Thread by @AntonioCaetano_

1) Vi o trailer do filme “Nem Tudo se Desfaz”.
É interessante que ele me parece supor uma visão de individuo que é exatamente aquela que o Adam Curtis critica em seus documentários: aquela que reduz o individuo a um ente quase-irracional, incapaz de lidar com a realidade.

2) Pelo menos a frase inicial - de um mau gosto grandiloquente - denota isso: "O que o homem mais teme é o contato com o desconhecido".

3) A rigor, a frase não quer dizer nada, mas supõe um ser humano permanentemente atravessado pelo medo porque sua consciência não ser capaz de dar conta da realidade, isto é, de tornar conhecido o desconhecido.

4) Um ser humano desprovido de curiosidade, traço principal da inteligência, e submerso em medos e superstições.
É uma afirmação "psicológica" da qual o filme pretende tirar, suponho, conclusões e consequências sociológicas e políticas.

5) Obviamente essa abordagem supõe a existência - seja, por graça, merecimento cármico ou acaso genético - de uma elite capaz de ver além, munida dos "óculos da verdade" que só a combinação do dom natural com a filosofia adequada é capaz de produzir.

6) Por isso o apego dessa galera ao guia, ao guru, a uma suposta tradição que vai olhar para o sujeito, até então um reles mortal, um tanto inadequado talvez, e dizer "ecce homo" - e iniciá-lo na Verdade.

Essa é a trajetória de todos os olavetes ao final.
E isso é a gnose.

7) Enfim, é só a impressão inicial. Espero que tudo se desfaça depois de ver o filme.