Vamos imaginar uma situação hipotética. Temos uma cidade que é abastecida de alimentos apenas por uma estrada. Essa estrada é atingida por uma grande inundação e o governo decide não fazer nada, para matar de fome as pessoas da cidade. A cidade vai passar fome?

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Claro que sim, mas não de forma igual. Imagine que as pessoas ricas da cidade vão poder pagar abastecimento de alimentos via helicópteros e aviões monomotores. Em paralelo, vão ter seguranças para evitar ataques e saques. Depois de um mês sem abastecimento, qual o cenário?

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mortes e fome. Mas a morte e a fome, embora afete toda cidade, não vai afetar todos da mesma forma. Pessoas pobres, sem recursos, em situação mais precária, vão morrer mais. Pessoas de classe média menos que as pobres e pessoas ricas menos que todas as outras classes.

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Frente a esse cenário, chega alguém e diz: não é possível falar de genocídio, já que o governo não quis matar apenas o grupo social das classes baixas, afetando toda cidade. No mundo dividido em classes, com poder econômico diferenciado, nenhuma tragédia é igual para todos

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É óbvio que numa situação como usar a pandemia como arma de morte em massa, teremos vítimas em todas as classes e grupos sociais e é óbvio também que a maioria das mortes vão ser de pobres, negros e povos tradicionais. De verdade, qual é a surpresa?

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Isso tipo de argumento é tão cretino - não é genocídio porque não é possível dizer que a intenção era só matar preto e pobre - que, levado ao limite, nunca existiu um genocídio no mundo. Em todo episódio de genocídio, os ricos do grupo oprimido se salvaram mais.

+
É como dizer que não existe racismo no Brasil e ou barreiras raciais para ascensão social, já que temos negros e negras na classe média e ricos. Não faz sentido nenhum. Parte de uma premissa idealista e chega a uma conclusão cínica.

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18 Oct
A ativista Greta Thunberg, por convicção ideológica ou mero navegar na onda anti-China, disse que o presidente Xi é “líder de uma ditadura” e completou: "a democracia é a única solução para a crise climática”. Gostaria de expor duas questões sobre essa declaração.

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Greta, espero que você não considere democrático invadir outros países, praticar golpes de estado, mudanças de regime, bloqueios e sanções econômicas, financiar grupos, praticar assassinatos políticos e manter o maior aparato de guerra da história humana ameaçando todo globo

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Imagino, Greta, que você deve considerar desumano, cruel e inaceitável DURANTE A PANDEMIA aumentar os bloqueios e sanções econômicas contra país, usando o vírus como uma arma biológica contra os povos. É isso que os EUA estão fazendo contra Cuba, Irã, Síria, Líbano etc.

+
Read 18 tweets
16 Oct
O Brasil tá uma merda, quase dois anos de pandemia, muita gente perdeu entes queridos etc. Tento processar isso para entender certas frustrações e ataques pessoais que recebo. Aliás, racionalizar isso é uma forma até positiva de pensar a coisa. Hoje mesmo, por exemplo, rolou +
algo engraçado. Publiquei mais cedo um texto do dia do professor falando que a educação não é libertadora. Nos compartilhamentos com comentários te gente mandando "tomar no cu" (??), falando do meu corpo e de academia (??), mando eu me "fuder" (?), dizendo que sou burro (?)

+
Não teve um para escrever, argumentar, discordar da ideia de maneira fundamentada, citar um autor, livro, artigo, conceito. Nada. Absolutamente não. É só uma espécie de frustração, raiva. Não é nem arrogância. É outra coisa. É um tipo de frustração querendo sair.

+
Read 6 tweets
15 Oct
A educação não vai salvar o mundo

Também não é libertadora
Também não garante igualdade de oportunidades
E muito menos vai tirar o país do atoleiro do subdesenvolvimento e da dependência

+
A educação é burguesa, racista, colonizada, opressiva e tecnicista, mas, ao mesmo tempo, é um campo de disputa aberto; uma das poucas áreas da divisão social do trabalho onde o explorado (professor) tem uma margem de manobra maior na execução do seu trabalho e, é claro,

+
ainda tem papel central na formação das consciências e subjetividade das maiorias. Nesse momento de ofensiva burguesa contra a educação, e especialmente nesse dia do professor, reafirmo o que digo todos os anos: precisamos de um projeto radical de defesa da educação pública,

+
Read 5 tweets
12 Oct
Vovô não era nazista - versão brasileira

Na Alemanha Ocidental no pós-Segunda Guerra, tinha uma piada falando que "vovô não era nazista". A piada ironizava um tipo de memória social onde o nazista era só o Outro, alguém estranho ao corpo social, quase um extraterreste

+
A ironia era uma crítica a ocultação da ligação orgânica entre nazismo e sociedade alemã. Parecia que um belo dia, Hitler e seus amigos, sozinhos, subjugaram toda sociedade, enganaram todos, dominaram todos, todos foram vítimas de Hitler

+
Essa narrativa, é claro, esconde o sucesso pré-nazista na cultura alemã (europeia e ocidental de forma mais geral) de teorias racistas e eugênicas, clamores imperialistas, a legitimidade de práticas antissemitas, os interesses econômicos e políticos em jogo

+
Read 12 tweets
11 Oct
sobre o marxismo ocidental

O debate sobre o marxismo ocidental enquanto uma conformação específica do marxismo é longo, antigo, com vastíssima produção e bem fundamentado. Não é caricatura de internet. Envolve Perry Anderson, Merleau-Ponty, Losurdo, Marcuse, Sartre etc.

+
Na leitura de Domenico Losurdo, a conformação específica do marxismo ocidental é produto de condições materiais, políticas, geopolíticas e ideológicas específicas. Me parece óbvio que o marxismo de um país central do capitalismo não será igual a de uma colônia

+
A realidade concreta da luta de classes na China era bem diferente que na França. O argumento de Losurdo é que o marxismo produzido na Europa Ocidental teve dificuldades de entender a configuração específica da luta de classes nas colônias, semicolônias e países dependentes

+
Read 10 tweets
11 Oct
Quando alguém fala "era um homem do seu tempo" para justificar algo, é preciso cuidado nesse argumento. Por exemplo, os jacobinos aboliram a escravidão nas colônias. Depois ela foi restabelecida. Os defensores da escravidão no período pós-jacobino não era "homens do seu tempo" +
que não tinham ainda entendido a ideia de abolição, mas defensores da escravidão, homens escravagistas que conseguiram vencer e restabelecer a escravidão. Apelar para um suposto "espírito do tempo" para justificar isso, só nega o conflito e as posições políticas em jogo

+
Aliás, ainda ficando nesse exemplo, desde o século XVI tínhamos abolicionistas! Se o abolicionismo só ganhou força hegemônica no século XIX, não dá para dizer que todos no século XVIII eram inocentes que só defendiam as "ideias do seu tempo", como se fosse tudo uniforme.

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