Thread by @mafolly

Tive um ex professor que mentia compulsoriamente. Inventava viagens de campo e prometia que levaria os alunos mais dedicados do grupo do estudo que criaria para o Oriente Médio. Inclusive pegava fotos da região no Google e fingia que era ele e que ele estava lá.

(Continua)

Uma vez, por exemplo, postou uma foto de um menino segurando um balão e inseriu a tag de localização “Cabul”, Afeganistão. Mas os alunos descobriram que a foto era de um fotógrafo premiado e o menino da foto estava no PAQUISTÃO.

Essa é só uma das milhares de mentira que contava sobre os “trabalhos de campo”, que só tinham foto de 3os. A sua própria tese de doutorado começa com uma história bizarra dele em um helicóptero, se não me engano da Cruz vermelha, que teve que fazer um giro 180 graus p/pousar.

Vi várias alunos (e sobretudo alunas) caírem na mentira dele. Teve gente cogitando tirar passaporte ou abandonar estágio para entrar para o tal grupo de estudos que daria viagem para o Catar, que nunca aconteceu.

E apesar de várias pessoas terem o denunciado e falado publicamente sobre isso, ele continua dando entrevistas para canais como a Globonews, comentando a situação atual do Afeganistão, por exemplo.

Privilégios de homens brancos nesse Brasil.

A tese dele também dizia que havia conduzido entrevistas em árabe em um dos países do Oriente Médio (já não lembro qual), mas árabe não era nem língua oficial de tal país. Também rolou aula cancelada por cirurgia de emergência na “Suíça” bancada pela Cruz Vermelha e coisas assim

O Lattes dele também tinha várias informações que não se conseguia confirmar em domínio público (tipo, ele era parte de grupo de especialistas da ONU sobre mercenários, comissário da Cruz Vermelha etc). Depois que os alunos foram desconfiando o Lattes foi alterado.

Me lembraram aqui de uma vez que ele mandou mensagens (sim ele se comunicava bastante com alunos por WhatsApp) dizendo que estava em uma festa no Consulado do Catar. Mas ao menos na época não existia consulado do Catar no Rio… Aliás acho que só tinha a Embaixada em BSB mesmo.

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https://twitter.com/MoniqueSochacz/status/1428760005856071687?s=20

E acabei de notar graças a
@bush_pai que escrevi COMPULSORIAMENTE ao invés de COMPULSIVAMENTE. Perdão, de compulsórias as mentiras não tinham nada 😂

E sobre o porquê de falar após tanto tempo, acho importante o debate. Além das credenciais acadêmicas muito questionáveis (todas de domínio público), vi pessoas próximas impactadas, muitas tinham admiração pela imagem que ele construiu dele mesmo. Quando o vejo na TV penso nelas.

Sobre a dissertação de mestrado dele 👇🏼

Uma vez cheguei a pedir para ele diretamente a versão original, caso fosse um erro. Ele desconversou, desconversou, recomendou livros sobre o assunto etc, nada da dissertação.

https://twitter.com/mafolly/status/1159994041011986432

Algumas das mentiras iam mais no sentido da auto-promoção. Dizia que conhecia X e Y pessoas (relativamente renomadas) e dizia aos alunos que ia apresentá-los. A maioria ficava muito impressionada. As aulas dele bombavam. Mas tinham umas coisas mais sem sentido…

Por exemplo, ele postou nas redes (ele bombava nas redes também) que tinha visto refugiados sírios que trabalhavam na Casa do Alemão na Serra do Rio com camisa do Molejo. Alguém ligou lá na Casa do Alemão e eles não tinham nenhum refugiado trabalhando lá 🤔

Uma correção. Os comentários recentes analisando a situação do Afeganistão foram veiculados no Fantástico e não na GloboNews, onde até onde soube ele não tem aparecido há tempos.

Teve uma vez que ele postou no Facebook que foi inspecionado no aeroporto de Beirute (duas vezes), ao chegar lá.

A foto usada no post que menciona o episódio está abaixo. Curiosamente essa mesma foto podia ser facilmente encontrada no Google 🤔

#verdadeoumentira

Também testemunhei ele contar essa história bem lembrada pelo @othiagomattos sobre “a tática” das mulheres da Cruz Vermelha para se protegerem do Talibã

https://twitter.com/othiagomattos/status/1428945487814483968

Muita gente me cobrando por não ter citado o nome. Entendo. Só queria que soubessem que quando essa pessoa foi denunciada pela primeira vez, poucos levaram a sério. No geral, a história foi classificada como “mulheres invejosas”. (Continua)

Ao mesmo tempo, alunas afetadas de maneira muito mais séria do que eu narrei aqui vieram me agradecer por ter falado do assunto publicamente. As evidências e testemunhas são tantas que não preciso citar nomes e ser desclassificada por isso. Agradeço aos que tenham o feito por mim

Chegou até a mim que o professor em questão foi desconvidado de evento da PUC-Rio sobre Afeganistão. De fato, a nova programação não mais exibe o nome dele. Mas se houve mesmo a substituição, seria importante que os organizadores se manifestassem explicando o porquê da mudança.

Porque de nada adianta a gente denunciar individualmente se, institucionalmente, ele ainda for protegido. Não sei se é o caso no episódio em questão. Mas convidar para palestrar em evento, para fazer comentários na TV etc, é naturalizar o comportamento que afetou a tantos.