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12 Oct, 12 tweets, 2 min read
Fazer um fio aqui pra você que sonha em conhecer Fernando de Noronha.

Essa ilha paradisíaca que se tornou um dos principais destinos de férias do país tem um contraste social que precisa ser apontado para reflexão.
Muito se fala sobre os elevados preços praticados na ilha, mas pouco se fala dos motivos. Apesar de estar a três dias de barco da costa, não é a distância que encarece Noronha, e sim a forma como o transporte de mercadorias é feito.
Uma espécie de monopólio desse trajeto adiciona um valor alto por quilo de todos os produtos que entram na ilha, seja um kg de arroz, uma cartela de ovos ou água mineral, a resultante disso é o encarecimento de todos os custos, impactando diretamente na vida dos moradores.
Procê ter uma ideia, uma cartela de ovos na ilha chega a custar 30 merréis, um sabonete custa quatro conto, um kg de feijão 14 pratas, um botijão de gás eu nem te conto. Diante disso, a manutenção da força de trabalho da ilha é feita com salários mais altos do que no continente
porém insuficiente para ter uma qualidade de vida razoável diante dos preços tão altos de produtos básicos. Não obstante, pela escassez de moradias, é comum trabalhadores não residentes se apertarem em quartos pequenos pagando a bagatela de três mil por mês.
Na minha segunda ida à ilha passei boa parte do tempo conversando com trabalhadores locais para entender mais sobre a dinâmica econômica desse paraíso, que para nós, trabalhadores mortais, contamos com o rigor das leis, mas aos grandes empresários, as benesses.
E quando eu digo benesses, são benesses mesmo. Enquanto pequenos empresários locais tentam sobreviver às rigorosas - e necessárias - leis de adequação, um grupo econômico ganha licenças à revelia para construir no alto das praias ou fazer festas enormes na pandemia. É foda.
Mas isso é só mais um dia comum num sistema capitalista de compadrio, não é mesmo? Fato é que existe uma Fernando de Noronha para além das fotos instagramaveis nos restaurantes de luxo com looks exuberantes e cafonas.
Existe sim, uma Noronha suprimida pelos algoritmos mas que está lá, firme e forte, se alimentando dos pratos feitos por moradores locais que tentam subsistir frente ao turismo predatório e suntuoso.
Uma Noronha mais acessível que desce a vila dos remédios de chinelo para a praia da Conceição com seus coolers de cerveja compradas no botequim do Seu Zé, uma Noronha que assiste o mesmo lindo pôr do sol que aqueles que pagam uma baba por uma mesinha no Bar do Meio.
Compreender que Fernando de Noronha é um paraíso a ser preservado é um ponto importante, mas mais importante do que isso é se atentar para o consumo consciente, de baixo custo, que fomenta os pequenos negócios de trabalhadores verdadeiramente preocupados com o bem estar.
Para o pós pandemia, priorizem os pequenos negócios de Noronha, tem uns grupos econômicos fazendo figa para a falência desses.

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12 Oct
Temos que tomar muito cuidado com esse lance de achar que disputar “as ruas” é o único caminho possível. Se sairmos da bolha por um minuto veremos que a verdadeira disputa deveria estar acontecendo dentro de empresas que cada vez mais são ocupadas por gestores

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formados dentro de escolas de negócios Brasil a dentro. Escolas de negócios essas que focam apenas a maximização do lucro em detrimento do trabalhador com técnicas de manipulação - chamadas de “melhores práticas” - que anestesiam o trabalhador enquanto esse se submete

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26 Sep
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- Porra, carão! Mas vou te dar uma moral.

E o menor, de forma magistral, respondeu assim:

- Me dar moral? Tá me dando moral nenhuma não, tio. Tu vai comprar porque tá com fome e meu produto é bom po.
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E é isso, as vezes falamos certas coisas que nos colocam numa falsa posição de superioridade e nem percebemos que nós somos os necessitados.
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23 Sep
Quando eu servi o exército tinha um garoto na minha turma que era muito fraco, preguiçoso, muito mesmo. Era o famoso acochambrado. Imaginem uma pessoa fraca, preguiçosa, indiferente com o coletivo, então, era ele.

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Todos se matando carregando peso, limpando, varrendo, sangrando e ele era incapaz de ajudar, mesmo tendo a obrigação de fazê-lo. Com o tempo isso foi me desgastando de uma tal forma que eu fui perdendo a paciência.

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Com 19 anos, testosterona a flor da pele, passando 15 horas por dia dentro de um ambiente insalubre e hostil, a violência se torna a única linguagem possível, mesmo para mim, um entusiasta da diplomacia e pacifista de berço.

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18 Sep 20
Eu passo o dia inteiro rebatendo antipetistas na internet. Ontem, falando sobre as reservas internacionais que o PT deixou, um cara alegou:

- De que adianta se roubou vinte vezes esse valor?

- Oi?

- PT roubou 20 vezes o valor das reservas!

Não aguentei, fui calcular.
380 bilhões de dólares foi a reserva deixada pelo PT.

20 vezes esse valor daria 7 TRILHÕES de dólares.

Covertendo: 38 TRILHÕES de reais.

O Nosso produto interno bruto, que é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos NO PAÍS no ANO, em 2019, foi de 7,3 TRILHÕES
É isso mesmo. Na cabeça de alguns trabalhadores brasileiros, realmente está incutida a ideia que o PT pegou um montante de dinheiro que equivale cinco vezes o nosso PIB e colocou no bolso. E não tem ninguém pra elucidar nossa sociedade. Falhamos.
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16 Sep 20
Afinal, quem é o “pobre de direita”?

Inicio essa leitura aos meus 10 anos. Meu pai tinha acabado de pegar o Bar. Trabalhava durante o dia e eu e minha mãe íamos pra Central do Brasil todos os dias fazer compras de ônibus.
Carregávamos bolsas e mais bolsas de compras, muitas vezes não tínhamos nem o dinheiro da Kombi para subir o morro, era a pé, nas canelas.
Arrumando os biscoitos fofura na prateleira, sem querer esbarrei numa haste de metal enferrujada que fez o saco abrir e perdemos um pacote, para o nosso desespero. À época? Cada centavo era importante.
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28 May 20
Vocês lembram de quando diziam que pobre fazia filhos pra viver de bolsa família? Que ódio da esquerda.

E de quantas histórias circularam pela internet de empresários que tiveram que fechar suas empresas porque ninguém queria trabalhar, já que todos ganhavam bolsa família?
Nossa, em 2013 o que mais tinha eram notícias falsas sobre o MST. Falaram que o Stédile usava um Rolex de um milhão de reais, falaram que ele invadia e matava fazendeiros. Lembram? Mais ódio da esquerda
E o Jean Willys? Quantas fakes relacionadas e ele circularam? Disseram até que o cara queria alterar um texto da Bíblia pra incluir homossexuais. ESQUERDA ASQUEROSA.

Porra, lembram do auxílio reclusão? Que era amplamente compartilhado como se o PT sustentasse bandidos.
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