamos plantando as condições para uma imensa evasão escolar, para o aumento do trabalho infanto-juvenil.
14) Há quem se preocupe com o atraso acadêmico de nossas crianças e adolescentes. Essa gente está distante das ruas e de suas vidas. Desconhecem o seu cotidiano. Nossas crianças e adolescentes vivem num mundo inóspito, muitos não vislumbram um futuro Este é o ponto. (FIM)
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Bom dia. Comecei a ler comentários de analistas europeus sobre a morte de Mujica e um analista atraiu minha atenção: Daniel Oliveira. Daniel é colunista do jornal português Expresso e um famoso blogueiro. Este é o fio.
1) No seu comentário, diz ter inveja "da liberdade conquistada pelo despojamento do que da lamentável solidão e do risível exibicionismo de Musk. A redução da política à tecnocracia destruiu a sua função inspiradora e profética, sem a qual é gestão.”
2) Nesses dias, Mujica foi quase uma unanimidade, com exceção dos sempre chatos e mal-amados bolsonaristas, uníssonos em seus comentários sem alma ou cérebro.
Bom dia. Venho sugerindo que a ampla coalizão montada por Lula não tem validade política. Como aliança eleitoral, teria sentido. Porém, como governabilidade, vem se revelando um desastre. Desastre objetivado ontem, com a recusa do Ministério do Turismo por Pedro Lucas.
1) A recusa pelo aliado do presidente do União Brasil revela mais do que o tornozelo. Faz parte do pêndulo do poder entre Alcolumbre e Antonio de Rueda . Alcolumbre se adiantou e afirmou que indicará um novo nome para a pasta.
2) De um lado, Davi Alcolumbre vem acumulando divergências com outros integrantes da cúpula do União Brasil a respeito da participação do partido no governo Lula e dos rumos que a legenda deve tomar na eleição de 2026.
Bom dia. Com o falecimento de Papa Francisco, não tive ânimo ou coragem para escrever sobre Tiradentes, motivo do feriado da segunda-feira. Agora, retomo o fio. Lá vai:
1) A homenagem a Tiradentes tem relação com a origem do mito: a formação da alma brasileira. Este é o nome do livro mais instigante e revelador sobre como Tiradentes foi usado e abusado na disputa entre duas correntes militares: os deodoristas e os florianistas.
2) O livro relata como as duas correntes disputavam e manipulavam a opinião pública para construir um ícone da república – e, portanto, da nação – brasileira. Os seguidores de Deodoro da Fonseca desejavam uma figura mais agressiva, bélica e impositiva.
Bom dia. Saiu nova pesquisa Datafolha que registra avaliação dos brasileiros sobre o governo federal. Na aparência, uma notícia melhor que a pesquisa Quaest apresentou dias atrás. Na aparência. Vamos à pesquisa.
1) Se compararmos com o dado da Quaest, há uma diferença: 5 pontos percentuais de melhoria do índice de avaliação positiva. Esses 5 p.p. fazem uma grande diferença porque, sem esta mudança, a distância entre avaliações positivas e negativas seria similar entre Quaest e Datafolha.
2) Na comparação: a pesquisa Quaest apresentou 56% de desaprovação e a Datafolha, 38%; já os que aprovam foram 41% na Quaest e 29% na Datafolha. A primeira notícia ruim é que em ambas pesquisas, a reprovação é maior que a aprovação: 9 p.p. na Datafolha e 15 p.p. na Quaest.
Bom dia. No dia 1 de abril de 1964, o Brasil mergulhava numa ditadura. O fio de hoje é dedicado a explicar em que aquela ditadura se diferenciaria da que Bolsonaro tentou implantar
1) O bolsonarismo é fascista. A ditadura militar de 64 era autoritária. Qual a diferença? Autoritarismo não mobiliza socialmente e tolera certa competição política tutelada
2) A partir de 1964, ninguém podia sair às ruas em grupos de mais de três pessoas. Se saísse, logo aparecia um meganha ditando o conhecido "Circulando!". Isso, se fosse um policial pacato.
Bom dia. Prometi um fio sobre machismo e esquerda. Então, lá vai fio:
1) Vamos começar pelo básico: não existe esquerda machista ou racista. Se é machista, não é esquerda. Por qual motivo? Justamente porque a definição de esquerda é a defesa da igualdade social. Ora, machismo se define pela desigualdade entre gêneros.
2) Neste caso, piadinhas sexistas, indiretas, definição de trabalho em função do sexo ou sexualidade, assédio ou abuso sexual não fazem parte do ethos da esquerda.